PorEssasPáginas 13/11/2017
Resenha: Sangue por Sangue - Por Essas Páginas
É oficial: virei fã da Ryan Graudin. Sangue por Sangue, o segundo volume de uma duologia que começou com Lobo por Lobo é o terceiro livro que li da autora e, se já não estava apaixonada (acho que eu estava), agora estou (mais). Com este segundo volume, que encerra a série, a autora mostrou mais uma vez sua habilidade em contar histórias fortes e profundas, às vezes até mesmo cruéis, mas com personagens reais e situações absolutamente críveis. Reimagine o mundo pós-Segunda Guerra Mundial, um mundo onde os nazistas ascenderam ao poder. É muito mais terrível do que você possa imaginar, e a autora nos conduz pela mão nesta distopia sangrenta que irá mexer profundamente com seus sentimentos.
Importante: há spoilers do primeiro volume da série, Lobo por Lobo.
Gosto de autores destemidos, e Ryan Graudin é com certeza um exemplo disso. Ela não tem medo de escrever o que é melhor para sua história. Em Sangue por Sangue, ela finaliza sua duologia de forma impecável e corajosa. Nós encontramos Yael no mesmíssimo ponto em que a deixamos – logo após dar um tiro em Hitler e descobrir que ele, na verdade, era outro metamorfo, assim como ela. Yael consegue fugir, mas alguém a segue: o indecifrável Luka, que a enganou durante o Tour do Eixo, envenenando-a e deixando-a para trás, a fim de, assim, vencer a corrida. E ele conseguiu, levou Yael/Adele ao baile e se declarou – mas Yael disse que jamais poderia amá-lo.
Mas Luka não é mais tão indecifrável assim; ainda temos a narrativa (incrível!) de Yael, mas Luka se junta a ela, com seu próprio ponto de vista. E, por último, temos Felix, o irmão de Adele. Ele também tem sua própria história para contar e, da maneira mais improvável e perigosa, esses três personagens se reencontram e precisam seguir juntos em uma jornada insana de volta à Germânia.
Tudo neste livro parece ter sido inserido de maneira calculada. O planejamento da obra é fabuloso, sem espaço para nenhum furo, completamente verossímil. É difícil falar sem soltar spoilers, mas o que posso dizer é que este é um livro de pura ação e surpresas. Você vai se envolver ainda mais com os personagens, vai sentir raiva, mas também vai sentir pena, mesmo pelos traidores. Cada um tem sua história, cada um tem sua própria cruz e seus próprios motivos. E eles são justificados. Você sente o impulso de julgar, mas no final, não consegue. Mas, acima de tudo, você sentirá medo; e tenha medo, não se engane, ninguém está à salvo.
Mas há também espaço para ternura. Há um romance sensível, muito bem escrito, que realmente toca – até mesmo os corações mais gelados, como o meu. Há o amor do sangue, da família, e como as pessoas vão até as últimas consequências por entes queridos. E há amizade e fidelidade. Há, aliás, um encontro absolutamente surpreendente e que mexeu muito comigo, um encontro entre duas mulheres que mostrou como esta é uma aventura delas, duas personagens fortes e excepcionais que são a essência da obra.
Com a edição cuidadosa da Editora Seguinte, temos uma conclusão cheia de tensão; em Lobo por Lobo, tínhamos uma distopia na qual o Eixo venceu a Segunda Guerra Mundial e alguns, poucos, tentam resistir. Yael, judia e metamorfa, com a capacidade de se transformar completamente em outras pessoas, assume a identidade da corredora Adele; o plano é matar Hitler e iniciar uma revolução. E, apesar do Führer não ter sido morto, ela consegue; em Sangue por Sangue nós temos a guerra de verdade. Mas ler este livro é muito diferente de ler a guerra em outros livros de fantasia e ficção científica; aqui o sangue é mais vermelho, pegajoso, e a guerra fictícia impacta ainda mais porque é assustadoramente real. É o que poderia ter acontecido. É o que ainda pode acontecer, pois não sabemos o que está por vir e a paz em nosso mundo ainda é muito frágil.
Por isso este livro mexe tanto. Ele é uma ficção, mas poderia ser real. Nós torcemos e sentimos medo pelos personagens, que mais parecem versões de pessoas reais, pessoas que sofreram naquele conflito, pessoas que talvez sofram pelo mundo. Talvez seja esta o grande legado das distopias: fazer o leitor pensar em como nosso mundo rapidamente pode se transformar em um lugar opressivo e cruel, especialmente para minorias. Distopias nos fazem refletir sobre o mundo que temos, que podemos ter e que desejamos. E que se as coisas não vão bem para alguns, não vão bem para ninguém.
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