Catharina.Mattavel 06/07/2020O narrador mais inusutado que já viIan McEwan é famoso por propor enredos peculiares. Nessa linha, o narrador de Enclausurado é um feto. Ainda na barriga, nosso protagonista narra a relação de sua mãe com o amante, sendo esse amante, irmão do pai desse feto. Se esse enredo te lembra Hamlet, não é atoa, foi a intenção do autor.
As coisas começam a ficar ainda mais bizarras quando descobrimos que a mãe e o tio estão armando uma morte para o pai do feto. O romance é cheio de diálogos arquitetando o crime, causando no telespectador uma verdadeira agonia, enquanto admiramos o talento de McEwan para com obras inusitadas.
Como se não bastasse, temos aqui um feto extremamente inteligente, critico e pensante. Ele aprecia vinhos, já que sua mãe bebe bastante durante a gravidez. Sua mãe também ouve podcasts e rádios sobre politicas, refletindo em feto extremamente politizado que se instrui cada vez mais. Os pensamento vão muito além disso, pois nos deparamos com uma consciência profunda, nos esquecendo por vezes que ali está um narrador que ainda nem tem uma mente formada.
De forma irônica e até cômica, acompanhamos as tentativas do feto de evitar um crime, já que o mesmo almeja a mãe e o pai juntos, nutrindo então um ódio pelo tio. A cada capítulo, o protagonista tagarela sobre culpa, futuro, sentimentos e a condição humana no geral. Confesso que toda essa intelectualidade vinda de um feto, causa um estranhamento no começo, mas logo nos acostumamos com o narrador e até mesmo, nos pegamos pensando e sentindo como ele.
Os personagens secundários também tem suas características próprias e marcantes, com nuances e motivações. Tudo isso dá forma a uma leitura com narrativa rebuscada e elegante, que transita entre o surreal e o absurdamente real por conter tantos elementos bem construídos.
Esse foi meu segundo contato com o autor, o que reforçou e atiçou minha opinião sobre enredos tão incomuns e convincentes.
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