Luiza Helena (@balaiodebabados) 06/05/2020Originalmente postada em https://www.balaiodebabados.com.br/Na minha vontade de diversificar gêneros, nem sei como cheguei nesse livro. E ao final da leitura tive sentimentos bem conflituosos sobre tudo o que se passou.
If We Were Villains me lembrou muito um livro que li há 84 anos: A História Secreta, da Donna Tart. Muita gente também diz que tem vibes de How To Get Away With Murder, o que também é verdade. Temos um grupo de estudantes de repente envolvidos em um assassinato. Fica aí questionamentos: quem matou?, por que matou?, e por aí vai...
A história narrada em primeira pessoa por Oliver, que te mergulha no dia-a-dia de uma prestigiada faculdade de teatro que praticamente vive para exaltar as obras de Shakespeare. Oliver e seus seis amigos estão no último ano de estudo e praticamente cada um sempre viveu os mesmos tipos de personagens. Quando essa rotina é quebrada, toda a convivência no grupo também é afetada.
A narração de Oliver é interessante por um lado, mas negativa por outro. Interessante já que ele foi o condenado pelo crime, mas negativo porque ficamos presos somente à sua visão de tudo que acontecia entre seus amigos e no conservatório. Podemos dizer que Oliver não é a pessoa mais perspicaz do grupo, por muitas vezes sendo considerado um tanto inocente em suas considerações.
Acompanhando Oliver no seu último ano, temos James (o herói), Meredith (femme fatale), Wren (a inocente), Alexander (uma espécie de alívio cômico feat tirano), Fillipa (coadjuvante) e Richard (o vilão). Pela visão de Oliver, podemos ver bem nitidamente essas designações em cada personagem, mas o assassinato de um deles começa a afetar cada um de uma forma diferente.
A questão do mistério de quem matou foi o que me fez continuar o livro. Tudo bem que a decisão dos que os outros seis sobreviventes tomaram na noite do crime não permitiu tanta exploração do acontecido, combinado isso com a narração em primeira pessoa. Porém, a autora focou demais em narrar no dia-a-dia curricular do grupo e isso me desanimou um pouco.
Confesso que não sou muito fã da leitura de peças de teatros e nunca li nada de Shakespeare, então os momentos que os personagens estavam ensaiando/apresentando e declamando pedaços de suas obras também não foi muito do meu agrado. Entretanto gostei de como a autora soube encaixar obras cheias de angústias, traições, sofrimentos do autor, como Rei Lear e Hamlet, na vida do grupo, principalmente após o crime.
O início do livro é um tanto morno, te familiarizando com os personagens e o seu "papel" no grupo. Logo, eu senti que ele deu uma acelerada no ritmo com algumas situações, que levaram à noite de toda essa situação. Quando achei que depois disso iria ficar melhor, ele cai no mesmo ritmo do início do livro até mais ou menos os capítulos finais quando tudo se revela.
Confesso que já suspeitava de alguns detalhes do que havia acontecido na noite da morte, mas a participação de uma outra pessoa me foi uma surpresa. O que não me convenceu foi o motivo por Oliver ter aceitado a culpa pelo ocorrido. Foi um detalhe que se a autora tivesse trabalhado melhor durante a história teria sido bem mais crível. Eu aceitaria até se fosse em nome de uma grande amizade.
No geral, If We Were Villains foi um livro que prometeu muito e não cumpriu minhas expectativas. Mas fica aí a dica para quem queira ler algo parecido com How To Get Away With Murder com uma pitada da tragédia e drama de Shakespeare.
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