Lola444 13/02/2020Que obra prima! Inesquecível!Eu lembro quando o filme "Memórias de uma Gueixa" foi lançado e eu nunca me interessei de assistir, então um dia desses pedi indicação de um romance - uma história de amor - e muitas pessoas me indicaram esse livro, vim ver a nota no Skoob e estava altíssima. Resolvi apostar nele. Bem, essa foi, sem dúvida, uma das melhores escolhas da minha vida literária.
Aos 9 anos de idade a pequena Chiyo morava em um vilarejo de pescadores e tinha uma casinha torta a beira mar (que ela chamava de casa bêbada), onde morava com sua família (mãe, pai e irmã), devido a uma doença terminal, sua mãe se viu prostrada em uma cama, e o pai se achou perdido sobre o que fazer com as meninas sem a mulher - refletindo como era distante o relacionamento pai e filha na época e demonstrando um pouco da formalidade japonesa típica também. Assim, Chiyo acaba vendida para uma casa de gueixas em Gion o bairro das gueixas de Kyoto (não vou entrar em muitos detalhes de como isso aconteceu), que chamam de Okiya, e tem sua vida completamente transformada.
A história de Chiyo, que depois se torna a bem sucedida gueixa Sayuri, é APAIXONANTE, a personagem é uma das mais reais e adoráveis que já li, eu acho chocante o fato de que foi um HOMEM OCIDENTAL que escreveu esse livro, mas ele realmente fez o dever de casa, além de ter talento nato mesmo, pois o livro não é uma enciclopédia didática sobre como viviam as gueixas, não, ele tem ALMA, tem VIDA, tem sentimento! A sensibilidade de Arthur Golden é tocante!
Todo personagem do livro é muito bem construído, principalmente da protagonista, você se apaixona pela transformação da menina em mulher, sofre junto com ela e, principalmente, se apaixona pelo Presidente junto com ela, é impossível não amar esse homem, ele é maravilhoso, bondoso, respeitador, um sonho. O primeiro encontro deles é uma das cenas mais lindas do livro, o coração aquece.
É a partir desse encontro que Chiyo decide que quer ser uma gueixa, pois sendo uma gueixa pode chegar perto daquele homem e, talvez isso fosse incômodo em uma outra história, mas nessa eu acho perfeitamente compreensível que a vida dela como gueixa se paute em estar com esse homem, ela acredita que ele seja seu destino, e faz disso seu objetivo, pois, do contrário, o que lhe restava? Ela via a amargura na maioria das mulheres que conviviam com ela, e sentia que a única coisa que a mantinha em pé era a esperança. Quem pode culpá-la?
Nós acompanhamos o crescimento de Chiyo, seu aprendizado com Mameha, sua evolução nas artes de gueixa e finalmente sua ascensão como Sayuri, e vamos adentrando de forma absurdamente profunda nessa nova rotina, mas não é só isso, os relacionamentos humanos são incríveis, ele sabe abordar tão bem a cultura japonesa, o comportamento do povo japonês, os diálogos, é simplesmente surreal! Além de equilibrar perfeitamente o enredo com fatos históricos como a grande depressão, a segunda guerra mundial, a bomba de Iroshima, etc. Enfim, a vida de Sayuri é FANTÁSTICA de ler, seu amadurecimento é fabuloso, ela é fabulosa e, sem dúvida, já é uma das melhores protagonistas que li na vida.
Mas enfim, como nem tudo são flores, vou dizer o que eu não gostei - ou melhor, o que eu mudaria - (e daqui pra frente tem LEVES spoilers) eu realmente acho que a relação entre ela e o Presidente deveria ter sido mais explorada, não sei se é porque eu fui com a perspectiva de romance (tendo em vista que foi assim que me indicaram), mas eu gostaria de ter tido mais cenas deles juntos e que não ficasse apenas tão para o final o acerto entre eles. É lindíssimo o diálogo que eles têm quando finalmente ele resolve contar tudo para ela, mas poxa, eu queria tanto que tivesse tido mais pistas durante o livro dos sentimentos dele, enfim, eu sou uma romântica e não consigo evitar querer mais romance, haha. Vale ressaltar que isso em NADA diminui a qualidade do livro, tanto que mantenho as 5 estrelas e favoritado, apenas foi uma expectativa que EU alimentei, provavelmente se eu tivesse pegado o livro sem esperar um romance teria ficado plenamente satisfeita.
Portanto, apesar dessa ressalva, eu entendo que o foco do livro não é o casal em si, mas sim a vida da Sayuri, o Presidente apenas faz parte dela. Além disso, tem o fato de que ele era um homem japonês em pleno anos 30/40/50, ou seja, a formalidade era imensa e ele já é até bem apaixonado para o contexto histórico social, então acho que essa certa distância era inevitável, do contrário poderia perder a verossimilhança que é algo que o livro valoriza muito, tanto nas questões históricas quanto humanas.
Bem, o que eu sei é que mesmo não sendo exatamente o romance super romântico que me fizeram acreditar quando pedi indicações, agradeço ao povo que me indicou, porque foi um dos melhores livros que li na vida, favoritei com gosto e não consigo parar de pensar sobre ele, fazia muito tempo que eu não ficava assim tão impactada com um livro. Já estou morrendo de saudade de Sayuri, do Presidente, de Mameha... Hatsumomo e Abóbora, vocês não (hahaha).
Eu me apaixonei profundamente por cada palavra dessa pequena grande mulher, chorei com ela, sorri com ela, admirei sua força, sua perseverança, sua ingenuidade, sua resiliência e, principalmente, sua sabedoria de olhar para trás e saber tirar tantas coisas boas de todo o sofrimento que ela foi submetida. Sayuri é uma heroína, uma vencedora, e eu sou grata por ter tido a oportunidade de ler sua história.