O Quarto de Jacob

O Quarto de Jacob Virginia Woolf




Resenhas - O quarto de Jacob


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Tiago 20/04/2021

A fugacidade da vida
A fugacidade da vida. É isso o que Virgínia Woolf tenta narrar com O Quarto de Jacob. O romance de estilo experimental, “livre”, é um grande salto em relação ao estilo dos seus dois primeiros romances. Tal transformação, de desejo antigo, se dá por finalmente Virgínia ter uma editora própria onde poderia publicar seus romances sem as censuras que sofria por parte da editora do irmão, pela qual publicou os primeiros romances. Aqui, todo o romance é acompanhado por fragmentos de cenas, construídos a partir da técnica a qual a escritora começará a adotar em seus livros, a saber, o fluxo de consciência.

A escrita de Virginia neste livro me parece buscar escrever o indizível que está por trás da fugacidade da vida, sobretudo das relações. Não nascemos com um saber absoluto sobre o Outro porque o Outro é propriamente não absoluto. O que nos cabe fazer então é inventar um saber sobre tudo aquilo que nos escapa e nos constitui.

O capítulo oito, especialmente, traz passagens que parecem testemunhar esse furo estrutural da vida, e que a duras penas buscamos todos contornar de algum modo - porque tampá-lo é impossível. Neste capítulo, o caminho ao qual Virgínia nos conduz a isso inicia-se numa reflexão a respeito das cartas. A letra que se escreve parece fazer uma costura no tecido que todos os dias construímos na invenção do viver. “Sem elas a vida se esgarçaria (...) Tais são nossos apoios, nossas escoras. São eles que entretecem nossos dias uns nos outros e fazem da vida uma esfera perfeita”.

É pelo registro Simbólico que organizamos nossas experiências. As cartas tomam uma inteiramente simbólica, formando esse “um apoio, uma escora” para dar sentido à vida. É através do Simbólico que nossas trocas são feitas com o Outro, e é pela consistência desse registro que apostamos em tudo aquilo que nos levanta da cama para viver uma vida. Se esta fosse lida, veríamos que sua escrita seria como a de O Quarto de Jacob: fugaz.

Ainda no mesmo capítulo, Virgínia nos faz deparar com os limites disso que tentamos construir para tamponar o furo que há em tudo aquilo com o que nos relacionamos; escreve ela: “E ainda assim… ainda assim… quando vamos ao jantar, quando apertamos as pontas dos dedos e esperamos nos encontrar, logo, de novo, em algum lugar, uma dúvida se insinua; é essa a maneira de gastarmos nossos dias?”

Nesse espaço que se abre e que para alguns chama-se insatisfação, para outros potência, é de onde emerge o desejo, essa coisa metonímica e que nos leva para um outro lugar, mesmo ainda em nós. Eu poderia dizer que um sujeito analisado é aquele familiarizado com esse infamiliar e irremediável furo no Outro. Há, claro, sujeitos que não precisam passar por uma análise para construírem a seu modo outros meios de familiarizar-se com as próprias divisões. Virgínia, poucas páginas após refletir sobre o que nos põe diante do nada, da fugacidade da vida, resume lindamente a questão:

“O estranho em relação à vida é que, embora a sua natureza deva ter sido evidente para todo mundo há centenas de anos, ninguém deixou um registro adequado. As ruas de Londres estão mapeadas; nossas paixões não. O que vamos encontrar ao dobrar a esquina?”

E é nessa fugacidade que se encontra a beleza. O próprio personagem ao qual o título faz referência, Jacob Flanders, é fugaz. Curioso contrastar o título deste livro com o próximo de Virginia, Mrs. Dalloway. Em ambos há no título o nome do personagem central, porém é somente em Mrs. Dalloway que temos a presença do personagem em todo o desenrolar. Aqui em O Quarto de Jacob, a própria imagem que o título evoca é a imagem da presença do personagem no livro: fugaz, como a imagem de um quarto vazio, do qual só sabemos a quem pertence por conta dos objetos que funcionam como os fragmentos que servem somente como uma referência.
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Elisa.Motta 28/03/2021

Fazer uma resenha desse livro é um pouco difícil pra mim. Ele tem tantas nuances disfarçadas na história de criação do Jacob, conta a história de uma mãe criando crianças pequenas sozinha, conta a descoberta do amor, fala sobre filosofia e política, mas no fim, fala mesmo sobre a experiência e descobertas das relações humanas. De viver um mundo complexo.
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Luis.Gengibre 12/02/2021

Onde nós terminamos até nossos quartos começarem
Sigo na odisséia de ler as obras de Virginia Woolf. Infelizmente essa edição vem com um prefácio que entrega da estória muito mais do que contextualiza, dessa forma explicando novidades muito antes delas sequerem supreenderem. Talvez um posfácio fosse mais cabível.
Contudo, a obra de Virginia segue seu próprio ritmo em uma liberdade absoluta de vozes, ações e personagens que se misturam, de fato, no cenário e todas as suas complexidades compostas de falas (as vezes pela metade) e trejeitos que se repetem sutilmente, se assim a autora desejar. Magnífico e um marco na literatura da época.
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Sanchez 25/01/2021

Chato, chatíssimo, enfadonho...
Voltei ao "Entre os Atos", como nessa leitura, na mesma altura praticamente, tive que apelar pra duas resenhas. Agora esta fazendo mais sentido, porém meus sentimentos sobre a autora retornaram a primeira obra que li, a que eu citei e a última escrita. E agora, sabendo que o livro em questão é o primeiro sob a tutela de editora própria da autora, percebo pq o segundo escrito e que li, Noite e Dia, tinha uma tipografia completamente diferente, e muito mais agradável pra mim. Ainda pretendo ler o primeiro, A Viagem, e pra mim talvez o último dela que eu vá tentar. Quanto ao Quarto de Jacob, NÃO recomendo. Infelizmente ainda não consigo abandonar livros, teria me poupado sofrimento, rs. Monte de cenas soltas, personagens demais, quase nada de diálogos.
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Stella F.. 16/12/2020

Difícil mas interessante!
Achei bastante difícil a leitura. As cenas se entrelaçam e temos que prestar atenção para nos situar.
O protagonista, Jacob, circula em teatros, fala de livros, tem grandes discussões. Conhece pessoas lugares e se relaciona com várias mulheres, todas apaixonadas por ele. Os amigos também o admiram muito e queriam ser como ele. Mas não sei dizer se gostei ou não do livro. Pareceu meio solto. Os personagens surgem e vão embora e o Jacob parece meio etéreo. Ele viaja pela Cornualha, Paris, Itália e Grécia e sabemos pelas pessoas que convivem com ele, as impressões dos locais referidos.
Jacob circula por vários ambientes, mas parece que ele não está ali, mesmo sua relação com irmãos e mãe parecem distantes, é como se ele estivesse fora de cena, só observando.
O livro é bastante descritivo e não palpável, como concordei com outras pessoas que analisam esse livro, que V. Woolf estava influenciada pelo impressionismo.
Jacob está sempre discutindo um livro, uma peça de teatro, ou está se relacionando com uma mulher: uma amiga de família, uma prostituta, uma mulher mais velha, única pela qual se apaixonou. Todas as mulheres do livro ficam a espera de sua volta, daquele a quem admiram e tem em alta conta.
Foi estudar em Cambridge, e possuía amigos que se juntavam para discutir e os argumentos dele eram sempre fortes, como se ele fosse um líder, mesmo nos parecendo estar na sombra. Depois vemos ele trabalhando e depois viajando pelo mundo.
Apesar de bastante hermético várias passagens me chamaram a atenção, por serem muito interessantes e bonitas, uma delas quando fala da troca de correspondências: “ Pensemos em cartas – em como chegam na hora do café da manhã e à noite, com seus selos amarelos e os verdes, imortalizados pelo carimbo postal – pois ver o nosso próprio envelope na mesa de outra pessoa é entender com que rapidez nossos textos nos deixam e se tornam alheios. {..} A mão que as escreveu é quase imperceptível – quanto mais a voz ou a expressão do olhar. Ah, mas quando o carteiro bate e a carta chega, o milagre parece sempre repetido – a linguagem que tenta falar. Veneráveis são as cartas, infinitamente audaciosas, desamparadas, e perdidas. Sem elas a vida se esgarçaria”.

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Marcos Nandi 17/11/2020

Tédio
Terceiro livro que leio da autora. Mas, esse não gostei. Custei para terminar a leitura. Tedioso. Chato.

Apesar de amar o fluxo de consciência, nesse livro achei confuso e fragmentado. Além do mais, não tem enredo. E os personagens são chatos.
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João Malafaia 06/06/2020

Me decepcionei
Amo Woolf mas não rolou com esse livro, a escrita dele é enrolada demais, mas não do jeito bom de Mrs. Dalloway. E o Jacob é um personagem bem insosso e arrogante.
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Jéssica 06/06/2020

Memórias
Virgínia te leva pela vida de Jacob, através das pessoas que passaram por sua vida.
Uma das coisas que torna difícil a leitura é a parte mais interessante do livro: a perspectiva. Algumas vezes, ela te mostra as cenas como um terceiro distante, outras, conta o que aconteceu através dos pensamentos e atitudes dos personagens.
Isso pode ser frustrante e cansativo, especialmente se você é acostumado a ser um "leitor onisciente". Mas, se você se deixar levar, as peças vão se encaixando aos poucos.
Achei bonito, por me fazer enxergar a vida por meio das impressões que deixamos uns nos outros.
Recomendo!
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Joao.Paulo 02/06/2020

mal resenhado
Quarto de Jacob (1922, Virginia Woolf), lida de uma forma bem única com o tema da (in)definição de uma persona. O livro é permeado por um caos de personagens, diálogos e descrições que buscam construir um contexto e nos dar algumas pistas dos traços da personalidade de Jacob. É de certa forma um tentar desvendar o personagem sem realmente tentar, não de forma direta, como uma frase do próprio livro diz: ''Não adianta tentar resumir as pessoas. É preciso seguir as pistas, não exatamente do que é dito, tampouco plenamente do que é feito.

É um livro que nega tanto a objetividade quanto a sua formalidade, aqui, somos levados por diálogos e divagações que, diferente das de Mrs. Dalloway, acabam por não ter uma conexão ou que necessariamente levem a uma convergência de fatos; aqui tudo é efêmero, e sendo-o, nada acaba por realmente ser. Todas as frivolidades podem agregar sentido para a construção da persona de Jacob e de seu narrador. Isso seria um resumo rude do que o livro realmente é.

O que mais me interessou é essa ideia de como a luz acaba moldando e é moldada pelos espaços. O contexto não é só social no sentido da massa de pessoas, mas também é ambiente. Para se usar de duas analogias colocadas no livro, é a não dissociação do osso com o esqueleto, convergindo com a multiplicidade das coisas que se torna unidade, e que, mesmo assim, pode espirar rapidamente.

site: https://www.instagram.com/malresenhado/
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jaircozta 30/04/2020

Virginia Woolf - força atemporal
#livro O Quarto de Jacob
#autora Virginia Woolf

Virginia Woolf (1882 ? 1941), como Clarice Lispector no Brasil, é uma potência poética da geração modernista britânica. As novas estruturas narrativas, o desafio e a ruptura com normas pré-concebidas, o pensamento filosófico e científico; tudo isso encontramos em suas obras e, melhor, com o estilo inconfundível desta genial escritora. A literatura de Woolf é, sem dúvidas, desafiadora, mas, após o mergulho em seus textos, não queremos mais emergir.

"O Quarto de Jacob" foi um de seus primeiros livros, sendo publicado originalmente em 1922, bem no início do Modernismo. Muito embora seja uma obra que não trata sobre queers, especificamente, traz as reflexões feministas e sociais que Virginia sempre pautou em sua obra. A importância de falar desta escritora reside no fato de que temos informações históricas claras acerca de sua homossexualidade e dos problemas em seu casamento de 29 anos com Leonard Woolf - com quem não mantinha relações conjugais, mas mais profissionais e coexistenciais (como sugere a biógrafa argentina Irene Chikiar Bauer no livro "Virginia Woolf: la vida por escrito). A riqueza das discussões sobre gênero, sociedade e feminismo em sua obra é de extrema importância para a literatura e para garantia de abertura dos espaços para mulheres no mundo ocidental, principalmente na literatura. Estamos falando de muita representatividade, muita genialidade e muita coragem.

No livro, é narrada a vida de Jacob Flanders por meio da percepção das mulheres que com ele conviveram, passando pela infância através do olhar de sua mãe, Betty, até sua jornada acadêmica e sua personalidade meio antissocial, informação que sabemos por meio de uma de suas amigas, e enfim, entendemos um pouco sobre sua vida como adulto e seus relacionamentos amorosos, especificamente com uma garota de classe social inferir à dele. Como um quebra-cabeça ou um mosaico, vamos juntando as peças dessa narrativa, dessa vida, a fim de entender quem Jacob é e o que busca.

A leitura é fragmentária e tudo se passa num fluxo muito intenso e profundo. É uma narrativa sensível, solitária e muito revolucionária para a época em que foi escrita. Imprescindível a leitura e importantíssimo conhecer, principalmente, esta escritora sublime que foi e é Virginia Woolf.

O site farofafilosofica.com disponibilizou, para download, 13 obras de Virginia Woolf, dentre elas "O Quarto de Jacob" e "Orlando". Acessem e aproveitem a leitura!
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Grace @arteaoseuredor 22/03/2020

Aguardando embarque...


?Terceiro livro de Virginia, mas o primeiro publicado pela editora dela e do marido, Leonardo Woolf, seus dois primeiros romances foram publicados pela editora de seu irmão, um conservador.
Agora ela se sentiu livre para escrever da forma que queria. Acho que é um livro bem experimental, ela estava se descobrindo e isso para uma escritora deve ser maravilhoso.
?No livro acompanhamos Jacob, de criança à adulto. A história tem inúmeros personagens que aparecem e desaparecem de forma rápida, sobre alguns conseguimos saber um pouco mais, não consegui me envolver com nenhum personagem, incluindo Jacob. Um livro difícil de ler, e depois de um tempo até desisti de tentar entender tudo, o interessante dele é perceber a liberdade da autora, e essa total desconstrução da história.
?A passagem de Jacob na Grécia, foi uma homenagem da escritora ao irmão Thoby que morreu de tifo, depois de uma viagem que os irmãos fizeram a Grécia e a Turquia.
?"Parece, portanto, que homens e mulheres falham igualmente. Parece que não conhecemos em absoluto uma opinião profunda, imparcial e absolutamente justa sobre nossos próximos. Ou somos homens, ou somos mulheres. Ou somos frios, ou somos sentimentais. Ou somos jovens, ou estamos envelhecendo. Em qualquer caso, a vida não é senão uma procissão de sombras, e sabe Deus porque as abraçamos tão avidamente e as vemos partir com tal angústia, já que não passam de sombras."
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Anienne 08/10/2019

O quarto de Jacob
Esse é um livro bastante não usual.

E, certamente, iniciamos a leitura da forma que estamos acostumados(as) a fazê-la, então a princípio, achei tudo muito confuso e chato.

Virgínia Wolf parece se utilizar de recursos semelhantes ao nosso cérebro, este que passa de um pensamento a outro de forma, totalmente aleatória, conectada apenas à nossa própria vivência e ao que é prioridade para nós.

Pois bem, em minha percepção, parece com isso o que o(a) narrador(a) faz, passando de um assunto para outro de uma forma, totalmente, aleatória. Num momento, fala de um personagem que não tem, nem terá a mínima importância a não ser naquele momento, depois passa para um outro assunto mais ou menos relevante que não tem nada a ver com o outro.

Para o(a) narrador(a) isso não importa, parece que está se lixando para o(a) leitor(a). Não tem nenhuma obrigação com este, nem se vê estimulado(a) a dar qualquer explicação. Ele(a) que se vire e se organize para entender a forma desorganizada que a coisa é posta, tanto no que se refere a tempo, espaço, personagens e mais...

Vemos conversas inacabadas; pedaços delas, sem começo, nem fim; assuntos sem importância; descrição de locais os quais o(a) próprio(a) narrador(a) não tem a permissão de ver e que ele mostra só até onde pode. Ele(a) mostra também que não é onisciente, nem onipresente, conversa com o(a) leitor(a) e outras coisas mais.

A princípio, minha impressão era que ela tinha escrito os parágrafos ou frases em pedaços de papeis, jogado dentro de um saco e ia retirando-os, aleatoriamente, e escrevendo, à medida que iam saindo. kkkk

E estava muito chato, muito chato mesmo. Foi quando DESISTI de entender qualquer coisa, de tentar fazer conexões, de tentar compreender a história. Foi assim que a leitura fluiu. Só assim.

"Só meia frase se seguiu, mas essas meias frases são como bandeiras içadas no topo de edifícios para aquele que está observando indícios externos lá de baixo". Nessa frase, ela fala da própria escrita que eu tentava explicar. Em vão... hehe

Então descobri que a história não tem um enredo, não nos conta nada, mas gira em torno da personalidade de Jacob. À medida que vamos desenvolvendo a leitura, percebemos Jacob sob o olhar de várias pessoas, vários personagens, com ou sem importância e, em alguns momentos, pelo(a) próprio(a) narrador(a).

Há uma outra parte que diz assim: "Ninguém vê ninguém tal qual é(...). As pessoas veem um todo, veem toda sorte de coisas, veem a si mesmas", o que mostra, justamente, a alma do livro porque, na verdade, Jacob não era nada daquilo, ao mesmo tempo em que era tudo aquilo.

Há ainda uma série de reflexões filosóficas sobre o ser, sobre a vida, a sexualidade, o clássico, o moderno. Tudo sob uma penumbra que não deixa nada muito claro. Além disso, a escrita em si, é bem poética.

Ela faz uma crítica bem clara e interessante aos clássicos, o que é recorrente no livro, mas chamo a atenção para uma parte em que Jacob lê Sheakespeare num barco e o livro cai na água e submerge, revelando o que é, para ela, o clássico, em relação ao moderno, contrariando ao personagem que traz o clássico como algo superior e repudia o contemporâneo.

Um exemplo que me chamou atenção e que mostra o quanto essa criação é inusitada, foi a descrição da sineta que anunciava o jantar de casa, sob o ponto de vista das "gralhas"...

Não é uma leitura fácil, tampouco objetiva. Como falei, tudo é bem inusitado, não usual e acredito que valeu, até pelo objeivo de sua obra. Virgínia quebra muitos paradigmas. É como uma ovelha negra que, pioneiramente, vai abrindo espaços onde ainda não existem. Eu respeito muito. Essas pessoas com suas criações no mundo, são necessárias e imprescindíveis.

Eu, particularmente, não encaro essa leitura como prazerosa, nem tenho muita paciência para cascalhar os seus tesouros. Com toda a honestidade, não me apetece, mas indico e acho que é muito válida porque as pessoas são diferentes e os gostos são infinitos. Experimentar coisas novas é preciso.
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Samantha @degraudeletras 30/09/2019

O quarto de Jacob é o terceiro livro escrito pela autora inglesa Virgínia Woolf, mas o primeiro que ela ela escreveu sentindo-se livre para criar a sua própria maneira de narrar, pois até então precisava seguir os ditames da editora do irmão sobre os padrões a seguir.

Esse livro traz a história de Jacob, personagem que conhecemos por meio do olhar das pessoas que o rodeiam. O enredo é desconstruído e fragmentado em diversos momentos que o jovem aparece na vida dos conhecidos. Por causa dessa forma de narrar, o livro é comumente associado a escola artística impressionista, uma vez que não há delimitação das formas, mas uma turva construção.

A partir dessas diversas perspectivas, percebemos Jacob como um rapaz de boa família e rico, educado, tímido e muito dedicado ao estudo do Grego, ele chega a viajar para a Grécia e Roma para conhecer os clássicos da cultura europeia. Esses olhares construíram um personagem sem ele nem ao menos ser o principal narrador ou haver um narrador onisciente para descrevê-lo.

A estrutura da narrativa é o que mais chama a atenção durante a leitura, não a história em si, uma vez que não há um fluxo contínuo. Talvez o experimentalismo de Virgínia nessa obra cause estranheza ao leitor, desde as composições frasais à estruturais.

É claro que aquele olhar perspicaz sobre a sociedade e o ser humano está presente aqui também. Interessante destacar dois momentos, a exemplo do referido: primeiramente quando uma senhora está aterrorizada por encontrar-se numa cabine do transporte coletivo com um homem, o seu terror é palpável e a todo momento ela planeja como poderá se defender caso ele tente algo "Decidiu que atiraria o vidro de perfume com a mão direita, e com a esquerda puxaria o fio do alarme" P. 45, sensação bastante comum até hoje, em que as mulheres se sentem ameaçadas na presença de homens desconhecidos, o lado feminista de Virgínia diz olá (rs).

Em outro momento, ela ressalta a incrível habilidade humana de se distrair "Sem dúvida, nossa visa seria muito pior sem o nosso espantoso talento para a ilusão" P. 188, não sei qual a intenção da autora no texto original, mas entendi o ato de ilusão como a capacidade submergir-se em criações culturais para afastar-se da vida real, não necessariamente de criar realidades inexistentes (como em casos amorosos, por exemplo), e isso é bem pertinente! Quantas vezes o leitor não mergulhou em histórias e dramas para fugir de uma realidade insossa ou discrepante da ideal ?! A arte nos salva!

Não sou a leitora mais assídua de Virgínia Woolf, devo ter lido uns 4 ou 5 livros livros dela, mas é possível perceber como alguns elementos se repetem em suas obras, como em A Viagem, que Mrs. Dalloway (protagonista de um outro romance seu) aparece de passagem, ou em Flush, cachorrinho cocker speniel, a mesma raça que aparece em O quarto de Jacob. Enfim... Há traços que perduram por suas obras.

Em O quarto de Jacob também há um flash do que mais tarde colocaria fim à vida de Virgínia (como já ocorrera em A Viagem anteriormente quando uma personagem descreve a agonia de submergir em águas pesadas), pois uma das personagens pensa em matar-se no Rio Tâmisa: " - Bem, posso me afogar no Tâmisa - chorava Fanny Elmer, passando depressa pelo Asilo de Órfãos" P. 191. A autora cometeu suicídio aos 59 anos, momento em que encheu os bolsos de pedras e entrou no Rio Ouse, seu corpo fora encontrado apenas semanas depois.

Diante de uma explosão de técnica, que caracterizou de vez Virgínia como uma escritora modernista (com traços impressionais, nesse romance em especial), podemos perceber muito da autora ao longo das páginas.

site: https://degraudeletras.wordpress.com/
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