Naty__ 10/10/2016Arrepiante. Assustador. Incrível!Que os jogos comecem!
Uni-duni-tê se parece muito com o filme Jogos mortais. Um assassino está à solta e sua mente doentia inventou um jogo que vai aterrorizar a vida de muitas pessoas, podendo levar à morte. O praticante quem decide: matar ou morrer. Duas pessoas estão presas e apenas uma pode ter a sua liberdade. Para isso ela precisa matar.
Cada personagem clama pela vida, eles desejam ardentemente a liberdade quando estão próximos da morte. É inegável a qualidade que o autor tem de criar tantos cenários e tantos personagens. A narrativa demonstra ao leitor o medo presente em cada fala. Embora, em alguns momentos, ela poderia ter sido melhor trabalhada.
Ação é o verbo contido no livro e que encanta, assusta e surpreende-nos. É triste que o autor desenvolve capítulos que necessitamos saber mais detalhes – o que nem sempre é trabalhado. Embora os capítulos sejam, em sua maioria, curtos, em momento algum acredito que isso seja o problema (pelo contrário, já que torna a leitura mais veloz), mas sim da falta de maiores descrições. Os sequestros foram bem criados, mas as investigações deixaram alguns detalhes de lado e eu queria mais.
Depois de ver a morte de perto, você entende o valor real da vida!
É difícil imaginar como eles se sentem quando são presos e entender o que se passa em suas mentes. Mas uma coisa é certa: quem sai do jogo vivo sai alguém frágil, sensibilizado e até mesmo depressivo. Eles passam a entender o valor da vida, como eles eram antes de tudo aquilo acontecer. Eles sentem o peso da morte, de serem assassinos por um dia. De assassinar para viver. De tirar uma vida para usufruir da sua.
Duas pessoas são levadas para um lugar, escuro e deserto. Uma arma e um aparelho celular. Ele toca e quem atende já sabe o que precisa fazer com o aparelho gélido ao seu lado: atirar. As instruções são recebidas pela ligação e a gente menos imagina o motivo de aquela pessoa do outro lado da linha querer fazer tudo isso com as vítimas. Elas ficam presas independente do tempo, até que uma decide matar e então tudo é liberto. Um, dois, três dias; uma, duas, três semanas... Quanto tempo for necessário para a coragem chegar e o desespero também.
É fácil finalizar o livro e criticar a forma que o autor desenvolveu os personagens em seus desesperos. É fácil argumentar que a fome de dois dias não é o suficiente para querer comer um rato ou comer larvas para saciar o estômago. É fácil criticar quando alguém bebe a sua própria urina para saciar a sede. Vi algumas pessoas reclamando que algumas cenas pareceram exageradas e que dois dias não seria tempo suficiente para alguém morrer de fome. De fato, não é. Mas quando aparece uma oportunidade de se alimentar, sem saber o que se espera até o final daquela jornada, toda vontade se torna aceitável. Vontade de comer, de beber, de urinar, de matar.
Se teve momentos que eu gostei do trabalho do autor foram as cenas das pessoas presas. Aprendi que cada um tem uma personalidade e tem um limite também. As cenas são fortíssimas, o momento em que os personagens comem larvas foi uma das mais fortes para mim, mas foi emocionalmente também. Quantas pessoas reclamam de um prato de comida? Quem poderia imaginar que um dia sentiria vontade de comer um réptil para saciar a fome de alguém que está em seu ventre ou, como em outro caso, de comer o próprio braço?
Alguns são tão ingratos por estarem vivos, mas você não, não mais.
Aquele que mata e é libertado, na verdade, está solto para sempre ou se sente preso em seus próprios pensamentos? Como viver livre e feliz depois de passar por um momento tão perturbador? Por que eu e não ela? Por que você e não ele? Por que nós? Os elementos estão sempre ligados, mas e as pessoas? Como o assassino escolhe suas vítimas?
O leitor se desespera, arranca os cabelos, rói as unhas, mas depois entende os motivos. De uma coisa eu fiquei convicta: concordo o motivo, mas não concordo em realizar tanta maldade com as pessoas.
Helen Grace é a detetive que precisará dar duro para mostrar que consegue lidar com esse terror, afinal, parece que o assassino está sempre um passo adiante das investigações. É preciso trabalhar muito e tentar descobrir quais serão as próximas vítimas e o local escolhido.
Outro ponto que senti necessidade de melhoras foi quando Helen descobre que existe alguém que está fornecendo informações privilegiadas. Queria que esse ponto fosse mais trabalhado na conclusão, pois a pessoa apenas ficou como acusada, não tendo ocorrido nada mais adiante. Espero que tenha continuação e responda algumas coisas que ficaram no ar.
Acredito que o livro tenha tido uma história perfeita, mas que poderia ser melhor desenvolvida. Embora tenha um ponto aqui e acolá para ser melhorado, sou categórica em dizer que senti um amor incondicional por esse livro. Quero ter em minha estante junto com os melhores do gênero e poder sentir a gostosa sensação que sinto quando olho para ele. Não apenas pelo fato de ter sido presente de aniversário, ele me passou uma lição fortíssima e soube detalhar coisas que é difícil descrever.
Um livro com falhas e defeitos, assim como todos nós. Não é porque alguém tem defeitos que não queremos por perto, amamos apesar de suas imperfeições – é exatamente assim que sinto. Mesmo podendo ser melhor, ele continua sendo “alguém” que quero ter na estante, o livro que não largo. A obra que vale quatro estrelas e um coração do tamanho do mundo. Favoritado!
Quotes:
“– Você quer viver?
– Quem é você? O que fez com a gen...
– Você quer viver?
Por um momento, não consigo responder. Minha língua não se move. Mas, logo depois...
– Quero.
– No chão, ao lado do celular, tem uma pistola. Está carregada com uma única bala. Para Sam ou para você. Este é o preço da sua liberdade. Para viver, precisa matar. Você quer viver, Amy?” (p. 06).
“– A carne era dele mesmo. Mordeu o braço direito. Pela aparência, eu diria que deu umas três ou quatro mordidas, antes de desistir” (p. 34).
“Mais um sequestro, então. E ainda mais estranho que o primeiro. Dois homens adultos, inteligentes, fortes e capazes de se cuidar tinham simplesmente evaporado” (p. 37).
“Primeiro a repugnância e depois a surpresa. Repugnância diante do buraco sanguinolento no lugar onde antes estava o olho esquerdo. E surpresa diante da constatação de que aquele corpo não era de Bem Holland” (p. 65).
“Muito bem, então que seja. Fez o que lhe foi pedido. E, dessa vez, tirou sangue. O corpo dela recuou com a dor, mas logo depois pareceu relaxar, enquanto um fio de sangue escorria por suas costas.
– De novo.
Aonde tudo isso iria levar? Não saberia dizer. A única coisa que Jake sabia, com toda certeza, é que a mulher queria sangrar” (p. 67).
“Todo ano ela mostrava o dedo do meio para o Natal e todo ano tomava um soco na cara. Sentimentos pesados pairavam à sua volta como malignos flocos de neve, para lembrá-la de que não era amada e que não tinha valor para ninguém” (p. 97).
“Bateu na minha cabeça, me deu um soco no estômago, me chutou entre as pernas. Depois agarrou meu pescoço e pressionou minha cabeça no nosso aquecedor com três resistências. Colocava e tirava; colocava e tirava. Não sei por quanto tempo fez isso. Desmaiei após uns vinte minutos” (p. 103).
“Por que [...] agia dessa forma? Fazia suas vítimas participarem de um diabólico jogo de uni-duni-tê, certa de que, quem puxasse o gatilho, em última análise, sofreria muito mais do que sua vítima. A questão, a graça do negócio, seria então o trauma permanente do sobrevivente?” (p. 116).
“Algumas vezes na vida é preciso afagar a mão que nos golpeia” (p. 275).