Tamirez | @resenhandosonhos
19/08/2018Todos de pé para Perry CookQuando a sinopse desse livro caiu nas minhas mãos eu fiquei fascinada. Nunca tinha lido nada do tipo e fiquei bem curiosa para descobrir o que estaria por trás dessa trama. O que digo a vocês logo de cara é que Perry Cook conquistou meu coração da forma inusitada e com muita perseverança e inocência.
Acho que a primeira coisa que precisamos tirar logo do caminho é que sim, era errado ele viver na prisão. Imagina se todas as mães do mundo resolverem fazer isso, ia virar bagunça. Porém, uma penitenciária americana de segurança mínima não é nada comparada às prisões brasileiras. Lá tudo é muito organizado, os presos tem empregos e serviços, sendo pagos pela hora trabalhada. Pouco, mas pagos. Há alimentação, vestimenta própria e horários a serem seguidos. Eles são incentivados à leitura e a aprenderem algo novo para trabalharem quando voltarem à liberdade. Tudo isso entre paredes e grades.
Em um condado pequeno como Surprise, Nebraska, o fato da moradia de Perry sempre passou despercebido, mesmo ele frequentando a escola. E não se engane, ele nunca escondeu o fato, apenas por não ter muito amigos, manteve sua privacidade. Zoey é sua melhor amiga e aquela que sabe toda a sua história. Os dois andam sempre juntos e enfrentam os desafios da escola.
“Mamãe não parece se importar. É como sempre foi. Eu sou filho dela, mas pertenço a todo mundo em Blue River.”
Em nosso primeiro contato com Perry já sabemos o quanto ele é um menino especial. O jovem de 11 anos é o responsável por dar bom dia na penitenciária e sempre tem um papo alegre para acordar os detentos. Por mais que ele saiba que não é “normal” ele morar lá, isso nunca soou pra ele como algo cruel. Pra ele foi construído um quarto, ele tem suas tarefas, vai a escola, estuda e interage com os amigos que fez lá dentro. Tudo sob o olhar observador da mãe.
O menino faz questão de ressaltar que nunca entrou em contato com pessoas agressivas ou que não quisessem sua presença. Quem não lhe dá abertura, ele não importuna. Simples assim. Mas, a maioria das pessoas, tem carinho pelo garoto. Ele representa esperança e é uma luz na vida daquelas pessoas.
Perry é gentil, educado e inteligente. Ama a mãe mais do que tudo na vida, ela é tudo o que ele tem. E, é claro, quando isso é tirado dele, um medo enorme toma conta de sua alma. É só através de um trabalho da escola, onde ele deve contar sua história que ele vê uma forma de colocar isso ao seu favor, retratando do seu ponto de vista a história de seus amigos presos.
Ele é inocente e ingênuo em vários aspectos, mas não é bobo. Perry apenas tem um olhar mais humano sobre as pessoas e seus passados e isso acaba tocando muito o leitor. Há uma sensibilidade enorme nessa história e na forma como a autora escolheu contá-la, com capítulos do ponto de vista de Perry e alguns poucos focados na mãe.
“Bom dia – digo com minha voz lenta e baixa. – Aqui é o Perry ao nascer do sol. Hoje é terça-feira, dia seis de setembro. A novidade lá fora é que é o primeiro dia de aula do contado de Butler. Isso quer dizer que estarei fora o dia todo. Não morram de saudades de mim.”
Desde que comecei a história me perguntei onde estaria o pai do garoto. Para que ele nunca o tivesse reclamado, ou estava morto, não sabia que ele existia ou havia lhe abandonado. Vamos ter essa resposta ao longo da trama, mas esse fator também foi o único ponto que me levou a questionar a história e a não dar 5 estrelas pro livro. Após a história se fechar, faltou alguma coisa pra finalizar esse aspecto também. Em uma frase ou em um parágrafo a autora poderia ter respondido as perguntar que permaneceram, mas por algum motivo decidiu esquecer o assunto e isso fez falta pra mim.
Eu não sou mãe, mas imagino a aflição daquelas que precisam se separar de seus filhos logo ao nascimento. Algumas penitenciárias possuem creche e as mães podem manter as crianças por até dois anos, mas esse sequer era o caso em Blue River. Tudo isso só aconteceu porque a diretora Daugherty viu algo em Jessica e deixou Perry ficar, mesmo sabendo que isso ia contra todas as regras. O livro então vai contar a história desse menino, das coisas que ele viveu nos 11 anos na prisão, as histórias de alguns presos e o verdadeiro motivo pelo qual sua mãe foi parar lá. Tudo sob o olhar atento de Perry, nosso guia.
Eu não sei explicar porque esse livro falou tanto comigo. Normalmente isso acontece quando temos algo em comum com a história e esse não é o caso. É um conflito também, pois sabemos que é errado, mas não queremos condenar o ato, pois vemos o quanto o garoto não foi prejudicado pelo local onde ele passa suas noites, pois tem todo o amor, cuidado e educação de que precisa. São dois lados de uma mesma moeda que o leitor vai ter que interpretar através da sua visão de mundo.
Todos de pé para Perry Cook foi uma surpresa e uma alegria. Já sei que o livro figurará na minha lista de melhores do ano e fiquei muito encantada com a sensibilidade como a história foi contada. Terminei o livro em lágrimas e é incrível ser surpreendida dessa maneira. Então, se você gosta de histórias com narradores infantis, temáticas fortes e muita emoção, por favor levante-se, e fique de pé para ouvir o que Perry Cook tem a dizer.
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