Maria Fernanda 06/07/2016Onisciência = BagunçaA premissa é no mínimo inusitada: um adolescente (Ian) vê em um reality show para jovens futuros pais a oportunidade perfeita para melhorar sua condição financeira. Mas ele precisa de uma "mãe" para o seu "filho", né? É aí que Ian decide arrastar uma colega (Emília) de classe, com quem mal troca uma palavra, para essa loucura.
Já fica bem claro que o Ian é doido, pirado, sem noção. (Risos.) E a Emília não fica muito atrás, não! Só o fato de que eles decidiram ir em frente com a mentira evidencia a falta de juízo dos personagens. Somando isso à escrita descontraída, temos uma leitura divertida que provoca boas risadas. E, também, que traz à tona, ainda que de forma deveras tímida, temas pertinentes como gravidez na adolescência, estupro e aborto.
Porém, depois da metade, o livro começou a ficar sem atrativo para mim. O narrador onisciente foi a desgraça do autor: ele deu voz de consciência a TODOS os personagens, deixando os acontecimentos 99,9% previsíveis. Sem brincadeira, gente, me deu agonia! Ele foi muitíssimo infeliz nessa escolha.
Outras coisas que me desagradaram foram: a ridícula sequência de coisas ruins lá para o final, uma atrás da outra (seria cômico se não fosse trágico); personagens caídos de paraquedas na história; reações vazias frente a revelações que deviam causar conflitos; dinâmica fraca no núcleo do reality show, etc.
Além do mais, eu não senti a menor proximidade com nenhum dos personagens. Achei-os todos excessivamente caricatos, para não dizer forçados.
Contudo, apesar dos pesares, na minha opinião, Azeitona é um bom livro de estreia e os defeitos, que dependem do referencial adotado, são apenas problemas que poderão ser corrigidos em trabalhos futuros do Bruno. Porque potencial ele tem.