Helder 15/06/2017Uma leitura que não se sustentaEste é um livro muito difícil de resenhar. Sua leitura é como navegar no escuro. Mas será que este barco chega a um bom porto ou o que encontramos no caminho é uma catarata?
Gosto de ler livros onde o autor me engana e no fim me surpreende, deixando-me com vontade de voltar de ler tudo de novo para saber como aquilo aconteceu e ir amarrando todos os nós que foram ficando soltos e eu nem tinha percebido. Existem autores que são sensacionais em fazer isso. Lembro de uma vez ter começado a ler um livro da Agatha Christie e tê-lo achado meio chato, aí decidi ir direto ao fim e ler quem era o criminoso. Ao ler, me surpreendi, pois era o personagem mais improvável. Resultado, tive que ler o livro todo para entender como que fulano tinha feito aquilo. Um bom exemplo de uma estória assim mais atual é Garota Exemplar, onde eu levei a maior rasteira de minha vida de leitor.
Mais e aqui? Seria mais um caso como os citados acima?
Descobri este livro lendo resenhas no Skoob. Era curto e parecia sensacional, então resolvi lê-lo.
Terminei rápido, pois o livro é sim, instigante. O autor cria um clima de suspense enorme e em alguns momentos até parece que vamos ter um ataque de claustrofobia. Ele sabe como mexer com o medo. Aonde isso vai parar, eu me perguntava sem querer parar a leitura.
Após 2 dias, cheguei ao final, e como eu temia, todo aquele suspense crescente, pelo menos na minha opinião, não me levou a nenhum lugar o que infelizmente me deixou com uma grande sensação de frustração.
Decidi que tinha que ler o livro de novo. Eu deveria ter perdido todas as dicas que as pessoas encontraram no livro e que indicavam aquele final. Com certeza eu tinha lido o livro rápido demais. E lá fui eu. Vamos reler o livro. Resultado? Uma semana de atraso onde poderia ter começado um novo livro. Uma perda de tempo!
Agora sei que somente lendo rápido assim, é que o livro se sustenta. A releitura foi um sofrimento e uma chatice, pois não havia mais o clima de suspense associado ao texto e aí fica claro que o texto não diz nada. Deixe eu tentar explicar.
O livro é dividido em duas narrativas em capítulos intercalados.
Uma acontece entre a narradora principal e seu namorado que a está levando para conhecer sua família. São os maiores capítulos onde o autor cria diversos motes de suspense: o chamado, a estória da moça que viu alguém na janela, o treinador de autoescola, a casa da família de Jake, a família de Jake, o irmão, as fotografias de membros do corpo humano, as meninas na sorveteria, o presente da mãe de Jake, a parada na escola no meio do nada. A segunda narrativa vem em capítulos curtos, portanto é menos detalhada e fala sobre alguém que morreu. Ambas prendem nossa atenção, porém esperamos que tudo isso vá ter alguma conexão no final.
Mas isso não acontece. Poucos motes são ligados ao outro ou tem algum fundamento para movimentar a estória. No final ele nos traz uma “surpresa” que infelizmente só está bem relacionada a segunda narrativa e é difícil não se sentir enganado, pois quase todos os motes de suspense criados na narrativa principal simplesmente são deixados de lado.
Com certeza o autor tem talento, pois ele cria um clima de suspense que nos prende de tal maneira, que se ele escrever a letra de “Batatinha quando nasce” ali no meio vamos achar que é alguma pista de que algum cataclisma vai acontecer com a mocinha. Passamos o livro inteiro esperando um psicopata cortar o pescoço da moça. Mas é tudo ilusão.
O final é interessante, mas não tem quase nenhuma ligação com o texto escrito até ali. A não ser a parte onde Jake diz que mesmo as estórias reais são inventadas.
Eu acredito que todo autor de suspense sele um trato com seu leitor: “Eu vou te conduzir pela sua curiosidade, onde você criará diversas teorias, e como prêmio por me seguir, eu vou te causar um arrepio, com uma estória que vai te surpreender quando eu te der as respostas e você perceber que não era nada do que você imaginava”.
Aqui não é nada do que imaginávamos, mas ao invés de responder as perguntas que foram criadas, o autor simplesmente cria novas perguntas e encerra sua estória. Quero crer que a intenção do autor é que consigamos entrar na mente de um esquizofrênico e se não for isso, o livro não merece nem as 3 estrelas que eu dei.
Se você curte arrepios momentâneos de uma mansão fantasma de parque de diversões vai curtir. Os arrepios estão ali na hora. Passa rápido e pode sair para comer seu algodão doce ou ir no próximo brinquedo. Emoção self service on line. Se procura algo que te desafie e te surpreenda realmente com inteligência, vai se frustrar. Livro para consumo rápido.
Vale a sessão da tarde.
É bom, mas não é tudo isso.