Cat Lu 18/11/2023
É sobre a escrita, mas é mais sobre a escritora
A obra reúne contos de Lygia, todos revelando a genialidade da escritora que conheci dois livros atrás e que já se tornou uma das minhas preferidas.
Seus contos possuem estruturas parecidas: longos parágrafos com fluxos de consciência. Algo também muito recorrente, pelo menos para mim, é uma certa confusão nas falas das personagens, que nunca sei se são realmente falas, pensamentos ou divagações. O passado, presente e futuro se misturam na cronologia psicológica. E daí? A leitura não é a interpretação singular de cada um? Ela gosta de brincar com isso, a Lygia, deixando seus contos entreabertos e você e sua curiosidade que se virem.
Os contos, ao meu ver, são fotografias, é o que a escritora me faz perceber. É quase como se ela sorteasse alguém no mundo e contasse um pouco de sua história. É preciso atenção para ler seus textos e se afundar na perspicácia da autora. E algo que gosto muito é como a Lygia se torna nítida! É quase como se ela estivesse sentada ao meu lado e eu pudesse vê-la escrevendo ou me contando a história de alguém, mesmo que as narrativas sejam em primeira pessoa. É possível ver Lygia por trás de todas elas.
Meu conto preferido foi "Anão de Jardim". Nele fica claro a intenção dela de denunciar. O que, eu não sei, talvez a humanidade. Fagundes Teles nada mais faz que usar as personagem como pretexto para xeretar o íntimo dos seres humanos. É como se ela olhasse dentro de nós, sem aviso ou permissão, revirando tudo e deixando apenas a perplexidade do enxergar de nós mesmos.
Nesse livro, você experimentará da crueldade crua de algumas pessoas. Não é ficção, por mais que seja. Só depois de terminar de lê-lo percebo o quão mórbido ele é e me pergunto como a escritora teve coragem de despir a todos nós tão profundamente, sem cerimônias.