Joice (Jojo) 28/06/2017
Exercício do ego
Eu não era familiarizada com a escrita de João Paulo Cuenca, sendo este meu primeiro contato com o autor brasileiro. Famoso por suas crônicas (que nunca li), ele chegou até mim bem recomendado, e achei a proposta do livro bem interessante. Contudo, toda a leitura foi uma grande decepção.
No sentido de domínio da linguagem escrita como técnica, não há dúvida de que Cuenca é um bom escritor. E, talvez, as crônicas sejam mesmo um estilo mais adequado ao estilo dele, que gosta de deixar o pensamento seguir seu próprio curso e, quando percebemos, um assunto já virou outro, que virou outro, que virou outro... Contudo, para um livro com (supostamente) começo, meio e fim, a escrita do autor é desesperadora.
Em "Descobri que estava morto", o enredo principal não ocupa mais do que poucas dezenas de páginas. O restante são regressões do autor sobre literatura, política, ego, relacionamentos, mercado imobiliário, Copa do Mundo, raízes, drogas, etc., etc., etc. Algumas dessas reflexões são até interessantes, mas na maioria tive a clara sensação de que o autor estava lustrando o próprio ego.
A frase mais verdadeira deste livro foi proferida pelo personagem de Roberto Protz: "no fim das contas, o movimento de encarecimento da cidade e as violações dos direitos humanos me incomodavam apenas o suficiente para eu me aproveitar disso num livro antes de me mudar de cidade e de país".
Não recomendo.