Amanda 28/05/2019
Deveriam ter aproveitado a Torre do título do livro e empurrado o Chaol lá de cima
Tower of Dawn é praticamente um livro de introdução locado no fim da série, não dá né gente, ficar de enrolação nessa altura do campeonato. SJM estaciona o bonde do desenvolvimento do enredo para apresentar um novo reino, com novos costumes, novas dinâmicas, novas culturas, um lugar onde tudo parece perfeito, se SJM estivesse escrevendo uma utopia não seria tão bem sucedida, e fez parecer que em Rifthold as pessoas andam nas ruas arremessando merdas umas nas outras.
O livro agregou pouco para o plot principal da saga e também não desenvolveu uma boa história própria. Foram apenas alguns pontos de esclarecimento e revelações interessantes, mas nada que justificasse um livro inteiro para isso. Esse livro veio para fazer volume, com um núcleo de personagens separados do núcleo principal, que tiveram arcos bem água de chuchu e parece que o principal objetivo da autora nessas quase 700 páginas foi criar par romântico, imagina a alegria da Sarah em começar o livro com um casal e terminar com dois.
É o milagre da multiplicação!
“I loved you before I ever set eyes on you”
Menos Sarah... Muito menos...
Até agora não vejo o porquê desse arco em Antica não ter sido desenvolvido em paralelo com Império de Tempestades. Afinal, as duas histórias estão acontecendo ao mesmo tempo, e esse distanciamento da leitura com o livro anterior me tirou um pouco do contexto temporal da história, eles citavam coisas ou investigavam o que estava acontecendo em Erileia e nem eu sabia exatamente em que pé estavam as coisas, onde a Celaena estava e para onde iria... Lembro que o livro anterior tinha pov's exagerados, sei lá uns sete ou oito, coisa que não precisava, então poderia ter trocado os mais 'coadjuvantes' por capítulos de Nesryn e Chaol, dessa forma este livro não ficaria tão maçante e insosso. Mas porque escrever um livro se pode escrever doi$$$?
Tower of Dawn é uma sequência de vários nadas, com uma trama morna e personagens coadjuvantes pouco cativantes. Tem uns filhos do imperador, e o próprio imperador, que eu nem sei o nome de tão whos que se apresentam dentro da história. Além dos novos personagens, tem a volta de alguns nomes que podem surpreender, foi interessante ver a cocerinha do meu cérebro quando eles foram apresentados e eu fiquei "será?". Lembro que quando eu li os contos de "A lâmina da Assasina" eu pensei que seria legal e faria mais sentido dentro da história se os personagens voltassem. Mas então... Eles voltaram... E eu me peguei pensando "que merda!"
Acho que os entrelaçamentos de uma história tem que ser muito bem feitos, a gente não pode realmente perceber essas coisas, os nós que deixam a história firme e coesa, ao contrário ela parece falsa e forçada. E de repente ao ler antigos personagens voltando e se conectando nesse grande plot eu achei tudo forçado. Será que a Celaena não pode simplesmente esbarrar em pessoas normais? Ela não pode simplesmente salvar pessoas normais? Ela não pode simplesmente prometer favores a pessoas normais? Ela é tão megalomaníaca que todos que fazem parte da vida dela, tem que de alguma forma serem fadados ao sucesso?
Celaena salvou uma garçonete zé ninguém no conto "A Assassina e a Curandeira", e essa pessoa virou a possível herdeira da mais famosa Ordem de Curandeiros do mundo, uma das mais habilidosas, a abençoada pelos poderes da própria deusa Silba, a que caiu em boa graça não só com um, mas dois herdeiros de um dos mais respeitados Impérios do mundo. E que foi justamente a designada a curar o Chaol, o elo para a volta dela para história principal.
Celaena também esbarrou em um mercador no conto "A Assassina e o Deserto", um homem que se viu arrependido da barganha que fez para conseguir um rolo inteiro de Seda de Aranha, e estava a procura de alguém habilidoso o suficiente para matar a aranha que lhe tomou 20 anos de vida. O nome dele nunca foi dito, apenas que aparentava ter meia idade, cabelos castanhos e intensos olhos azuis escuros. Para mim mais do que o suficiente para dizer que ele é Falkan, mas SJM não sabe os prazeres da simplicidade... Não... Falkan também está em Antica, entrelaçando sua pequena história com Nesryn e Sartaq, e para dar mais sutileza ao arco ele tem que ser um metamorfo... Mas isso não é tudo, ele também precisa ser o tio da Lysandra. Geeentee....
Mas também né, o que esperar de uma história que não teve nenhum senso de normalidade e pé no chão desde a primeira página, cada personagem precisa ter uma validação de sua posição para ter qualquer importância na história. São reis, rainhas e lordes se relacionando com os féricos poderosos e lindos (se for feio e fraco vira figurante, mas duvido que tenha alguém feio no livro). SJM tinha na mão a história de uma fuckin' assassina que iria lutar contra o sistema, uma pária da sociedade, mas isso foi uma doce ilusão, na verdade ela era a herdeira perdida de Terrasen, e a herdeira de Brannon (só isso!), Rowan é príncipe, Aedion também...Dorian é outro rei, Manon é herdeira das Crochan, Elide é lady de Perranth, Chaol é lorde também, Nesryn vai ser a futura imperatriz do Khaganate. É a gentrificação de Erileia.
No geral SJM fica tão ocupada puxando saco e vangloriando os personagens principais que esqueceu de desenvolver o vilãozinho. Ele é citado ao longo de todo o livro, mas nunca foi dada muita atenção à investigação do problema, no final ele simplesmente se revela.
“it certainly took you long enough.”
“I was waiting for you to figure out it was me (...) But then I realized—how could you suspect me?”
Exatamente. Como? Se não teve nenhuma dica. Esse tipo de revelação que só tem o intuito de surpreender empobrece a narração.
No geral, achei esse livro patético, o fundo do poço, a raspa do tacho de tudo que Sarah já criou até hoje, e olha que tem umas coisas aí de gosto bem duvidoso. Ela continua o seu padrãozinho de que todo personagem precisa ser casal, não pode ficar solteiro. Os homens de sua história voltam a seguir um esteriótipo que basicamente todo homem em suas histórias tem. Possessivos, disfarçadamente machistas, com aquela dose de arrogância para ser sexy e todos inclinados ao tom dramático de se expressar. Aaahh, e lógico, perfeitos deuses gregos com físico impecável. Isso vale para homens e mulheres, que sempre aceitam estar a sombra desses homens e se acham a última bolacha do pacote por terem conseguido conquistar esses homão.
Eu tenho muito, muito, muito mais para reclamar, dissecar todos os detalhes que me fizeram revirar os olhos durante toda a leitura, que me fizeram largar o ebook, que fizeram as minhas entranhas se contorcerem. Não vai dar tempo de falar quase nada do que eu queria, porque tem um personagem em especial que simplesmente dominou toda a minha raiva e eu vou devolver a gentileza falando mal só dele.
Eu não aguento mais o Chaol!!!
Mania de se vitimizar a todo custo, a dor dele é maior, os problemas dele são maiores, o arrependimento dele é maior, os erros que ele cometeu são maiores... O paladino dourado que precisa salvar tudo e todos, precisa consertar todos os erros, mania de querer carregar o peso do mundo nas costas. AFFE! Tudo tem que ser sobre ele, e mesmo quando não é, ele faz ser. Ele colocou tudo de ruim que aconteceu no mundo e com os amigos como culpa dele, porque o ego desse indivíduo é grande o bastante para achar que tudo de errado que aconteceu foi porque ele não foi bom o bastante.
A gente passa boa parte do livro vendo a história contada por seus olhos, estando ali, na morada de toda a tragédia, dentro da cabeça do desgraçado, e passar um capítulo dentro da cabeça do Chaol é vergonhoso. Pensamentos tóxicos, mesquinhos, nojentos e pequenos. Ele é uma pessoa medíocre e patética, que não mereceu nada de bom que aconteceu com ele no final do livro. Eu sei que no final vimos que ele tem/tinha depressão, mas eu acho que essa pequenez interior é dele mesmo, não é um reflexo da sua doença. Não é sobre o que ele faz, como ele faz ou como ele se diz ser, são aqueles momentos de verdade nua e crua que o tiram de trás do manto do personagem bom e honrado e o revelam. E tem muitos momentos assim.
Eu poderia esmiuçar todas as passagens ditas e pensadas por ele, mas eu não vou focar nesse espírito de porco disfarçado por trás de toda a sua glória e benevolência, porque eu não tenho condições psicológicas de destrinchar esse assunto sem passar raiva. Já que ele se esforça tanto em parecer ser bom, eu vou fingir que acredito e falar sobre como ele se mostra, e não como ele realmente é.
[LÁ VEM OS SPOILERS!]
Eu preciso fazer umas menções honrosas do comportamento do Chaol dentro da história. Desde o começo estava na cara que ele iria ficar com a Yrene, e a Nesryn já estava se achegando no Satarq também. Foi quase de comum acordo o distanciamento dos dois, embora nenhum tenha falado sobre isso abertamente, então eles meio que eram um 'casal', mas sem serem um casal. A gente via o Chaol se encantando pela Yrene, sorrisinhos, conversinhas, olhadas para a coxa dela, encaradas na boca, flertes e tudo mais... Mas o Chaol se acha a própria Virgem Maria Adarliana, então ele estava se sentindo culpado por sentir essas coisas pela Yrene enquanto ainda estava com a Nesryn. Lendo assim, tudo parece lindo, olha que homem maravilhoso, correto, não pensando em si, mas respeitando as pessoas envolvidas na situação... Aaaaaté que quem faz o movimento para eles terminarem é a Nesryn, meniiinaaa.... O Chaol fica super puto - P U T O - e fica cheio de putisse e grosseria para cima da Yrene, sem nem se dar ao trabalho de explicar nada para a coitada, só fica de bico porque a Nesryn escolheu ir para as montanhas com o Sartaq e contou a decisão dela por uma carta.
Sem falar que esse romance entre Yrene e Chaol é ridículo. O antagonismo inicial entre os dois extremamente forçado, a Yrene começa odiando o Chaol e uma semana depois já tá toda "ele deu um sorriso que desfez o nó que eu sentia dentro do peito". Aaahhh, faça-me o favor!!! E terminaram o livro abrindo mão da própria vida pelo outro.
Um outro momento que preciso falar é quando o Chaol tem uma reunião péssima com o Imperador e ele recebe outra carta da Nesryn dizendo que ela vai ficar mais um tempo nas montanhas dos rukhin... Ou seja, ela não tá nem aí pro Chaol e os dramas dele. E daí ele começa a ser super babaca com a Yrene, babaca nível escroto, nível morre desgraça, nível chorume de lixão. Tão, tão tão lixo que a Yrene preocupada com ele e com os progressos que fizeram com a paralisia dele, volta para tentar ajudar e o Chaol manda essa:
"I knew another woman who lost as much as you. And do you know what she did with it—that loss?” “She hunted down the people responsible for it and obliterated them. What the hell have you bothered to do these years?”
Apenas Não!
Mas o Chaol ainda piora, o ponto alto dele no livro é o momento da sua 'redenção'. Então somos introduzidos ao tema da suposta depressão que ele tem. As sementinhas dos problemas que o levaram até aqui foram muito bem plantadas e desenvolvidas, é só lembrar de como ele reagiu quando descobriu quem era a Celaena e mesmo assim tentou protegê-la, falhou em proteger o Dorian e por ter aceitado fugir enquanto o Dorian ficou para trás. Ele se culpa pela morte da Nehemia, da Sorcha, dos amigos da Guarda que também foram torturados. Ele quebrou o juramento que fez para o pai, além do peso de toda a sua história familiar. Poxa, é bastante coisa para tirar o controle emocional de uma pessoa. Então o Chaol está quebrado e muitas coisas que acontecem com ele criam um gatilho para tudo que ele vivenciou no passado.
Se ele fosse menos cabeça dura e orgulhoso, nós teríamos nos livrado de umas 600 páginas de enrolação, porque logo que ele conhece a Yrene, uma das primeiras ordens que ela dá é para ele desabafar, se abrir, se permitir curar. Mas não, ele é muito orgulhoso para isso, imagina Chaol, o cavaleiro honrado precisando de ajuda para lidar com os próprios problemas. Então a gente passa o livro inteiro acompanhando o tratamento para ele voltar a andar, que no final é resolvido com a maturidade da auto compreensão e não pela 'medicina', lógico que ela ajuda, mas a cura só veio porque o Chaol se permitiu.
A gente acompanha esse momento do ponto de vista dele. Atirem pedras em mim se eu estiver errada, mas eu entendi que a função desse capítulo era para o Chaol fazer as pazes consigo mesmo, porque evidencia os seus medos, erros, culpas e vergonhas para que no final ele decida seguir em frente. Mas aí, praticamente metade desse capítulo de auto conhecimento e perdão é dedicado à Celaena! Tipo, COMO ASSIM?? Quer dizer que para ele seguir em frente ele tem que perdoar a Celaena??? Que é culpa da Celeana toda essa espiral de ressentimento e sofrimento que ele passa??? Todos esses pensamentos que ele nutre por ela são realmente verdadeiros??? Se for, ele é mais baixo do que eu imaginava.
"Everything he had done, Aelin had come to rip it apart. Starting with his honor."
"He hated her."
"He hated that face, the amusement and sharpness. The temper and viciousness that could reduce someone to shreds without so much as a word—only a look. Only a beat of silence."
"And he had been so bewitched by it, this woman who had been a living flame. He’d been willing to leave it all behind. The honor. The vows he’d made. For this haughty, swaggering, self-righteous woman, he had shattered parts of himself. And afterward, she had walked away, as if he were a broken toy. Right into the arms of that Fae Prince."
"He hated them."
"He hated them for that ease, that intensity, that sense of completion."
"She had wrecked him, wrecked his life, and had then strolled right to this prince."
"And when it had all gone to hell, when he’d turned his back on everything he knew, when he had lied to the one who mattered most to keep her secrets, she had not been there to fight. To help."
"She had only returned, months later, and thrown it in his face."
Quer dizer que o Chaol é tão o suprassumo da bondade que para viver melhor consigo mesmo ele vai perdoar a Celeana por ser responsável por essa vida miserável que ele viveu até agora? Não, não... Melhor... Ele vai perdoar a si mesmo por sentir esses sentimentos causados por uma mulher perversa e indigna. Esse é realmente o tamanho do ego desse rapaz? Sério gente, eu não estou sabendo lidar.
Ele se odeia por ter amado ela, por ter protegido ela, ele odeia quem a Celeana é, o que ela fez, e nada mais faz sentido, porque ele também odeia o Rowan, meoo, isso é ciúme! Ele odeia ter sentido ciúme desse monstro que a Celeana é. E mesmo assim, tendo se odiado por tudo isso, tendo odiado ela mais ainda, ele odeia muito mais o fato dela não estar por perto para salvar o Dorian quando ele não pôde. Tipo "ow, você já é um monstro lixoso que eu tenho vergonha de amar, mas pelo menos cumpra o seu papel e nos defenda..."
"She meant those words. 'I’m sorry.'
Sorry for the lies. For what she had done to him, his life. For swearing that she would pick him, choose him, no matter what. Always.
He wanted to hate her for that lie. That false promise, which she had discarded in the misty forests of Wendlyn."
Toda essa raiva que o Chaol guarda dentro dele é porque ele foi trocado?
Isso seria resolvido por três horas de música sertaneja e um barril de cerveja. Bola que segue né gente...
O Chaol meio que entende a Celeana e a perdoa porque percebe que cometeu erros parecidos, promessas quebradas. E fica pior, quando o paladinho dourado salvador dos bons costumes diz que "até a Aelin" agiu melhor do que ele quando ele revela a sua culpa por ter "traído" a Nesryn. O que na verdade não aconteceu, mas um respingo de má conduta na armadura resplandescente do Chaol parece ser um ato gravíssimo. E ele se culpa por isso, por ter ficado com a Yrene antes de terminar olho no olho com a Nesryn.
"And yet he had still failed. Hadn’t done right by her, or by Nesryn. He should have waited, should have respected them both enough to end one and begin with another, but he supposed he had failed in that, too."
"Chaol had been lusting for Yrene, had taken her into his bed without so much as thinking of Nesryn, and yet Aelin... She had fallen in love with someone else, had wanted someone else—as badly as he wanted Yrene. And yet it was Aelin, godless and irreverent, who had honored him. More than he’d honored Nesryn."
Eu quero acreditar que ele tem depressão mesmo, porque senão nada faz sentido, mas ele se cura com uma sessão miraculosa de perdão. E a partir daí tudo ficou bem. Simples assim, depois de anos de sofrimento e culpa. Agora ele tá super bem... Pronto pra outra.
Se vocês lembrarem bem o estopim dessa situação na história foi exatamente o Chaol estar sendo corroído pela culpa de estar tão feliz com a Yrene enquanto ele não tinha terminado olho no olho com a Nesryn. Ele estava TÃO culpado que toda a melhora que ele tinha realizado até o momento simplesmente regrediu. Ele lidou com essa culpa na sua cura espiritual, e se perdoou, mas eu não achei que ele iria partir pra outra tão rápido. Gente... Geeeennnteeee.... Geeenntteee.... Sério, acho que não deu dez minutos... Ele estava transando com a Yrene, sem ter terminado com a Nesryn, transaram na banheira e depois transaram no quarto, mas foi tanto... que eles estavam tão suados que dava para voltar para a banheira e transar mais um pouquinho. Então toda essa sessão de auto conhecimento e perdão não foi para agir corretamente a partir de agora, era só para ligar o foda-se e não se corroer por agir errado.
Nem vou falar de Nesryn e Sartaq, sei lá, perto de Chaol e Yeren eles parecem um núcleo legal e tem um desenvolvimento melhor, mas se analisar sem esse comparativo não é lá essas coisas também. Pelo menos o Sartaq parece um homem melhor que todos os outros homens criados pela Sarah nesse universo, acho que toda vez que ele falou de abrir mão de coisas pela Nesryn ele foi honesto. Mas acho que ainda não fui convencida do amor dos dois, precisava de uma pouco mais de intensidade e ações concretas.
Acabo esse livro totalmente decepcionada, e cada vez com mais ranço da autora, da repetição que ela mesma traz dentro das suas histórias, da reciclagem de enrendo, de personagens copia e cola, das mesmas frases prontas nos diálogos. A narração é sempre igual, usando os mesmos artifícios para impressionar e dramatizar. Isso tudo acompanhado por um enredo que não empolga. Ainda bem que a série está acabando porque senão eu não chegaria no final.
(Só não dei nota 0,5, porque a nota pelo site não permite)