mardou 04/05/2024
Uma vida pequena.
Eu estava quase que inerentemente presa em uma rotina onde se tornava cada vez mais difícil dedicar minhas horas para ler. dentro desse tipo de desafio, eu acabei tendo a ideia de começar a ler ?uma vida pequena?, demorei mais do que eu imaginava porque além de ser - agora - o maior livro que já li, contendo cerca de 784 páginas, este também é um livro brutal, ele pode te consumir de uma maneira quase inimaginável. a autoria Hanya Yanagihara possui um repertório insigne, ela trás o ser humano da maneira mais humana que conhecemos. Seus personagens são cruéis, são cruelmente miseráveis, sensíveis, sozinhos, cansados. não me recordo da última vez em que me apeguei tanto a um personagem. este livro guarda uma história que não esperamos, quando iniciamos em base na sinopse, onde resumidamente diz que o livro trará a história de quatro amigos de faculdade, o leitor não compreende a magnitude, inclusive chegamos a rir de curiosidade devido a desproporção do tamanho do livro para o suposto conteúdo.
JB é um artista plástico que trabalha na recepção de uma revista de artes que almeja um dia aparecer. Malcolm é um arquiteto perdido que ainda mora com os pais. Willem é o filho mais velho de um casal de imigrantes e trabalha como garçom enquanto tenta alcançar mais visibilidade como ator. Jude é formado em advocacia, e o menos ambicioso entre os demais, ele é orfão, fechado e muito bom em matemática. Quando iniciamos a leitura podemos imaginar que a trama será um romance sobre a vida dos quatro universitários, mas conforme as páginas vão passando, tudo vai se voltando pra Jude, não de maneira narcisista ou estrelista, mas temos a perspectiva dos personagens sobre suas vidas e no final de qualquer questionamento o próprio personagem cai na real e percebe que nunca notou Jude fazer o mesmo, como ter um par romântico ou falar sobre a infância.
O passado do mesmo vai se desvendando ao decorrer do livro, o leitor sabe mais que os próprios personagens, pois Jude St Francis é extremamente retraído, principalmente quando se trata dele mesmo. Acredito que esse é o máximo de descrição que tenho a oferecer, qualquer coisa além disso pode acabar revelando alguma supresa do livro, e acredite, são quase 800 páginas de muitas surpresas, algumas mais ruins do que você pode imaginar. Sentirei falta de me sentir tão ligada à personagens como Willem e Jude, são personagens muito bem concretizados, a autora faz com que o leitor se apaixone a ponto de querer ao máximo fazer de tudo para que esse personagens se de bem. Este livro entrou para a lista dos meus livros favoritos, por toda a vulnerabilidades, por toda a ideia central de trazer de maneira clara a vida de alguém depois de um trauma, sobre como as vezes algo pode sim tornar tudo mais difícil, mas além disso, sobre amor, amizade, sobre amar alguém que você não tem a obrigação de amar, sobre família e rede de apoio, porque mesmo uma vida de tamanha pequenez merece ser amada. Por fim, termino com minhas citações favoritas: ?mas o que era a felicidade se não uma extravagância, um estado impossível de se manter, em parte por ser tão difícil de ser articulada?; ?por isso tento ser amável com tudo o que vejo, e em tudo que vejo, eu vejo ele?.