Maria - Blog Pétalas de Liberdade 01/06/2016Resenha para o blog Pétalas de Liberdade (acesse pelo link aí no final para ver fotos de detalhes da edição) Era uma vez um sapo falante e de três pernas que morava num poço com salamandras, ele se chamava Sapo e gostava de olhar para o céu. Um dia ele encontrou uma princesa chamada Jill, ela estava indo ao encontro do primo, após fugir do castelo depois de ser humilhada. Jill tinha a mãe mais linda do mundo, mas todo o seu ser se resumia em ser bela, não sobrava espaço algum para que fosse mãe, ainda assim, a garota a admirava. O Sapo decidiu acompanhar Jill até a casa de João, mas as coisas para o menino também não estavam muito boas. João era um garoto sonhador, sonhador demais, inocente, até bobo. Tudo o que ele desejava era ser aceito pelo grupo de Maria, o valentão do povoado em que vivia (sim, Maria é o nome de um garoto) e, influenciado por Maria, achou que trocar a vaca, um dos poucos bens da família, por um feijão supostamente mágico seria um bom negócio.
"Eu faço aniversário?, se perguntou a pequena Jill. Ela achava que apenas a rainha fazia aniversário. Ela sabia que nem sempre tinha estado viva, obviamente, mas jamais tinha passado por sua cabeça que ela - ou qualquer um além de sua mãe, na verdade - tinha nascido num dia específico. Era quase uma ideia tola pensar que pessoas além de sua mãe fizessem aniversário." (página 48)
Quando Jill, João e o Sapo estavam juntos, apareceu uma velha que lhes fez uma proposta: ela realizaria os desejos da garota e de seu primo se eles recuperassem um objeto mágico. Sentindo que não tinham nada a perder e desejando ter uma vida diferente, os dois aceitaram a proposta da velha, e o feijão que João tinha se mostrou realmente mágico após um encantamento da velha, sendo capaz de levá-lo com Jill e o Sapo para um castelo no céu, e assim começaria a busca pelo objeto mágico que poderia mudar suas vidas, ou acabar com elas, caso não encontrassem o que procuravam.
Em "Outro conto sombrio dos Grimm", o escritor Adam Gidwitz faz uma releitura de clássicos dos contos de fadas, como "João e o pé de feijão", com o intuito de provar que os contos de fadas podem não ser fofinhos como conhecemos quando crianças. E ele se sai muito bem nessa empreitada! João, Jill e o Sapo precisam de coragem e inteligência para vencer gigantes, sereias, duendes e outros perigos que enfrentarão na busca de uma vida mais feliz, e precisam permanecer juntos. Ao final da jornada, a relação do trio se torna ainda mais forte, uma amizade para a vida toda, e eles descobrem que, talvez, a paz e a felicidade que procuravam estava muito mais próxima do que imaginavam.
"Outro conto sombrio dos Grimm" não é um livro que recomendo para crianças muito pequenas; minha sobrinha que tem cinco anos, já estava meio horrorizada quando, bem no começo da obra, descobriu como o sapo perdeu uma perna, mas acho que a partir dos dez anos já é uma leitura interessante de ser feita, especialmente por falar sobre crianças/adolescentes que procuravam o seu lugar no mundo, que queriam encontrar a sua identidade. Essa lição de não viver em busca da aprovação dos outros, mas de descobrir suas potencialidades e viver em paz consigo mesmo, é algo que precisamos recordar, seja em qualquer época da vida.
Eu esperava um livro bem mais levinho do que encontrei, em algumas cenas fiquei extremamente tensa, com o coração acelerado e os olhos grudados nas próximas palavras, achando que não haveria saída para os protagonistas (ou que eles não sairiam inteiros de algumas situações), mérito da narração do autor, que alterna esses momentos com outros onde ele parece conversar com o leitor. Onde já se viu, em plena página 84, ele aconselhar que se largue o livro? Se bem que pode ser um bom conselho, pois o que os protagonistas encontram no capítulo 11 é assustador, muito assustador!
"Na verdade, se vocês são o tipo de pessoa que não gosta de ler sobre sofrimento, derramamento de sangue e lágrimas, por que não fingem que o dia acabou ali e fecham o livro agora mesmo?
Por outro lado, se vocês são o tipo de pessoa que gosta de ler sobre sofrimento, derramamento de sangue e lágrimas... bem, posso perguntar educadamente:
- O que há de errado com vocês?" (página 84)
Apesar de me irritar um pouco com a inocência extrema do João, eu gostei bastante dos protagonistas, especialmente da Jill, que parecia tão inteligente, mas tinha seu ponto fraco na vontade de agradar a mãe e ser como ela. O Sapo é uma figura divertidíssima, um dos personagens que mais gostei na trama. E queria mencionar que achei ótima a forma como o autor fez com que as histórias dos protagonistas se entrelaçasse, todos tinham um passado concreto e crível, eles vieram de algum lugar antes do "Era uma vez". Só no final que o desfecho de alguns coadjuvantes não me satisfez, acho que a mãe da Jill precisava de um espaço maior para se redimir, mas compreendo que o livro não era sobre os adultos, e sim sobre João e Jill.
"-Viu? - falou ela para o sapo. - Eu disse que ele ia gostar de você.
- Nesse caso - disse o sapo -, João, sinto muito por ter feito xixi em você. Nós, sapos, não temos muitas defesas, sabe.
O menino riu e ofereceu um sorriso meio amarelo.
- Está tudo bem - respondeu ele. - Meninos também não têm." (página 84)
Sobre a parte visual: a capa é linda e condizente com a obra, tem verniz localizado e confesso que foi o que inicialmente chamou minha atenção. As páginas são amareladas e porosas. No início de cada capítulo, há uma ilustração. A diagramação tem letras de bom tamanho, espaçamento entre as linhas e margens grandes. É uma edição bem bonita e cheia de detalhes, com poucos erros de revisão.
Enfim, "Outro conto sombrio dos Grimm" é um livro de leitura fluida, que recomendo para quem gosta de fantasia e contos de fadas, ou para quem gosta de terror (se não gosta, também pode ler que não é tão assustador assim, afinal, é uma ficção juvenil, mas que certamente passará uma boa lição e será uma fonte de inspiração para leitores de todas as idades). Há, essa não é a primeira obra de Adam Gidwitz, ele também é autor de "Um Conto Sombrio dos Grimm", que traz a "verdadeira história de João e Maria".
"Seu lar é onde você pode ser você mesmo." (página 317)
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