Aline Teodosio @leituras.da.aline 16/07/2018
As histórias desta obra tomam como base as narrativas já bem conhecidas dos contos de fadas e contos maravilhosos. Entretanto, não se trata simplesmente de recontos, pois a autora utiliza-se dessas obras como influência para criar histórias muito diferentes.
Em todos os contos, a figura principal é sempre uma mulher. De início imaginei que o livro fosse de completo empoderamento, o que não aconteceu, pois a autora retrata a mulher em diversas facetas: algumas fortes, outras passivas, umas à frente do seu tempo, outras submissas, umas ingênuas, outras donas de si. O universo feminino é explorado sob diversas ópticas, trazendo à tona temas como a sexualidade, amor, passividade, lutas, superação, descobertas.
Mas o que mais me fascinou nesta leitura foi a ambientação criada pela autora. As descrições são minuciosas, nos arrastando completamente para dentro de um mundo encantado, com florestas exuberantes e criaturas fantásticas. Seu vocabulário é rico, elegante, elaborado. As palavras aqui utilizadas tornam a narrativa mágica, criam um clima de tensão e assombro. É como se caminhássemos lado a lado com essas mulheres sentindo seus temores, angústias, mágoas, êxtases. Um misto de misticismo e vida real.
Bem, como todo livro de contos sempre tem aqueles que gostamos muito e outros nem tanto. Dentre os que mais me chamaram a atenção estão os que remetem à Bela e a Fera, a Nosferatu e Chapeuzinho Vermelho: No conto O Sr. Lyon faz a corte, Bela é retratada de forma mais romantizada, lembrando um pouco a famigerada versão da Disney, embora aqui a Bela fique entediada com os livros (blasfêmia! Rs). Já no conto A Noiva do Tigre, Bela se mostra audaz, dona de si e até um tanto quanto despeitada. Confesso que gostei bem mais dele. O final, esperamos por um desfecho que não acontece como manda o script, tornando-se surpreendente. De longe a Bela é a princesa dos contos de fadas das mais feministas e a Bela deste conto não decepcionou.
O conto A Senhora da Casa do Amor remete às histórias da sombria e horripilante Romênia e ao misterioso e fascinante Nosferatu. Aqui, a solitária condessa sanguinária busca desesperadamente por libertação de um mundo funesto. As descrições da autora são elegantes, inebriantes e criam ao mesmo tempo um clima de tensão, assombro e encantamento. Que beleza de conto!
Já o conto A companhia dos Lobos me deixou estarrecida. A autora mistura a lenda do Lobisomem com a história da Chapeuzinho Vermelho, tornando o conto macabro e ao mesmo tempo sensual. Uma mescla assombrosa e improvável de amor e ferocidade.
Ao final dessa aventura encantada só posso dizer que saí inebriada de magia, embevecida com o poderoso néctar do feminino correndo nas veias.