O ano do pensamento mágico

O ano do pensamento mágico Joan Didion




Resenhas - O Ano do Pensamento Mágico


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Flávia Menezes 24/08/2023

? WHO'S GONNA DRIVE YOU HOME, TONIGHT?
?O Ano do Pensamento Mágico? é um livro de não-ficção que conta a experiência de luto vivido pela escritora, jornalista, ensaísta e romancista americana Joan Didion, após o falecimento repentino do seu marido, o roteirista estadunidense John Gregory Dunne.

Não estava nos meus planos ler esse livro, mas depois de tanto vê-lo passando pelos feeds do Instagram, ou mesmo nas leituras gerais aqui do Skoob, unido a curiosidade de novamente ler algo escrito por um jornalista (o tipo de narrativa pelo qual Capote me fez ficar fascinada!) aguçou ainda mais a minha vontade de dar uma olhada no que a Joan tinha a me dizer.

Não vou negar, mas esse não é um livro nada fácil de se ler. É fato que falar sobre morte e luto é um tema por si só muito sombrio, deprimente, e a Joan não nos poupa de todos os detalhes, nem mesmo de suas várias pesquisas sobre o assunto.

Mas apesar dos capítulos tristes, e repletos de todos os fatos que envolveram o motivo pelo qual John Dunne deixou essa vida, esse não é um livro sobre a morte, mas sobre duas pessoas que estavam destinada a se encontrar e passar por essa vida juntas para se amar, cuidar, tanto quanto para ajudar o outro crescer, e a sonhar e construir muitos projetos grandiosos juntos.

John e Joan (desculpe ser piegas, mas eu acho tão bonitinho como o nome deles combinavam, começando com a mesma letra?) não foram apenas parceiros na vida, mas parceiros na carreira (escritores). Ao lado do marido, Joan colaborou com diversos roteiros, e era ele o primeiro a ler todos os seus textos (romances e ainda as suas colunas para o The New York Review of Books e para a revista The New Yorker), dando a ela ideias, mas principalmente corrigindo muitos dos seus erros gramaticais e textuais. John foi seu marido, seu parceiro, mas também foi o seu editor, o seu revisor, e o seu principal incentivador.

?Durante quarenta anos, vi a mim mesma através dos olhos de John. Não envelheci. Este ano, pela primeira vez desde que tinha 29 anos, eu me vi através dos olhos dos outros. Este ano, pela primeira vez desde que tinha 29 anos, eu me dei conta de que a imagem que eu tinha de mim mesma era de uma pessoa significativamente mais jovem?.

No filme ?Avatar?, por diversas vezes é usada a expressão ?Eu vejo você?. Nessas três palavras, existe muito mais do que o perceber como o outro é exteriormente, mas está implícito um aceitar tudo o que vejo, mesmo quando algo não me agrada, ou está fora dos padrões e moldes do que eu acredito. Ver o outro é ver a sua luz, sua alma, sua sinceridade, tanto quanto suas falhas (mesmo as mais feias) e aceitá-las como são sem julgamentos, culpas, expectativas ou projeções.

E é exatamente sobre isso que a Joan fala na citação acima: John a via como ela era, e a aceitava como ela era, com tudo o que ela tinha. E isso não implica em não haver brigas, em não corrigir o outro. Porque uma coisa é aceitar tudo o que o outro é, e outra é aceitar tudo o que o outro faz.

Mas é só aceitando tudo o que o outro é, é que somos verdadeiramente capazes de poder lidar com tudo o que ele faz. Porque nesses momentos mais difíceis de desentendimento, haverá um olhar amoroso que não pensará no outro como se ele fosse apenas o seu erro, anulando assim tudo o que de bom existe dentro dele (tudo o que ele é) e o que de bom ele tem a oferecer à relação (tudo o que ele traz).

E é exatamente esse olhar de amor que eu vejo nas palavras da Joan, quando diz que não envelheceu um dia sequer ao lado do John. Porque ele não olhava para a Joan exterior, mas sim para quem ela realmente era. E isso a fazia se sentir sempre a mesma mulher por quem um dia ele se apaixonou. Porque ela era a Joan do John. Não a sua idade, ou o seu envelhecimento.

Que lição de vida essa, não é mesmo? Quem é que faz isso nos nossos dias atuais? Quem é que se dispõe?

Por isso que hoje em dia se fala tanto em responsabilidade afetiva. Porque no encontro entre duas pessoas, sempre vai haver um que está mais atento. Sempre existe aquele que repara, que percebe...os gestos, as expressões, as manias, as falhas.... e se encanta com o que vai percebendo. E por que não se encantaria? Por que estar com alguém se é para olhar não para ele, mas através dele como em um tipo de efeito Poltergeist? Que sentido há nisso?

?Somos seres mortais imperfeitos, conscientes dessa mortalidade mesmo quando a negamos, traídos por nossa própria complexidade, tão incorporada que quando choramos a perda de seres amados também estamos chorando, para o bem ou para o mal, por nós mesmos. Pela perda daquilo que éramos. Do que não somos mais. Do que um dia não seremos de todo?.

Difícil ser um quando só se sabe ser dois, não é? Quando essa é a nossa melhor versão. Eu acho que isso é algo que a nossa humanidade precisa aprender mais. A deixarmos de ser tão egoístas e mesquinhos, para pensar mais em dupla. E eu preciso confessar: mas como é gostoso poder pensar assim! Que complitude isso nos traz!

O que eu achei mais bonito nos relatos da Joan, é que dá para sentir o John em cada uma de suas palavras. Era ele quem conduzia, quem decidia, mesmo sendo ela uma mulher repleta de atitudes. Mas na relação, a vida era assim, e funcionava muito bem obrigada! E mesmo quando ela queria estar sempre certa, ele a questionava todo impaciente: mas por que é que sempre tem que ser assim? Por que você sempre quer ter razão?

Mas sabe... foi exatamente essas marcas (suas correções que mostravam como ele a via, como a amava e se importava) que permaneceram na Joan depois que o John se foi. Mas não um John sozinho, mas sim o John da Joan. E eu tenho que te dizer que nesses momentos, em cada linha em que ela falava dele numa intensidade a ponto de também poder sentir a sua presença, eu chorei com ela por sua perda, e por sua saudade sem fim.

?O Ano do Pensamento Mágico? pode até não ser um livro fácil de ler por conta da sua temática, ou pelas partes em que Joan se debruça demasiadamente na sua mente racional para tentar explicar as coisas (morte, luto, terminologias médicas, diagnósticos e prognósticos...), mas mesmo sendo até um pouco cansativas algumas partes, eu não pude, em momento algum, deixar de ter empatia por ela.

Peguei esse livro e o li como se ela estivesse diante mim contando a sua história. E mesmo nas partes mais lentas, eu permiti que ela contasse a sua forma, no seu tempo e conforme a sua dor necessitasse (é fato que ela precisava falar dele com todos os detalhes, e eu não a interrompi). E ao final desse exercício de paciência e compaixão, eu me senti transformada por ela. Não por sua visão de morte, ou de perda. Mas pela sua visão do amor maduro, do relacionamento cheio de entregas e renúncias que ela viveu ao lado do seu John. E isso nunca mais sairá de dentro de mim.

De fato, eu posso lhes contar um segredo? Dizem que chegamos a esse mundo a sós, e deixamos esse mundo também sós, mas eu realmente acredito que no momento derradeiro da vida da Joan, o John estava lá para conduzi-la. E por esse tão grande amor, que nada tinha de romântico, mas de uma parceria verdadeira, é que termino essa resenha com a parte que mais me emocionou desse laço bonito que ligou John e Joan nessa vida (e certamente para além dela):

?Antes do jantar, John se sentou perto da lareira na sala de estar e leu para mim em voz alta. O livro que lia era um de meus romances, ?A Book of Common Prayer?, que estava na sala porque ele o estava relendo para ver como funcionava uma questão técnica.(?)
? Cacete! ? John falou quando fechou o livro. ? Nunca mais me diga que não sabe escrever. Este é meu presente de aniversário para você.
Eu me lembro de ficar com lágrimas nos olhos. Sinto as lágrimas agora.?

Eu também as sinto, Joan. Eu também sinto!?
Fabio 24/08/2023minha estante
Uma resenha profunda, delicada e poética!
Mais uma obra de arte!?
Parabéns Flávia, querida, por esse colírio aos nossos olhos!


Flávia Menezes 24/08/2023minha estante
Aaah Fábio! Fiquei até sem jeito agora!?
E eu aqui, toda receosa de não ter conseguido passar a mensagem desse livro! Obrigada de todo o meu coração, meu querido, pelas palavras sempre carinhosas! ????


RayLima 25/08/2023minha estante
Já queria ler e com essa resenha fiquei mais ansiosa ainda!


Flávia Menezes 25/08/2023minha estante
Ray, que bom ler isso. É um livro bem intenso, mas bem emocionante mesmo. Vale a pena! E espero que goste! ?


AndrAa58 25/08/2023minha estante
Que resenha maravilhosa, Flávia. Também senti as lágrimas das duas. E esse será mais um que entrará na lista graças a você.
Você escreve?


Flávia Menezes 25/08/2023minha estante
Andrea, muito obrigada pelas palavras! E tenho certeza de que vai gostar muito dessa leitura!
Sobre escrever? olha, Andrea? além de ler é algo que eu gosto muito de fazer desde à infância. ??


AndrAa58 25/08/2023minha estante
Quero ler algo seu. É possível?


Flávia Menezes 25/08/2023minha estante
Claro, Andrea. Tenho que olhar direitinho? ver o que seria bacana.. daí eu te mostro sim.


AndrAa58 25/08/2023minha estante
Oba! ?


Fofa 06/09/2023minha estante
Terminei de ler ontem, denso, profundo e igualmente maravilhoso.
Chego aqui e me deparo com essa resenha.
Coisa mais linda Flávia, obrigada!


Flávia Menezes 06/09/2023minha estante
Linda essa leitura, não é Ana Amélia! Também fiquei bem tocada. E muito obrigada pelas palavras sobre a resenha! Nossa. Que bom ler isso! Gratidão! ??


joaoggur 23/01/2024minha estante
Resenha cirúrgica; não é um livro sobre luto, e sim sobre amor. Parabéns pelo texto.


Flávia Menezes 23/01/2024minha estante
Muito obrigada, João! A escrita tão especial da Joan é inspiradora!!!




Ricardo Paes 24/03/2012

Elaborando as perdas
Escrever pode se tornar uma excelente maneira de elaborar a única lição que se tira dessa vida: a de que estamos de passagem e que precisamos aprender a perder. Acompanhei de perto muitos que sofreram perdas, além de mim mesmo, e sempre aconselhei que a auto-expressão (e não a auto-piedade) e a troca com outras "vítimas" - dessa contingência da vida que é a morte -, poderiam constituir um grande bálsamo, um remédio para o que não tem remédio.

Aconselho ao leitor desavisado que espera encontrar uma coleção de receitas de como fazer isso que procure em outra parte. A autora percorre diferentes fontes em busca de respostas que tornem seu repentino comportamento de negação, fantasiando que o marido voltará (embora providencie autópsia, velório e cremação como qualquer viúva "normal" o faria), em algo razoavelmente bem explicado. Esse surto do "pensamento mágico", até o ponto em que estou no livro, me remete a dezenas de outros exemplos que, se relatados, teriam tornado o texto mais palatável, menos anglo-saxão e mais com o sabor dos 'causos' tão medicinais quanto divertidos.

Trata-se mais de um livro de desnudamento frente a própria perplexidade diante da perda sucessiva de dois entes queridos - o marido e a filha. O texto é bem escrito e a tradução competente. Recomendo aos que apreciam o gênero. Penso que fui até a última linha, pois fantasiei que, de algum modo, encontraria uma lição diversa da que já me tinha oferecido a própria vida.
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Silvana (@delivroemlivro) 18/05/2010minha estante
Olá! Gostaria apenas de elogiar a sua resenha sobre O ano do Pensamento Mágico. Sensível, perspicaz e objetivo. Parabéns!




Leticia 30/01/2022

Uma leitura sobre a morte, mas não sobre o que ela faz sobre o morrente, mas nas marcas que ela deixa nos viventes, o vazio, a falta, a desorientação, a vertigem sufocante e a dor da memória. Isso me faz pensar que a memória, além de oferecer uma continuidade aos instantes vividos, de conservação mesmo diante a passagem do tempo, tem seu caráter doloroso. Dói lembrar do que foi um dia e que nunca mais será, dói lembrar que lembranças nunca mais serão mais que lembranças, não tem como corporificar a lembrança, é uma abstração que se presentifica pela dor, talvez chegue o dia que não seja mais dor.

Foi uma leitura que conversou bastante comigo, e conversará com todos que já experienciaram a dor excruciante do luto ou com aqueles que tenham curiosidade sobre o tema.
Aqui Joan fala da morte de seu marido John e de sua filha Quintana, e ao mesmo tempo faz uma série de reflexões sobre a vida, relacionamentos e o morrer.

"Apenas aqueles que sobrevivem a uma morte ficam de fato sozinhos. As conexões que constituíam sua vida - tanto as profundas quanto as aparentes insignificantes (até serem rompidas) - desaparecem por inteiro [...] Eu não seria capaz de contar quantas vezes em um dia normal acontecia algo que eu precisava a ele. Esse impulso não cessou com a morte. O que cessou foi a possibilidade de resposta [...] éramos igualmente incapazes de imaginar a realidade da vida sem o outro..."
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Nyllaine 07/04/2024

É a vida que desaparece em um fio
?Você se senta para jantar e a vida que você conhece termina.? É com essa frase que se inicia esse livro de memórias da autora. Repleto de reflexões, pensamentos perdidos e desencontrados, desfrutamos do peito ofegante, das incertezas e angústias do processo. Pode-se dizer que é um livro com urgente sentimento de falta, sim, algo está faltando entre as páginas... Algo que jamais será preenchido outra vez. Cada lembrança descrita, cada pensamento turvo. É o relato cru e natural do luto!!!!

Eu tinha como meta pessoal ler esse livro e estou feliz por ter conseguido e aprendido tanto com os sentimentos da Joan Didion. É tudo tão intenso, tão real... Toca lá na alma! A dor de perder alguém que se ama é uma experiência dolorosa e o processo de aceitação é diferente para cada pessoa, e confesso que fiquei admirada com o auto controle que ela lidou com a fase mais desafiadora da sua vida.
Helena1004 07/04/2024minha estante
Esse livro foi uma das experiências mais emocionantes que já tive!!!!


Nyllaine 07/04/2024minha estante
Guardei lições valiosas.




joaoggur 27/01/2024

O ano dos infortúnios.
Temos aqui um belo relato sobre o luto. Era mais uma noite normal, mais um simples jantar, quando o escritor e marido da autora, John Gregory, em repente tombara para o lado. Chamar os paramédicos e colocá-lo na ambulância não foi suficiente; morrera. E, em meio a este cenário, teria que lidar com outro grave problema; sua filha, Quintana, estava acamada e em coma.

Tocada com o evento traumatizante, Joan Didion (uma excelente autora, mesmo com o mercado editorial Brasileiro ainda não lhe proporcionando a relevância merecida) tentara achar métodos terapêuticos para lidar com o luto, e optara por aquilo que ela e seu marido sempre fizeram, sozinhos ou em conjunto; escrever.

Os relatos sobre a morte são densos. A repetição, o incessante voltar da narrativa para a trágica noite de 30 de Dezembro de 2003, não cansa o leitor; os eventos que tecem sua morte são mesclados com memórias da autora, o que faz nos envolvermos com o casal e com sua filha. Paradoxalmente, a poética da escrita está em sua crueza, na inevitabilidade de um marido morto e de uma filha doente.

Não posso ignorar os monótonos momentos dos rodeios médicos, tal como os trechos onde há a citação de romances da própria autora ou de seu marido; pelas obras nunca terem sido lançadas no Brasil, não me cativei em nenhum momento, e mesmo entendendo a pessoalidade da memória, não posso dizer que não são momentos anti-climáticos.

Um relato lindo, que, muito mais do que falar sobre um falecido, diz nas entrelinhas como o amor pode nos impactar. Vale a leitura. Por vezes me lembrou muito os relatos de Annie Ernaux.
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oimandys 12/05/2022

Demorei cerca de um mês para ler esse livro...não que o tempo seja importante, cada um tem seu ritmo de leitura e disposição. A questão é que esse livro falou comigo de tantas formas, mexeu em tantos lugares, doeu em tantos pontos...que não dava pra ler por ler.

O relato de Joan dói. Pq é real, por que ela descreve (ou tenta) a dor em detalhes, em suas mais variadas formas e possibilidades. Pq ela nos escancara que a morte está ali na esquina ou no cômodo da nossa casa...e que não faremos nada pra evitar isso...por mais que tentemos.

É uma leitura deliciosa de ser feita (em relação a escrita, narrativa), lindíssima em reflexões porém mexe... não que isso seja ruim, né?

Favoritado com ctz ?
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Fabio.Nunes 28/03/2024

Angustiante
Comecei a leitura desse livro e antes da página 20 eu já dizia a mim mesmo: por que car@&$os eu fui começar essa leitura?
Este aqui é um livro que trata do processo de luto e do medo da morte de uma pessoa amada.
Nele, Joan Didion nos apresenta suas experiências, pensamentos, desespero diante da hospitalização da filha e da perda do marido.
Se você, como eu, tem a tendência de, enquanto lê, viajar em seus pensamentos com os elementos da leitura, então eu te digo: cuidado!
Se você passou a pouco tempo por uma experiência de luto: cuidado. Deixe essa leitura para depois.
No mais, considerei um livro bom, mas nada extraordinário, tendo em vista que do meio para o final o texto fica repetitivo.
Rogéria Martins 28/03/2024minha estante
Boa resenha, Fábio! Tenho muita dificuldade em lidar com luto ainda, por uma perda recente, só este ano já larguei dois livros por causa disso.
Bom demais ler suas considerações!


Fabio.Nunes 28/03/2024minha estante
Rogéria, eu nem me dediquei a essa resenha, sabe. Foi angustiante ficar imaginando demais enquanto lia. Eu só queria terminar rsrs




Elizabeth 25/11/2022

Leve
Este livro me trouxe lembranças, me fez parar de ler para respirar. Mas ajuda muito no luto, de uma forma mas leve, nos temos que aproveitar a oportunidade de estarmos vivos.
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Jackie! 01/10/2023

Não há nada de mágico sobre o luto.
Pessoalmente acho bem difícil "julgar" livros com temas tão pessoais assim. Analisando a história com base na experiência que eu vivenciei enquanto lia, posso dizer que não foi uma das melhores, mas não por conta da história em si, apenas não gostei da forma como ela transcreveu esse momento.

As partes que focam nas reações dela e a descrição dos fatos ocorridos, são bem emocionantes e dificilmente o leitor não se sentirá embalado por esses sentimentos que ela relata. Só que infelizmente a escritora insere inúmeros dados teóricos e filosóficos de opiniões de terceiros sobre a questão do que é o luto. E eu até entendo que ela realmente usou isso na época do ocorrido, como um artifício para entender suas próprias emoções, mas essas passagens não funcionaram pra mim, eles de fato deixaram a leitura maçante e impessoal.
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Edu 05/09/2021

Ensaio sobre o luto
O que fazemos com a ausência definitivado outro? Quem nos tornamos? O que pensamos? O que fazemos? Como lidamos com o luto?

As respostas são variavelmente infindáveis, mas perceber-se, olhar para si e questionar-se durante esse momento é um caminho de autoconhecimento que a autora nos leva.

Poderia ser um livro de autoajuda, de autopieade ou de exploração da dor. Mas o caminho aqui é uma tentativa vã de racionalizar o luto e isso, por si só, pode ser libertador.
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Rodrigo de Lorenzi 13/05/2021

Bonito em algumas partes
Há passagens muitos lindas nesse livro. Relatos que expressam muito bem a dor do luto e como viver com uma ausência.

"A vida muda rapidamente. A vida muda em um instante. Você se senta para jantar, e a vida que você conhecia termina".

Entretanto, o livro perde um pouco do impacto pra mim quando a autora se embola dentro das suas próprias memórias. Entendo que é um livro sobre a história pessoal da escritora, mas fica difícil criar uma conexão com ela quando ela descreve memórias de hotéis luxuosos, restaurantes, quando ela lembra a vida glamourosa dos dois, os projetos importantes, o apartamento de luxo. Achei difícil me ver naquela mulher porque a impressão é que ela estava tentando se promover a todo instante. Por causa disso, me distanciei em algum momento do livro. Mas é bonito.

site: www.youtube.com/vinoserie
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Debora 01/06/2020

Doloroso e lindo, como a vida.
É um livro sobre o luto, escrito de forma honesta e belíssima, sob o ponto de vista de quem perdeu o companheiro de vida há 40 anos, e busca entender como seguir nessa realidade em que todas as referências parecem perdidas no instante em que alguém partiu.
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Bia Brasil 25/08/2022

"A vida muda rapidamente. A vida muda em um instante." É assim que Joan Didion começa o livro que conta a sua vivência sobre quando o seu marido, de um casamento de mais de 40 anos, morre subitamente.

Passando pelo sentimento do luto e o de adaptação a uma nova vida, esse é um daqueles livros que você se conecta de verdade com a história e com as situações enfrentadas pela autora. Me peguei muitas vezes tão engajada pela leitura que me via, assim como Joan Didion, torcendo para que o seu marido voltasse, e eu nem ao menos já tinha ouvido falar dele.

É um livro que vai te levar em uma viagem pela cabeça da autora e que vai te prender até a última página. Recomendo muito!
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Coruja 03/08/2021

Se há uma certeza na vida, é a morte. É uma verdade inescapável e, nesse último ano e meio, provavelmente tivemos mais consciência que nunca de nossa própria mortalidade e também daqueles que amamos. Com mais de meio milhão de mortos apenas em nosso país, difícil encontrar alguém que não tenha perdido alguém próximo, parente, amigo, conhecido que seja. Através das notícias que nos chegam, vivemos diariamente o luto - um luto individual e também coletivo, um lamento pelas histórias e esperanças que se apagaram antes do tempo, pelos ídolos que se vão, por um senso de segurança que não sabíamos existir e que, agora sabemos, nunca voltará ao que era antes.

Foi nesse contexto que comecei a me embrenhar por livros sobre o luto: próximo a completar o aniversário de um ano da morte de tia Gilda - irmã mais velha da minha mãe, que se foi logo no início da pandemia e nos tirou o chão com a angústia de quase dois meses internada. Alguns deles estavam na minha lista há muito: C. S. Lewis e seu A Anatomia de um Luto desde que li a biografia do autor, para escrever o especial sobre Nárnia; Joan Didion e O Ano do Pensamento Mágico quando bati o olho no título e vi a sinopse; F de Falcão da Helen Macdonald, indicação reiterada de uma amiga querida. Notas sobre o Luto, da Chimamanda Adichie veio por último, mas amarrava tudo por ter sido escrito exatamente no auge da pandemia, e trazer as peculiaridades de uma perda no momento que estamos vivendo.

Escrevo sobre “as peculiaridades” do luto em quarentena e faço caretas para mim mesma. Mas não consigo deixar de pensar que viver o luto hoje - e é necessário vivenciá-lo para superá-lo - é muito mais difícil do que antes do covid. O isolamento nos obrigou a abrir mão de muitos dos rituais que fazem parte desse processo; rituais que consolam, que nos aproximam da memória daqueles que perdemos, que nos permitem buscar conforto naqueles que compartilham conosco essa ausência.

(...)

Joan Didion escreve sobre um luto diferente em O Ano do Pensamento Mágico: a experiência de perder o marido, John Gregory Dunne, o companheiro de uma vida inteira, de forma completamente inesperada. O contexto em que tudo acontece é desesperador: a filha Quintana está internada na UTI em estado crítico, ela volta com o marido de uma visita ao hospital, eles se sentam para jantar e, de repente, ele cai no chão: é um infarto fulminante e não há nada que ela possa realmente fazer.

Durante um ano, acompanhamos esse diário - ou mais um fluxo de consciência intermitente - de como ela encara a perda do marido, a quase perda da filha (que quase que logo após ter alta, tem outro problema de saúde que quase a leva de vez), as tentativas de fazer, buscar sentido no que está sentindo. Ela se embrenha em suas memórias, lê livros de medicina, outros diários de enlutados (Lewis é uma das leituras que ela faz também), até mesmo volumes de etiqueta (de uma época em que havia muitos outros rituais em torno do período de luto).

E nesse tempo todo, ela reluta em realmente aceitar a morte de John, como se não falar disso significasse que ainda existia uma chance de as coisas mudarem, de tudo aquilo ser passageiro. Ela se recusa a se desfazer dos sapatos dele (quando ele voltar, ele precisa ter algo com que se calçar). Engraçado até que ela tem uma reação muito parecida com a da Chimamanda quando o obituário é publicado - porque se você não contar para ninguém, não fizer aquele conhecimento público, então ele não se torna indelével.
_______________

"Quando vi a fotografia, me dei conta, pela primeira vez, do motivo pelo qual os obituários tinham me perturbado tanto. Eu permitira que outras pessoas soubessem que ele estava morto. Eu permitira que ele fosse enterrado vivo."
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Didion tenta fazer desse processo uma investigação racional, com sua busca de fontes, filósofos, médicos, psicólogos, teólogos. Mas esbarra continuamente em sua própria incredulidade, na sensação de torpor e irrealidade que tudo aquilo lhe provoca. Porque, no final, não há realmente respostas. Não há realmente um consolo, seja após uma longa doença, rápido e sem dor, um alívio para aquele que se vai, uma vida inteira bem vivida: a morte de uma pessoa sempre nos deixa profundas cicatrizes. Ela nos parte o coração e ele nunca será o mesmo depois.

O pensamento mágico pelo qual Didion se deixa levar durante um ano de seu processo de luto é um conjunto de pequenos rituais e sortilégios, acompanhado de profundas reflexões, passos que vamos tomando para pouco a pouco aprendermos a conviver com a dor. Até chegar o momento em que “temos que nos libertar dos mortos, deixá-los ir, deixá-los mortos. Deixar que se tornem uma fotografia em cima da mesa”.

(Essa resenha faz parte de um artigo maior acerca de livros sobre o luto. Deixei aqui apenas as referências diretas ao livro "O Ano do Pensamento Mágico", mas há uma certa conexão entre todas as leituras que não se costura tão bem com o corte. Para ler o artigo completo, segue o link abaixo, no blog Coruja em Teto de Zinco Quente)

site: https://owlsroof.blogspot.com/2021/08/quatro-reflexoes-sobre-o-luto-lewis.html
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laris 05/06/2022

"Sei por que tentamos manter vivos os mortos: tentamos mantê-los vivos para que permaneçam conosco.
Também sei que, se quisermos viver, chega um momento em que temos que nos libertar dos mortos, deixá-los ir, deixá-los mortos.
Deixar que se tornem uma fotografia em cima da mesa.
Deixar que se tornem um nome nas contas fiduciárias.
Deixar que sejam levados pela água.
Saber disso não faz com que seja nem um pouco mais fácil deixar que sejam levados pela água."
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