Jardins da Lua

Jardins da Lua Steven Erikson




Resenhas - Os Jardins da Lua


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Tamirez | @resenhandosonhos 07/08/2018

Jardins da Lua
Esse foi o meu primeiro contato com Steven Erikson e não foi fácil, portanto logo de cara já quero dar um conselho pra você que se interessou por esse livro: a não ser que você seja um leitor de fantasia frequente e que não se importe de se confrontar com um mundo completamente novo, criaturas estranhas e sem grandes explicações dentro da trama, talvez esse não seja um bom livro pra você se iniciar no gênero.

A sinopse não chega nem perto de traduzir a complexidade da história e a imersão que é necessária para compreender o que se passa aqui. A lógica da trama não é difícil, o que tumultua o caminho é a quantidade de novas raças, criaturas, tipos de magia e categorias de coisas que são atiradas ao leitor dentro da história sem uma explicação dentro da narrativa. O livro vem com um considerável glossário no final, mas nem ele é capaz de transmitir tudo o que precisamos saber, além é claro de a definição por vezes não ser profunda ou entendível o suficiente.

“Em uma guerra de paciência, o mortal está sempre em desvantagem.”

Ficar indo e voltando entre definições não ajuda o fluxo que já é bem lento. Isso pra mim foi o mais difícil, já que não tenho problema com mundos confusos ou alta fantasia, entretanto a falta de cadência na narrativa cobrou o seu preço, demandando um tempo enorme de leitura que eu certamente teria matado muito rapidamente se houvesse mais ritmo. Como por vezes a definição das coisas não vinha verdadeiramente a agregar eu abstrai de ficar toda a hora consultando o glossário e levei a história a frente. Isso foi bom em vários aspectos e o que vale a pena citar é que às vezes algo que ele mencionou, mesmo com a definição, só vai fazer sentido 200 páginas a frente e ir consultar o significado de forma repetitiva não vai resolver se o autor optou por esconder aquela informação.

Como uma vez me disseram para Laranja Mecânica, essa é uma obra que eu acho funcionar melhor se você primeiro a compreender e depois for em busca de definições mais exatas, pois elas farão um sentido mais completo se você já tiver um contexto onde aquilo está inserido ou um histórico do que aconteceu. Então, quanto a isso, é preciso sim ter paciência e consideração. E ai ser um leitor acostumado com isso faz a diferença.

“Se quiser viver livre, garoto, viva sem fazer muito barulho.”

E não se engane, Ganoes Paran pode ser o nome mencionado na sinopse, mas está longe de ser o protagonista solo dessa história. Ele se posiciona como uma peça importante, mas Jardins da Lua tem vários narradores e personagens que vão muito além do papel de Paran no meio de tudo isso. Às vezes ele fica por muitas páginas sem dar as caras, dando espaço para as dezenas de outros terem também sua voz. Podemos tirar pelo menos outros cinco que tem tanto valor ou mais presença do que ele. Já ouvi dizer que em casa livro, mesmo que mantendo a história, o autor apresentará alguém para carregar a trama, mas mesclando sempre as visões.

Teremos pontos de vista variados e muitos narradores. Também há uma troca na forma como o tempo é contado quando mudamos de localidade, o que pode vir a confundir o leitor. Dentre as coisas que mais se destacam está certamente a variedade de raças e a complexidade da magia, mais bem explorada aqui no âmbito dos “labirintos”. Esses “portais” mágicos controlado pelos feiticeiros – e não só por eles – abrem um novo mundo de possibilidades e funções para o seu uso.

“Os labirintos de Magia habitavam o além. Encontre o portal e abra uma fenda.”

A estrutura do mundo, enquanto complexidade é muito ampla e certamente Steve Erikson tem uma grande história pra contar, e escolheu fazer de forma a deixar a carga de buscar entendimento para o leitor. A escrita do autor não é nada fluída, como já mencionei, e isso aliado ao estranhamento do livro pode causar problemas para alguns leitores. É preciso calma para avançar pelas páginas e aos poucos compreender o que cada ser está fazendo na história. Todos os personagens, sejam eles humanos ou não, tem algo a esconder e algum twist para acrescentar à história. Não se engane, ninguém é raso ou está ali apenas por estar.

Anomander Rake é sem dúvida meu personagem favorito aqui. Ele não fica tanto tempo em cena, mas quando aparece rouba completamente e atenção e quero ver bem mais dele nos próximos livros. Ele é apresentando como um inimigo no começo da história, mas certamente tem mais a dar de valor do que apenas só essa faceta e é fácil ver isso já nesse primeiro volume.

Esse é também um livro com bastante representatividade, há todo “tipo de gente” aqui, e as mulheres tem um peso forte na história também. Como o próprio autor menciona, há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e tanto caos nesse mundo que os questionamentos de papel do homem, papel da mulher, homossexualidade, tudo é deixado de lado, afinal, faz parte do contexto normal do livro, desse universo, que esse tipo de coisa não precisa ser discutido, apenas pertence ali.

A edição da Arqueiro esta bem bacana e ajudou super ter a ilustração dos personagens estampada nas partes internas da capa e contra capa, pois podemos visualizar melhor as diferenças entre cada um. E, mesmo tendo lido o livro com paciência, tenho certeza que ainda falta muito pra mim pegar desse universo. Acredito ainda que vamos andar por pelo menos mais um ou dois livros antes de ter o completo domínio sobre como as coisas funcionam ou qual a verdadeira ordem que rege esse mundo. Não há um bê-á-bá para decifrar esse livro e por mais que pela resenha não tenha parecido, o que o leitor encontrará aqui é confuso e amplo e deve ser digerido página a página mesmo sem compreensão total.

Vi várias pessoas comparando com As Crônicas de Gelo e Fogo ou Trilogia do Anel, mas acho que não é bem por ai. Esses autores apesar de apresentarem mundos ricos, explicavam suas construções dentro da narrativa, o que Erikson não faz. Achei a forma da disposição bem mais parecida com o S. L. Farrell em seu Ciclo Nessantico, por mais que o mundo seja mais restrito. De qualquer forma, é uma boa pedida.

O Livro Malazano dos Caídos apresenta um mundo complexo, vasto e voraz. Ninguém é o que parece ser e toda nova raça inserida acrescenta-se uma pitada a mais de amplitude e mistério. Há muito o que ser explorado e não parece haver limites para o que pode acontecer. É sim um livro difícil, mas acho que vale o investimento se você é realmente um fã do gênero e como eu mencionei, está acostumado a pegar histórias de fantasia que realmente investem em construção de mundo e complexidade narrativa.

site: http://resenhandosonhos.com/jardins-da-lua-steven-erikson/
Matheus 15/12/2018minha estante
Fantástica resenha. Sei que não é um bom caminho para trilhar, mas por demasiadas vezes encontro-me com a síndrome do protagonismo. Poderias me responder se há um protagonista? Até mesmo em 'As crônicas do gelo e do fogo' nós conseguimos perceber um direcionamento apesar de uma organizada e proposital bagunça que R.R Martin utiliza desde o primeiro livro.


cliffoliveira 17/12/2020minha estante
Gostei muito da resenha, minha pergunta está na continuidade
quantos livros têm a saga ?
depois da massada de Game of thrones fiquei muito cabreiro de ler sagas...




none 02/08/2018

Ótima leitura
Desde minhas últimas decepções após ter lido ATorre negra, do S King (inconcluso) e A roda do tempo, R Jordan/ B Sanderson (série concluída original em inglês) decedi dar um tempo para as leituras de séries longas. Até ter tido a sorte de Crockus e encontrar essa preciosidade de Steven Erickson, chamada Livro Malazano dos caídos. Nele encontramos elementos presentes nas melhores séries do gênero fantástico de Tolkien, Martin, Rothfuss. A agilidade "labiríntica" do enredo pode confundir em alguns momentos. Mas a força e a empatia dos personagens atenuam possiveis obscuridade. A grande vantagem dessa série sem querer comparar com as demais é que ela tem começo, meio e fim. Outros livros foram lançados para narrar eventos anteriores (ou muito anteriores), a editora brasileira tem lançado essas séries (Império malazano), cabe ao leitor decidir adentrar o universo fantástico, no que depender de mim, estou dentro.
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romulluskhaos 25/05/2018

Esse livro não é para preguiçosos, ou pra quem faz maratona de leitura.
É um jogo de quebra cabeça, que ao final do primeiro livro o autor entrega apenas uma parte da imagem total. Um mundo de alta fantasia que merece o respeito para com autor, simplesmente genial. Pra quem é acostumado a ser guiado pela mão poderá ter dificuldades com a leitura e como também para aqueles que nunca leram leitura de alta fantasia. Mas pra quem tem paciência e estimula a criatividade para visualizar o que o escritor te entregar, vai saborear um banquete digno de rei.
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Vanessa Pipi 20/05/2022minha estante
Desesperada aqui pela continuidade desta série....
Parabéns pela resenha


Lina DC 07/06/2022minha estante
OI Vanessa, tudo bem? Somos duas... ficar esperando sequências é desesperador rs. Beijos




Mundo de Tinta 18/05/2018

Que tiro foi esse...
Um mundo dividido entre o Império Malazano e Cidades Livres, das quais só resta uma, Darujhistan.
Guerras travadas com magia e espadas.
Comandos disputados com intrigas, pactos e sangue.
Uma batalha entre deuses, demônios e homens.
Preparados?
Então senta aí que vou te falar um pouco dessa bagaça toda.


O mundo de Malaz é algo muito, muito complexo. A impressão que você tem ao iniciar a leitura é que te entregaram um quebra-cabeças de 500 peças faltando 382. Mas vamos lá, por que a intenção do autor foi essa mesma.
“... O leitor que eu imaginava era capaz e estava disposto a carregar aquele peso a mais – as perguntas ainda sem resposta, os mistérios, as alianças incertas.”Pág. 9

Quer continuar? Então vem comigo!

site: http://blogmundodetinta.blogspot.com.br/2018/05/resenha-de-tinta-jardins-da-lua.html
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@solitude_e_books 14/05/2018

Nunca Spoiler
Comprei esse livro em Junho do ano passado e depois de ouvir tanto as pessoas dizerem que era um livro muito pesado complexo que o autor não explicava nada e vc ficava muito perdido.......Fiquei com o pé atrás e foi só adiando essa leitura ate que peguei pra ler no começo deste mês e terminei hoje, e eis que digo a vcs esse é o livro mais rico que ja li em toda minha vida( junto com o senhor dos anéis) é muito épico, não acredito que lerei nada no patamar de grandiosidade desta obra.

Povão, digo a vocês que não é tão complexo assim, requer so um pouco mais de atenção, é simplesmente um livro grandioso a dica é vcs sempre da uma olhada no glossário e se poder sempre dando uma olhada na net sobre os personagem pois assim vcs poderão ver mais afundo a grandiosidade contida nesta obra, Uma dica é esse site... Ficções Humanas...pois eles fizeram um guia excelente que me ajudou muito.

E simplesmente fantástico, quem ainda não leu ta de bobeira ....
tipo eu antes rsrsrsr
Luana.Silva 14/05/2018minha estante
Caramba que bom saber disso! Eu estou de olho nesse livro desde o lançamento, mas vi várias resenhas falando que é um livro complicado, que por ser alta fantasia ele é bem complexo... mudei de ideia, vai pra lista de próxima compra! :)


@solitude_e_books 15/05/2018minha estante
Vale muita apena, so requer um pouco mais de atenção e não ter preguiça de olhar o glossário . =)




Jessé 06/05/2018

Confesso, esperei muito pelo dia em que finalmente estaria aqui, resenhando esse LIVRÃO que é Jardins da Lua. Não apenas em tamanho, mas também em conteúdo. Conheci o livro pouco após seu lançamento, mas só agora tive oportunidade de lê-lo. Entretanto, valeu a espera. Cada página foi uma recompensa monstruosa.

Jardins da Lua é o primeiro livro da série O Livro Malazano dos Caídos, do autor Steven Erikson. Logo no prefácio, o autor nos mostra que a história veio para encontrar seu lugar de destaque entre os livros de fantasia. São vários personagens, várias cidades e uma mitologia riquíssima, ainda levando em conta os cenários e as batalhas, que são descritos com perfeição.

Não há um único herói ou um único vilão. São vários personagens, com motivações diferentes. Uns lutam por princípios, enquanto outros buscam apenas mais poder do que já possuem. A princípio, talvez você fique um pouco perdido no começo da história. São vários personagens, buscando coisas totalmente diferentes. Não há uma apresentação formal deles. O livro já começa no pá pum, com toda a ação acontecendo. Porém, em determinado ponto, tudo vai se encaixando, como um quebra-cabeças gigantesco. E, meu amigo, quando isso acontece, é impossível parar de ler.

O Império Malazano busca conquistar Darujhistan, a Cidade do Fogo Azul, a última das Cidades Livres de Genebakis, e a Imperatriz Lassen fará de tudo para conquistar a cidade. Entretanto, essa conquista está longe de ser tão simples. O capitão Ganoes Paran é enviado para Darujhistan, para assumir o comando dos Queimadores de Pontes, lendário esquadrão de elite liderado pelo sargento Whiskeyjack. Após vários atos e descobertas, os Queimadores de Pontes percebem que muita gente está envolvida num jogo criado pelos deuses, e que algo muito maior se aproxima. Até mesmo Anomander Rake, o Filho da Escuridão, busca suas próprias respostas, sabendo que uma guerra iminente se aproxima.

Em termos de construção de universo, Erikson não escreveu uma simples história, ele deu uma aula sobre como criar algo com qualidade. Sem dó, e escrevendo com maestria, ele nos entrega uma obra épica. Criaturas únicas, deuses, cidades enormes, magia e tudo o que você pode querer num livro de fantasia. A mitologia, como um todo, pode parecer um pouco complexa mas, quando você se entrega de vez para o livro, é difícil não querer seguir adiante. Se você busca uma história nova à qual se apegar, Jardins da Lua é a melhor escolha que você poderia fazer.

site: www.dicasdojess.com
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Edmar 20/04/2018

Com Jardins da Lua – O Livro Malazano dos Caídos 1, Steven Erikson dá o ponta pé inicial em uma saga que desde seu início é verdadeiramente épica, com diversas camadas, equiparada em grandiosidade a Game of Thrones (George R. R. Martin) e O Senhor dos Anéis (J. R. R. Tolkien). O autor subverte o senso comum, desconstruindo o status quo, segundo suas próprias palavras, “estabelecendo um distanciamento dos padrões habituais da fantasia” construído por obras clássicas de ficção fantástica, concebendo uma nova abordagem, adulta, cruel e intricada, que exige máxima atenção do leitor.

site: https://www.manualdosgames.com/jardins-da-lua-o-livro-malazano-dos-caidos-steven-erikson/
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Gabriel 04/04/2018

Star Wars sem as letrinhas amarelas.
Imagine começar Guerra nas Estrelas sem aquele textinho em letras amarelas sempre presente no início de cada episódio da série para lhe situar sobre a situação da galáxia. Retire todo o maniqueísmo envolvendo a Rebelião e o Império, deixando dúbios os diversos interesses pelo poder que estão em jogo, e acrescente bem mais protagonistas e tramas do que as da saga de George Lucas. Pronto… Jardins da Lua é isso e ainda mais um pouco! Um livro que tinha um aspecto quase místico antes de sua chegada ao Brasil devido à complexidade que os leitores da obra diziam ter e que segue dividindo opiniões até hoje.

Sou totalmente contra aquela idéia de que literatura é como uma escadinha, tem que começar com Harry Potter antes de chegar nas obras de “alto nível” de Machado de Assis e Doistoiévski, mas no primeiro volume de O Livro Malazano dos Caídos farei uma pequena “exceção” ao sugerir que o leitor que decida encarar essa obra tenha certa experiência no gênero de Fantasia. Eu particularmente tive a sorte de ler esse livro após Duna, que curiosamente o autor diz no prefácio que “se existe um romance que me serviu de inspiração direta em termos de estrutura, foi esse”. Ambos os livros são pouco expositivos no início, jogando termos na cara do leitor que só descobrirá seu significado lá pra frente. Mas a Ficção Científica do Frank Herbert ainda assim é mais fácil de digerir do que a Fantasia de Steven Erikson.

Os pilares da história, nos quais o leitor tenta se sustentar para entendê-la, são, na maior parte do tempo, frouxos. Prepare-se para formar uma nova história do livro a cada capítulo. Sabe-se que tem um império, chamado malazano, que atualmente é comandado por uma mulher chamada Laseen, cuja ascensão após a morte de seu antigo monarca é bastante obscura. Seu domínio está se expandindo através de campanhas bélicas para outros continentes, como Genebackis, o centro geográfico da história de Jardins da Lua, mas acompanhadas das defesas das cidades sitiadas pelo Império alguns descontentamentos internos nas antigas forças militares do primeiro imperador devido aos interesses dúbios da nova imperatriz para com seus soldados começam a aparecer para atrapalhar a expansão. Isso é bem o resumo do resumo do resumo. Ainda não citei a parte em que os deuses parecem estar interferindo no meio desse caos político-bélico por causas desconhecidas, ou que um pedaço de terra flutuante comandado por um ser alto cinza com uma espada gigante aparece no meio do caminho para tentar parar a ampliação malazana fazendo alianças com as cidades sitiadas, por exemplo.

Essas informações, que pegamos aos poucos, são apresentadas por diversos pontos de vista que acompanhamos no livro. Na realidade, não há aqui sequer um personagem principal, um herói, embora a sinopse da edição da Arqueiro sugira que esse papel seja do Ganoes Paran. O protagonista é o próprio império malazano, sua expansão. Quem já leu O Cortiço, obra Naturalista de Aluísio Azevedo, vai entender essa ideia de personificar algo abstrato e inanimado. Uma hora estamos acompanhando os soldados malazanos e seus planos para quebrar as barreiras do inimigo e conquistar mais uma cidade, outra hora vamos para outra cidade que está na lista de planos do império e vemos as maquinações de sociedades de assassinos, nobreza e feiticeiros, para reprimir ou facilitar a entrada do império que está chegando. Numa hora temos lampejos dos líderes do império e sabemos um pouquinho mais dos seus interesses, depois adentramos na esfera divina e vemos os deuses maquinando sabe-se-lá-o-quê. Mas o nome do império, sua expansão, está sempre no centro de todos esses eixos.

Isso gera duas consequências, uma positiva e outra negativa (pelo menos pra mim). Por um lado, mesmo com o excesso de informações, é inegável que a construção desse universo consegue encher os olhos e instigar o leitor a descobrir mais. O autor criou diversas raças para sua obra, como os Tiste Andii, seres altos de cor preta e cabelos cinza, os T’lan Imass, que são basicamente esqueletos vivos, ou os Jaghut, criaturas com duas presas pra fora da boca, entre um bocado de outros seres. Não suficiente isso, a realidade em que a expansão do império se dá não é a única existente. Há outras dimensões, ou reinos, acessíveis por portais criados por feiticeiros, pelos quais se pode encurtar a distância até outras regiões do mundo convencional, ou retirar poderes dessa outra dimensão para realizar ataques, e elas ainda são a moradia dos deuses. Além disso, temos as divisões dos exércitos, dos magos, os grupos nas cidades. Sem sombras de dúvidas, aliás tem uma dimensão das sombras, há uma genialidade na mente criadora desse(s) mundo(s), para juntar esse amontoado de ideias de forma bem caprichada, sem que ele se tornasse desinteressante pela sua escala, pelo contrário.

No entanto, os personagens de certa maneira acabam ficando em segundo plano. Sabe em Dunkirk, do Christopher Nolan, em que a situação de evacuação das tropas da praia de Dunquerque está mais em evidência do que a vida dos soldados que nem chegamos a saber os seus nomes? Então, aqui acontece mais ou menos o mesmo. Os conflitos criados, as tensões e maquinações, parecem ser mais importantes do que os personagens que fazem as novas jogadas. Dos quinze ou mais pontos de vista que a história segue, você acaba criando empatia apenas com alguns, enquanto outros tornam-se enfadonhos por serem arcos “menores”, apenas elementos superficiais para se pescar uma nova informação da história “maior”.

Mas das figuras que o Erikson cria e chamam atenção, há de se dizer que ele o faz com classe. Anomander Rake, o Senhor da Cria da Lua, cuja rápida e eficiente imposição faz com que qualquer um tema ficar de frente com ele, mesmo que não em combate, apenas para discutir acordos. Destaques também para Ben Ligeiro, um dos magos do império malazano, Piedade, uma assassina que está gerando certa desconfiança entre os soldados, Whiskeyjack, líder dos Queimadores de Pontes, um dos núcleos que mais acompanhamos no livro, Kruppe, com suas maluquices e sonhos, e a própria Laseen, que mal aparece, mas que tem uma áurea misteriosa deixando o leitor maluco para saber mais.

O que fica mesmo são os entrelaçamentos entre eles. Sabe-se que certa pessoa tem um passado com outra, que uma delas está desconfiando de outra, e que essa por sua vez tem um plano para com outro personagem que pode ajudar ou não essa primeira pessoa, e vai se criando uma bola de neve gigante, embaixo da qual o leitor está sendo esmagado tentando entender a situação, e a bola vai rolando, rolando, descendo a montanha, até que cai de um penhasco e BUM…! Termina fazendo um estrago no chão! Se bem que, particularmente, achei o final um pouco anti-climático. Meio deus ex-machina, inferior se comparado ao início bem engajante pra mim (não caí na maldição do 17%). Mas ainda assim satisfatório, deixando o leitor ávido para conhecer mais desse universo.

Jardins da Lua é, portanto, um livro desafiador. Por começar no meio de uma mega-situação e não se preocupar em explicar muito ao público leitor como se deu cada etapa até cada grupo da história chegar onde está, com muitos personagens que podem confundi-lo pelo excesso de nomes (obrigado, glossário!), e que têm bastante segredos e tons cinza. Desafiador também por comprimir bastante informação em seiscentas páginas. Mas com a devida paciência, a obra consegue se tornar instigante à medida que cada peça desse quebra-cabeça é montada. Uma obra diferente e necessária para a Fantasia. Resta agora aguardar a sua continuação. Dizem que só melhora, hein…

site: https://leitoresvigaristas.wordpress.com/2018/04/03/resenha-jardins-da-lua-steven-erikson/
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bruno.rauber 25/02/2018

O texto é denso, a narrativa é truncada, o livro te joga no meio da ação e não se esforça em explicar demais. Mas é impossível de parar de ler Jardins da Lua, que livro delicioso. Algo tão complexo assim chega a ser difícil de acreditar que se trata do do primeiro livro do Steven Erikson. Há tempos que um livro não exigia tanto de mim assim.
Além disso ainda merece ser comentada o cuidado da edição nacional (com menção especial à tradução excelente da Carol Chiovatto). Que a Editora Arqueiro lance logo os próximos volumes dessa maravilha que é Malazan!
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Acervo do Leitor 02/02/2018

RESENHA: Jardins da Lua – O Livro Malazano dos Caídos #1
Jardins da Lua é sem dúvidas um dos lançamentos mais aguardados dos últimos tempos para os leitores de Fantasia. Desde que a “finada” editora Saída de Emergência adquiriu os direitos e começou o trabalho de tradução os fãs ficaram alvoroçados. Malazan trata-se de universo riquíssimo e de alta complexidade, histórias que ultrapassam milhares de anos, personagens memoráveis e criaturas únicas, distribuídos ao longo de dezenas de livros.
Saiba mais sobre a série aqui: https://goo.gl/c02W3F

Enfim, chega março e com ela a promessa (cumprida) da Editora Arqueiro de trazer à luz do dia esta esperada obra. Jardins da lua vale toda essa expectativa? É assim tão “intragável” pelo ponto da complexidade, deixando o leitor completamente perdido neste primeiro romance?

“Por toda a vida nós lutamos por controle, por um meio de moldar o mundo à nossa volta, uma caçada eterna e inútil pelo privilégio de sermos capazes de prever a forma de nossas vidas.”

Antes de tudo, SIM! Jardins da Lua é tudo isso que se esperava e ainda mais. Prepare-se para entrar em um ambiente hostil, árido e sombrio. Com personagens “overpower” caminhando além do famigerado bem vs mal. Olhando de maneira perspectiva, não há vilões, não há heróis, tudo e todos são passíveis de qualidades e defeitos. Acertos e erros. Outro ponto muito interessante é a variedade cultural figuradas nas personagens de Steven Erikson, independente de raça, cor, gênero ou qualquer outro “rótulo”, todos formam um mosaico grandioso, onde não há espaço para preconceito em um lugar onde a sobrevivência é o seu delimitador.

A história gira em torno de diversos personagens que nos são apresentados já em ação. Todos estão fazendo algo por alguém ou por si mesmo. Não há uma pausa para se explicar o que está acontecendo, você sente que pegou carona numa carruagem já há muito em movimento. Talvez este seja o ponto difícil para alguém que está começando agora no universo Malazan, talvez não. Erikson não nos dá um instante de fôlego, todas as histórias, personagens e mitologia formam um quebra-cabeças gigantesco, com detalhes que beiram a perfeição. Acredite quando falo em riqueza em todos os detalhes: Deuses, raças, heróis lendários, uma cadeia de magia criada que transcende o espaço e tempo, um mundo com dezenas de cidades, distribuídos ao longo de diversos continentes. Veja mais no mapa abaixo:

Do ponto de vista geral, o plot principal neste primeiro livro gira em torno do Império Malazano na busca de conquistar a última das Cidades Livres de Genabackis, Darujhistan – maior cidade do continente. Entretanto, como era de esperar, há muito por trás das cortinas. A Imperatriz Laseem está na iminência de um conflito interno com seu Alto Punho mais implacável e parte de seu exército, os Queimadores de Pontes, que acreditam estarem na lista de dispensáveis da governante, fazendo com que sua conselheira Lorn, tenha a responsabilidade de representar seus desejos. Lorn conta com o auxílio de seu comandado Paran nesta tarefa, um capitão que está envolto de um joguete dos Deuses. Neste meio tempo um lendário guerreiro – Anomander Rake – portador de uma espada – Dragnipur – capaz de aprisionar deuses e mortais num mundo de escravidão e governante da mítica Cria da Lua, se volta aos seus interesses e os de sua raça – os tiste andii. Em Darujhistan, uma comitiva liderada pelo enigmático Kruppe tentará defender sua cidade dos avanços do Império, ao mesmo tempo em que tenta sobreviver a um conflito com a Sociedade local de assassinos liderada pela misteriosa Vorcan. Acha que isso é tudo? Não, ainda está longe de ser. Trono Sombrio, regente do Reino das Sombras ao lado de seu fiel e implacável comandante Cotillion – conhecido como a Corda -, se unirá a esta guerra com seus Cães infernais e suas possessões beirando o demoníaco.

“- Uma convergência de poder sempre produz esse resultado (…) Os ventos negros se reúnem, alquimista. Cuidado com seu sopro cortante.”

A escrita de Erikson é fantástica. Por mais que você sinta dificuldades em se situar dentro da história, principalmente na primeira parte, Jardins da Lua é concebido como um poema sombrio em um universo caótico. Seus personagens são o ponto alto do livro ao lado do intrigante sistema de magia e construção do mundo. O final do livro encerra muito bem a primeira parte, deixando pontas soltas que irremediavelmente serão tratadas nos próximos volumes.

SENTENÇA

Jardins da Lua é de fato complexo. É necessário atentar-se a cada detalhe. De uma maneira geral, aconselharia ao leitor ler de maneira tranquila, não se force tanto, não leia com tanta voracidade, absorva as nuances, sem pressa. A partir do momento que você deixar o rio fluir de maneira natural, sua imersão neste universo será completa. E neste momento, você irá concordar comigo. Jardins da Lua é uma verdadeira OBRA-PRIMA da Literatura Fantástica mundial. E merece MUITO alcançar seu sucesso em nosso país.

site: http://acervodoleitor.com.br/resenha-jardins-da-lua-steven-erikson/
Vanessa Pipi 20/05/2022minha estante
Desespera aqui pela continuidade desta série. Parabéns pela resenha




Luke.807 14/01/2018

"Ambição não é uma palavra proibida. Que se dane a moderação. Vão direto na jugular. "
Ler Jardins da Lua, primeiro livro da série O Livro Malazano dos Caídos é uma experiência única. Muito se diz sobre sua “complexidade”. Uma narrativa feita para poucos e “distintos” leitores de alta fantasia. Discordo completamente dessa afirmação. Jardins da Lua possui uma narrativa diferente, que foge as estéticas de livros convencionais de fantasia. Ter uma narrativa diferente não significa que ela seja complexa ou feita para um público “distinto”. Isso me soa mais uma forma de afastar leitores, do que contribuir diretamente com o entendimento da obra. Jardins da Lua é uma obra diferente de tudo que você já leu. Esteticamente é um expoente único na literatura fantástica.

Lendo os primeiros capítulos e observando seus personagens, a obra não parece fazer muito sentido. Todavia, na medida em que o processo narrativo avança, que os personagens se aprofundam; as histórias individuais passam a convergir num grandioso evento comum. Dessa forma, o antropólogo Steven Erikson introduz os leitores ao seu universo, buscando elementos da constituição de processos históricos grandiosos dentro daquele universo. Os processos históricos, segundo Norbert Elias, são construções de longa duração. Ou seja, dentro da narrativa, somos literalmente jogados dentro de um processo histórico, que a princípio não faz sentido, mas que tem a pretensão de alterar as bases fundamentais do Império Malazano.

Destacam-se, dentro da obra, a grande variedade de personagens e raças. A profundidade que o autor consegue incumbir aos “sujeitos” da história. Os personagens que mais me cativaram foram Ganoes Paran, oficial do Império Malazano, Kruppe, “homem de falsa modéstia”, Piedade, assassina mortífera, Lorn, conselheira da Imperatriz Laseen e Anomander Rake, senhor da Cria da Lua (Está na capa do livro). A Cria da Lua, governada por Rake, merece uma especial atenção. Trata-se de uma fortaleza lendária voadora. Um dos elementos mais interessantes da história. A princípio, achei que não funcionaria, mas em certo ponto, me encontrei vislumbrado com a descrição da fortaleza de Rake.

Outro ponto bastante interessante é o sistema de magia por portais. É certamente um dos sistemas de magia mais elaborados que já li, tendo dois princípios básicos: Labirintos e Portais. Os Labirintos são dimensões mágicas (ou não) dotadas de existência própria, com plantas, animais e magias próprias. Já os Portais, são as formas pelas quais os magos acessam essas dimensões, canalizando sua magia e conjurando seus animais (ou monstros rs). Um mago “normal” pode tornar-se mestre, maximizar seu conhecimento, de apenas um labirinto. Mas, altos magos, magos realmente poderosos, podem canalizar e conjurar energias e animais de vários labirintos.

Por fim, vale concluir que se trata de uma obra/série fundamental para quem gosta de fantasia. Poucas obras conseguem se aproximar da grandeza épica de Jardins da Lua e da série O Livro Malazano dos Caídos. Não se deixem enganar com “é muito difícil”, “fique atentos ao glossário”. Jardins da Lua foge aos estereótipos narrativos de fantasia, as convenções, é uma narrativa grandiosa e ambiciosa. Parafraseando o recado de Steven Erikson no prefácio destinado aos jovens escritores: Uma palavra a quem pretende ler a série O Livro Malazano dos Caídos: ambição não é uma palavra proibida. Que se dane a moderação. Vão direto na jugular.

Não poderia deixar o trabalho maravilhoso feito pela editora Arqueiro. Da qualidade do material do livro à capa fantástica (sic). 5 Estrelas!
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