Comunidades Imaginadas

Comunidades Imaginadas Benedict Anderson




Resenhas - Comunidades Imaginadas


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Javalis de Chernobyl 03/06/2024

“a ‘nação’ se tornou objeto de uma aspiração consciente, e não uma perspectiva de mundo que ganhava foco aos poucos.”(pág.107)

Escrito em 1983, Comunidades Imaginadas é uma tentativa do autor de teorizar o fenômeno moderno dos nacionalismos, e compreender melhor a criação das nações, quase que de forma religiosa, no imaginário coletivo dos indivíduos. Buscando uma abordagem de História Cultural, em diálogo com a antropologia, o livro tornou-se um clássico e leitura obrigatória sobre o tema.

Já de cara algo que me agradou muito e é certamente incomum na escrita de historiadores mas que é bastante presente no texto dele, é o humor com que ele elabora seus argumentos, onde muitas vezes comenta ironizando alguns fatos. Não que o historiador precise ser um comediante ou que Anderson seja, mas é de fato interessante ver um livro menos "frio" de um historiador tão grandioso e de um clássico como este.

Ele crítica a visão eurocêntrica de que os nacionalismos surgem primeiramente na Europa, defendendo a tese de que os nacionalismos modernos surgem primeiramente com as independências criollas nas Américas. Já na Europa, os nacionalismos teriam surgido depois, para tomar espaço em dois vácuos de poder que perderam força ao longo da modernidade: A comunidade religiosa e a tradição hierárquica; ou seja, os nacionalismos - cuja origem vem das revoluções burguesas - ganham força a partir da perda de influência social e cultural da Igreja e da Nobreza. Com isso, surgem o que ele chama de “nacionalismos oficiais”, ou seja, nacionalismos monárquicos criados de forma reacionária e conservadora, tentando cooptar o discurso e os sentimentos nacionalistas populares na Europa, na intenção de manter o poder político e cultural sob seus Estados.

Ele fala muito da importância do capitalismo da criação da imprensa para permitir a sedimentação secular da consciência nacional nos países europeus. No 3° capítulo, ele analisa a criação dos imaginários nacionalistas nas Américas e as condições para que se criassem nacionalismos diferentes na América Espanhola, ao contrário do Brasil e da América do Norte. As relações de poder entre os criollos espanhóis e a Coroa, as limitações administrativas que a tecnologia e o capitalismo da época apresentavam, e as influências internas e externas que possibilitaram as independências.

No capítulo X ele trabalha um termo que chama de “Fratricídio tranquilizador”, que seria um trabalho de memória e esquecimento que os Estados Nacionais impõem à população, a partir de aparatos culturais e educacionais, como as escolas. Normalmente, o que “deve” ser esquecido são eventos violentos e traumáticos, que costumam ser causados pelas classes dirigentes nos países. Nas Américas, cujo sangramento oriundo da escravidão africana e do extermínio indígena nunca estancou, esse tipo de política é o que cria, por exemplos, ideias como a democracia racial no Brasil. Citando Hayden White, ele discorre sobre como a narrativa da História foi trabalhada, tanto no Novo e Velho Mundos, no sentido de explicar a legitimidade das nações e seus nacionalismos.

O posfácio é um capítulo incrível onde ele analisa o impacto do livro a partir das traduções e da recepção de Comunidades Imaginadas ao longo do mundo, as discussões políticas e intelectuais em que ele se posiciona à sua época, o uso político do livro em diversas nações, a própria questão do vernáculo em países vizinhos como Suécia, Noruega e Dinamarca, os estímulos para as publicações do livro e seu sucesso mundial, uma análise do publico-leitor, enfim. Ele debate as próprias questões do livro a partir das recepção da obra.

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Ana Luíza 06/05/2020

Apesar da falta de costume em ler esse tipo de livro, gostei bastante. Dentre diversos pontos que eu nunca havia parado para analisar e refletir, o capitalismo editorial como um dos sustentáculos dos nacionalismos foi o maior deles. Além disso, adorei sobretudo dois detalhes: a deseuropeização dos exemplos utilizados e a menção aos romances literários e o papel que eles cumpriram nesse "imaginar" a nação.



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yuri29 09/02/2015

Obra de referência.
O livro de Benedict Anderson, só pela sua existência, prova a ousadia e coragem que o autor teve. O tema tratado nesta obra é o nacionalismo, desde as suas origens até os fatores que levaram à sua constituição. O assunto não é fácil, pelo contrário, de extrema complexidade, mas nas mãos de Benedict Anderson ganha nova roupagem, uma aparência mais amigável, facilitando assim o entendimento tanto de quem trabalha na área, como aquele indivíduo que procura mais informação acerca do tema.
Um dos fatores que merece ser destacado é a erudição do autor concernente aos eventos nacionalistas que estiveram e estão presentes no mundo. Destaque para a abordagem sobre a Suíça, país que eu sempre tive curiosidade de conhecer e saber porque ficou unido mesmo sendo uma região assolada por heterogeneidades.
Benedict também trabalha com o caso indonésio, que é sua especialidade, porém, este último mostra-se como um dos mais difíceis pra mim.
Concluindo, pois não desejo estender-me muito neste PARECER, o autor realiza uma abordagem extremamente interessante e disseca o tema, explicitando suas origens, causas e consequências. "Comunidades Imaginadas" é uma leitura altamente recomendada para quem trabalha com o tema nacionalismo ou não.


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