Mestres de Armas

Mestres de Armas Joseph Conrad...




Resenhas - Mestres-de-Armas


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Ana Aymoré 20/07/2020

No fio da espada [escrito durante a pandemia de covid19]
Todo mundo sabe q, em outra das suas incansáveis demonstrações de estupidez e de irresponsabilidade, o presidente que não ajudei a eleger, Jair Bolsonaro, saiu para um passeio informal por Brasília, sem qualquer um dos cuidados de prevenção epidêmica defendidos pela OMS e, entre muitas das suas usualmente péssimas declarações, alardeou que a Covid-19 deve ser enfrentada "como homem" - ou seja, assumindo que, em contraste, a observância da quarentena seria uma forma de covardia.
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Cada vez que escuto afirmações como essa, tão comuns nessa paródia de governante e em uma boa parte de seu séquito de admiradores, me vem à cabeça - com as devidas proporções, pois as falas de Bolsonaro e seus seguidores chegam às raias do absurdo - algo que está posto em muitos estudos sobre masculinidade, mas que, para sintetizarmos a questão, podemos extrair do famoso ensaio de Bourdieu A dominação masculina: "O privilégio masculino [na sociedade patriarcal] é também uma cilada e encontra sua contrapartida na tensão e contensão permanentes, levadas por vezes ao absurdo, que impõe a todo homem o dever de afirmar, em toda e qualquer circunstância, sua virilidade. [...] o ponto de honra se mostra, na realidade, como um [...] sistema de exigências que está destinado a se tornar, em mais de um caso, inacessível. A virilidade [...] é, acima de tudo, uma carga."
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O duelo, talvez uma das mais duradouras dessas "instituições de virilidade" na nossa cultura ocidental, como exemplo dessa cilada e dessa carga que o próprio patriarcado impõs aos homens, não passou desapercebido pela literatura; na realidade, foram vários os autores que fizeram do duelismo tanto motivo para a exploração estilística da tensão dramática concentrada na cena, quanto para a investigação dos meandros da interioridade masculina, seus dilemas, incertezas e, principalmente, fraquezas.
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Essa antologia, muito bem organizada por Cláudio Figueiredo e com contos traduzidos por nomes que dispensam apresentações, é uma excelente reunião sobre essa temática. Nela estão presentes o magistral O duelo, de Conrad (o texto mais longo da antologia, mais propriamente uma novela do que um conto, que inspirou o filme Os duelistas, de Ridley Scott); um ótimo conto de Schnitzler intitulado A testemunha, cujo título contrasta com o caráter onírico da narrativa; uma das pérolas do genial Maupassant, o conto O covarde, que sintetiza em pouquíssimas páginas o dilema coragem vs. covardia; o romanesco O duelo de Kleist, uma releitura das crônicas cavalheirescas medievais; O duelista, de Turguêniev, que aos poucos desvela, sob uma primeira camada de sondagem da psicologia masculina, os misteriosos meandros da resiliência feminina; o paródico Uma questão de honra, de Nabokov, que atualiza com irônica perversidade a decadência do sentido tradicional de honra masculina na sociedade burguesa.
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Uma ótima oportunidade para quem, como eu, aprecia essas possibilidades de um confronto não destrutivo mas, ao contrário, fecundo, que só a imaginação literária consegue nos proporcionar.
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jota 13/02/2019

Escolha suas armas, canalha!
Mestres-de-Armas – Seis Histórias Sobre Duelos traz narrativas curtas, médias e longas de conhecidos autores europeus sob a organização do escritor Cláudio Figueiredo. Que também nos brinda com uma interessante Introdução sobre essa curiosa instituição “cujas origens se perdem nas brumas da Idade Média” e que parece ter sobrevivido até o início do século XX, a se levar em conta o texto de Vladimir Nabokov (1899-1977), que encerra o volume, Uma Questão de Honra. Questões envolvendo honra e mulheres, ou as duas coisas juntas, eram basicamente os motivos que conduziam aos duelos.

Na novela que abre o volume, O Duelo, de Joseph Conrad (1857-1924), também conhecida como Os Duelistas na edição da L&PM Pocket e na versão cinematográfica de Ridley Scott em 1977, tudo começa com um tenente hussardo, D’Hubert, encarregado de retirar do salão de uma conhecida dama dos tempos napoleônicos outro tenente hussardo, Feraud, que não poderia estar ali, infringindo normas militares. Mesmo errado, Feraud se sente humilhado, desonrado, e vê no duelo contra D’Hubert o meio de reparar a questão. Só que a história e os duelos entre ambos prosseguem por vários anos... Cotação: cinco estrelas.

É do escritor vienense Arthur Schnitzler (1862-1931), o segundo texto da coletânea, o conto A Testemunha, que narra a história de um jovem de apenas 23 anos, um padrinho – além das armas para a ocasião os duelistas tinham de escolher dois padrinhos, ou testemunhas – que deveria levar a infausta notícia para a mulher do amigo, morto no duelo. Com essa missão espinhosa por realizar, os devaneios do jovem tornam-no o personagem principal do conto. Cotação: três estrelas.

Um Covarde, de Guy de Maupassant (1850-1893), o texto mais curto do livro, já traz no título uma pista do que poderá acontecer em seguida, quando alguém se põe a refletir demasiadamente sobre dignidade na véspera de um duelo. A história traz mais reflexão do que ação. Duelos duram poucos minutos, o antes e o depois é que os escritores sabem explorar muito bem, como Maupassant fez aqui. Os outros autores também. Cotação: três estrelas.

A quarta história, O Duelo, de Heinrich von Kleist (1777-1811), um conto longo passado no século XIV, é a mais movimentada de todas, que se ainda não teve uma versão cinematográfica, não sei, daria um filme bastante interessante. Conforme Figueiredo, von Kleist reconstrói “(...) por meio de uma trama altamente romanesca, o sentido pleno da instituição do duelo, numa sociedade cavalheiresca que tomava o resultado do confronto como uma sentença de Deus.” O Duelo tem assassinato, mentiras, intrigas, reviravoltas, enfim, prende a atenção do leitor o tempo todo. Cotação: cinco estrelas.

Ivan Turgueniev (1818-1883) é o autor do quinto texto, também bastante longo (são mais de cinquenta páginas), intitulado O Duelista. Nele lemos a história de dois soldados russos apaixonados pela mesma mulher: tudo começa e termina com um duelo. Curioso é que entre os dois desafios os duelistas se tornam amigos e um deles, digamos assim, o de alma mais nobre, ajuda o outro, o duelista mau, a conquistar a dama por quem ele, o nobre, já estava apaixonado antes. Cotação: quatro estrelas.

Finalmente, encerrando a coletânea, temos Uma Questão de Honra, de Nabokov, conto passado no início do século XX. Trata-se na verdade de uma paródia aos duelos e não tem lugar na Rússia, terra natal do autor, mas na Alemanha e retrata, conforme Figueiredo, “(...) o mundo artificial dos russos exilados em Berlim depois da revolução bolchevique de 1917.” É, portanto, uma história que está muito mais para diversão do que para reflexão. Assim como Joseph Conrad e Heinrich von Kleist, Vladimir Nabokov está muito bem representado neste volume. Cotação: cinco estrelas.

Lido entre 02 e 13/02/2019.
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Lista de Livros 27/03/2016

Lista de Livros: Mestres-de-Armas, de Cláudio Figueiredo (org.)
“Com um porte imponente e marcial, ele fazia retinir as esporas ao caminhar pelas ruas. Ter de ir no encalço de um companheiro numa sala de recepção na qual era desconhecido não o perturbava nem um pouco. Um uniforme é um passaporte.”
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“Macha soltou um suspiro do fundo da alma, mas, em seguida, se assustou com a partida de Kister. O que a atormentava? O amor ou a curiosidade? Só Deus sabe; mas, vamos repetir, a curiosidade foi o bastante para pôr Eva a perder.”
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site: www.listadelivros-doney.blogspot.com.br/2016/02/mestres-de-armas-seis-historias-sobre.html
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Svartzorn 19/03/2016

Este livro compila, pelo que percebi, duas novelas e quatro contos, escritos uns mais eletrizantes que outros com ênfase em duelos. São bem exploradas as vicissitudes da instituição, a mudança do significado de tudo em face da morte, inclusive o efeito que gera, em geral, sobre o enredo da histórias.
Recomendadíssimo, dou quatro estrelas por sentir falta de Púchkin. "O tiro" devia ter sido publicado junto.
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