Leila de Carvalho e Gonçalves 25/08/2018
O Sueco
Lançado em 1997, ?A Pastoral Americana? é o vigésimo segundo livro do escritor norte-americano Philip Roth. Incluído na lista dos cem melhores romances da revista Time e agraciado com o cobiçado Premio Pulitzer, trata-se de um campeão de vendas que também foi indicado ao National Book Award e ao National Book Critics Circle Award.
Ambientado em New Jersey, mais especificamente em Newark, que nada mais é do que a Combray de Roth, sua narrativa vai de 1890 até os anos 90, abrangendo 100 anos e 4 gerações de uma família judia, os Levov. Com uma cronologia bastante original, ela começa no final da história, dá inúmeros saltos temporais e termina no meio, exigindo atenção durante a leitura.
Seu protagonista é Seymour, mais conhecido como Swede ou Sueco. Neto de imigrantes, ele é um ?monarca da vida ordinária?, conforme observa Jerry, seu irmão caçula, isto é, um judeu casado com uma católica que construiu para si uma vida impecável de acordo com o padrão de uma elite republicana protestante. Alguém que todos os homens sonham ser e todas as mulheres querem ter, mas que a idílica vida foi destroçada por uma tragédia familiar.
O narrador do romance é o escritor Nathan Zuckerman, alter ego de Roth em 8 livros. Em 1995, durante uma reunião de antigos alunos da escola secundária que frequentou, ele é informado sobre a morte do Sueco, ocorrida há poucos dias, e também descobre que a filha de seu antigo ídolo foi uma militante contra a Guerra do Vietnã e, aos 16 anos, bombardeou uma agência de correios, matando um inocente e desaparecendo em seguida, sem deixar pistas. Chocado, ele começa a imaginar como a promessa de um destino idílico havia malogrado e decide escrever um romance a respeito.
?Ninguém passa pela vida isento de amarguras, desgostos, confusão e perda. Mesmo aqueles que tiveram tudo de melhor quando crianças, mais cedo ou mais tarde recebem sua cota regular de sofrimento, quando não recebem até mais do que isso. Deve ter havido consciência e deve ter havido decepção. Todavia, eu não conseguia vislumbrar que forma uma ou outra teria tomado, não conseguia despojá-lo de sua simplicidade, mesmo agora: no resíduo da minha imaginação de adolescente, eu ainda me achava convicto de que, para o Sueco, teria de ser um caminho inteiro livre de dor."
Em síntese, esta é a história da ascensão e queda de um homem como também uma parábola ressonante da inocência e desilusão dos americanos. Portanto, abarca vários temas como o passado e a memória; a família e o conflito geracional; a questão da comunicação e linguagem cujo foco é a gagueira que assombra Merry desde a infância; a religião, em especial, liberdade religiosa e o casamento inter-religioso; a política norte-americana, tendo como destaques a Segunda Guerra e a Guerra do Vietnã.
Indubitavelmente, Roth não poderia ser mais irônico na escolha do titilo do romance. ?Pastoral Americana? não guarda qualquer semelhança com uma poesia bucólica, a idílica e fictícia Rimrock perdeu sua inocência com a explosão de uma bomba. Como ele mesmo afirma, os Levovs nunca se recuperarão deste episódio. ?Tudo está contra eles, todo o mundo e tudo o que não gosta da vida deles. Todas as vozes que vêm de fora condenam e repudiam a vida deles! E o que há de errado com a vida deles? O que, neste mundo, pode ser menos repreensível do que a vida dos Levov?? Cabe a cada um julgar e tentar responder.
Em 2006, o romance ganhou uma adaptação para o cinema, dirigida e estrelada por Ewan McGregor com a autorização de Roth que, inclusive, gostou do resultado. A crítica especializada, porém, não foi tão amigável à adaptação do romance feita pelo astro escocês. Stephen Holden, crítico do The New York Times, escreveu: ?O filme não é uma profanação, mas uma severa diminuição de uma obra-prima literária complexa. Esse brilho superficial, porém notável, de um livro que evoca uma imagem arrebatadora do sonho americano em desintegração na década de 1960, especialmente no que se refere à identidade e aspiração judaicas, equivale a não muito mais do que uma lista de cenas respeitosas do romance. E seu tom de lamento omite o humor amargamente sarcástico de Roth."
Finalmente, adquiri o e-book que atendeu minhas expectativas.