jota 13/02/2019Escolha suas armas, canalha!Mestres-de-Armas – Seis Histórias Sobre Duelos traz narrativas curtas, médias e longas de conhecidos autores europeus sob a organização do escritor Cláudio Figueiredo. Que também nos brinda com uma interessante Introdução sobre essa curiosa instituição “cujas origens se perdem nas brumas da Idade Média” e que parece ter sobrevivido até o início do século XX, a se levar em conta o texto de Vladimir Nabokov (1899-1977), que encerra o volume, Uma Questão de Honra. Questões envolvendo honra e mulheres, ou as duas coisas juntas, eram basicamente os motivos que conduziam aos duelos.
Na novela que abre o volume, O Duelo, de Joseph Conrad (1857-1924), também conhecida como Os Duelistas na edição da L&PM Pocket e na versão cinematográfica de Ridley Scott em 1977, tudo começa com um tenente hussardo, D’Hubert, encarregado de retirar do salão de uma conhecida dama dos tempos napoleônicos outro tenente hussardo, Feraud, que não poderia estar ali, infringindo normas militares. Mesmo errado, Feraud se sente humilhado, desonrado, e vê no duelo contra D’Hubert o meio de reparar a questão. Só que a história e os duelos entre ambos prosseguem por vários anos... Cotação: cinco estrelas.
É do escritor vienense Arthur Schnitzler (1862-1931), o segundo texto da coletânea, o conto A Testemunha, que narra a história de um jovem de apenas 23 anos, um padrinho – além das armas para a ocasião os duelistas tinham de escolher dois padrinhos, ou testemunhas – que deveria levar a infausta notícia para a mulher do amigo, morto no duelo. Com essa missão espinhosa por realizar, os devaneios do jovem tornam-no o personagem principal do conto. Cotação: três estrelas.
Um Covarde, de Guy de Maupassant (1850-1893), o texto mais curto do livro, já traz no título uma pista do que poderá acontecer em seguida, quando alguém se põe a refletir demasiadamente sobre dignidade na véspera de um duelo. A história traz mais reflexão do que ação. Duelos duram poucos minutos, o antes e o depois é que os escritores sabem explorar muito bem, como Maupassant fez aqui. Os outros autores também. Cotação: três estrelas.
A quarta história, O Duelo, de Heinrich von Kleist (1777-1811), um conto longo passado no século XIV, é a mais movimentada de todas, que se ainda não teve uma versão cinematográfica, não sei, daria um filme bastante interessante. Conforme Figueiredo, von Kleist reconstrói “(...) por meio de uma trama altamente romanesca, o sentido pleno da instituição do duelo, numa sociedade cavalheiresca que tomava o resultado do confronto como uma sentença de Deus.” O Duelo tem assassinato, mentiras, intrigas, reviravoltas, enfim, prende a atenção do leitor o tempo todo. Cotação: cinco estrelas.
Ivan Turgueniev (1818-1883) é o autor do quinto texto, também bastante longo (são mais de cinquenta páginas), intitulado O Duelista. Nele lemos a história de dois soldados russos apaixonados pela mesma mulher: tudo começa e termina com um duelo. Curioso é que entre os dois desafios os duelistas se tornam amigos e um deles, digamos assim, o de alma mais nobre, ajuda o outro, o duelista mau, a conquistar a dama por quem ele, o nobre, já estava apaixonado antes. Cotação: quatro estrelas.
Finalmente, encerrando a coletânea, temos Uma Questão de Honra, de Nabokov, conto passado no início do século XX. Trata-se na verdade de uma paródia aos duelos e não tem lugar na Rússia, terra natal do autor, mas na Alemanha e retrata, conforme Figueiredo, “(...) o mundo artificial dos russos exilados em Berlim depois da revolução bolchevique de 1917.” É, portanto, uma história que está muito mais para diversão do que para reflexão. Assim como Joseph Conrad e Heinrich von Kleist, Vladimir Nabokov está muito bem representado neste volume. Cotação: cinco estrelas.
Lido entre 02 e 13/02/2019.