Coruja 04/12/2012Fiquei muito agradavelmente surpresa quando descobri que esse livro tinha tradução aqui no Brasil. Encomendei-o na Cultura há quase um ano, e deixei-o na estante, guardando-o para o Desafio Literário 2012. Toda vez que ia tirar um outro volume da estante, olhava para a cara dele, passava o dedo na lombada e tentava não agarrá-lo de vez.
Quando estive na exposição sobre Tim Burton, na Cinemathèque Française em agosto, além de ver várias das ilustrações originais que aparecem no livro, também o folheei em edições em francês e inglês (a de capa dura azul é belíssima)... e voltei para casa ainda mais curiosa para lê-lo de uma vez.
Ao finalmente começá-lo, pus-me a pensar se não absorvera mais das folheadas que dei do que supunha a princípio. Havia tanto de familiar (e tanto de estranho) nas páginas de O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra que aquela não parecia ser a primeira vez que o lia.
Demorou um pouco para perceber que a familiaridade não vinha de uma leitura inconsciente prévia das histórias contadas em pequenos poemas nem sempre com razão, rima ou métrica.
Burton fez parte de minha infância – como provavelmente fez de muitos dos leitores do Coruja. Filmes como Edward Mãos de Tesoura e O Estranho Mundo de Jack (que eu assisto de novo todo ano em dezembro, como parte de minhas tradições natalinas), fazem parte de minha memória afetiva. A Noiva Cadáver é uma das minhas animações favoritas de todos os tempos e quantas vezes não me impedi de recitar Bettlejuice pela terceira vez?
Os desenhos, muitas vezes macabros, que acompanham os poemas, são familiares pela estética dos filmes. E os poemas em si também resgatam os temas que uma vida inteira Burton trabalhou – a idéia do estranho, do outro, de solidão, rejeição, tentar encontrar seu lugar no mundo.
Há humor negro (muito pouco politicamente correto), morbidez e, contraditoriamente (ou não, afinal, estamos falando de Burton), inocência. Por vezes assustador, por vezes encantador, Burton nunca deixa de ser fascinante – e, em O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra, ele está certamente em seu melhor fôlego.
(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)