Tamara 14/02/2018
*Resenha postada originalmente e na íntegra no blog Galáxia de Ideias
Não há coisa melhor do que um bom chick-lit para nos tirar de qualquer ressaca literária, ou melhor, não há nada melhor do que um bom chick-lit sempre, principalmente quando este for um livro cativante, que nos faz devorar cada página e nem ver o tempo passar. E, posso dizer que é exatamente isso que Lauren Weisberger nos oferece nesse enredo, que é fascinante, encantador e delicioso, e uma trama daquelas que deixa um eterno gostinho de quero mais, e certamente se a autora trouxesse mais umas 800 páginas desses personagens, eu ainda iria continuar lendo e me encantando.
Na verdade, desde a primeira vez em que li essa autora, com o famoso Diabo veste Prada, o qual tem um filme homônimo, percebi sua habilidade em trazer as mulheres no mundo do trabalho e suas dificuldades, percalços e as coisas pelas quais muitas abrem mão. Isso no geral se torna uma grande fonte de identificação, pois muitas de nós, mulheres reais, também passamos pelo que as protagonistas dos livros da autora passam, e é possível nos identificarmos com suas tristezas, dúvidas e ambições, e com O diabo ataca em Wimbledon não foi diferente, e ele fez com que eu me tornasse ainda mais fã de Lauren.
Em primeiro lugar, devo esclarecer que O diabo ataca em Wimbledon, apesar da semelhança com o nome do primeiro livro da autora, O diabo veste Prada, não traz semelhanças com a primeira trama. Ambos são livros diferentes, independentes e em nenhum momento se entrelaçam. Dito isso, preciso ressaltar todos os pontos positivos que encontrei nessa trama, e foram muitos que mal sei por onde começar. Mas, provavelmente, o que me cativou de primeira foram os personagens, eles são completamente reais, engraçados, dramáticos, enfim, contém todas as características que vemos em nós mesmos, e isso faz com que criemos um afeto quase que imediato por eles. E, falando em afeto, cabe aqui uma forte ênfase na família de Charlie, composta por seu pai e irmão, que são homens dignos, admiráveis, com belas histórias e que estão ao lado da sua menina independente das decisões que ela toma ou independente do que pensam sobre elas.
Outro ponto que foi bacana para mim se deu pois eu sempre tive um estranho fascínio pelos ambientes esportivos (apesar de não entender absolutamente nada do tema), e então ver Charlie falando de tênis o tempo todo foi bem gostoso para mim. Além disso, o livro contém uma escrita bastante fluída, que me fez devorá-lo em um único dia (sim, comecei a ler e só parei quando terminei, sem qualquer pausa), e fala de romance, mas em nenhum momento esse é o grande foco, e sim Charlie, sua vida e seus dilemas, e também apesar de trazer vários dilemas, tudo é abordado com muita leveza e sensibilidade. Ainda cabe destacar que nessa obra encontramos discussões sobre o papel da mulher, os preconceitos relacionados a elas, principalmente no tênis, que é considerado um esporte masculino, e também da situação de as mulheres esportistas serem mãe e esposa x ser uma esportista que viaja boa parte do ano, pois vemos claramente aqui que quando se trata de um homem acompanhando uma mulher isso é visto como ridículo, improvável e impossível, e quando é uma mulher que larga tudo para seguir seu marido esportista está tudo bem e ela não está fazendo mais do que sua obrigação.
O humor funciona de diferentes formas para cada leitor, e tudo depende muito do momento e do senso de humor de cada um, então, enquanto para mim cenas leves e divertidas foram um ponto positivo, para outro pode ser o ponto negativo do livro. Além disso, acompanhar a vida de Charlie e tantos fatos sobre tênis pode ser entediante ou irritante, para quem não gosta nada desse ambiente esportivo. Ainda, o final, com o romance que não se desenvolveu tanto, e uma certa decisão de Charlie que pareceu um tanto estranha podem se mostrar incômodas para o leitor, mas o livro me prendeu de tal forma que acabei não me apegando a esses detalhes.
Charlie é uma personagem que me cativou desde o primeiro momento, e a forma como ela é construída serviu para me despertar uma simpatia imediata, uma vez que ela não é uma personagem perfeitinha, e sim uma mulher cheia de defeitos, dúvidas e tentativas de erros e acertos como é de hábito nos chick-lits. A família da protagonista também é muito presente, o que nos faz criar afeto por eles, sendo Peter, o pai de Charlie, um homem que ficou viúvo e teve de aprender a criar sozinho os filhos adolescentes e o fez muito bem, e Jake, o irmão que é também empresário de Charlie, e é uma pessoa que traz uma história secundária linda e tocante. Ainda, outros personagens como Marcy, a primeira treinadora de Charlie, bem como outros tenistas e até mesmo tod são super bem construídos e nos despertam desde o amor até a raiva.
O livro é dividido em 23 capítulos, todos narrados em terceira pessoa e em cada um deles acompanhamos meses da vida de Charlie, desde o dia em que ela tem a terrível lesão e toda a sua volta ao esporte que ama. Ainda, realizei a leitura em ebook e não há erros.
Recomendo essa história para leitores que apreciam livros leves, divertidos e que ainda assim tem algo a nos ensinar e mostrar, e também para os fãs de chick-lit ou para quem quer conhecer o gênero, todos os livros dessa autora, em especial esse, são incríveis e nos deixam com um sorriso no rosto e um imenso gostinho de "quero ler os livros dela para sempre".
site: http://www.galaxiadeideias.com/2018/01/resenha-o-diabo-ataca-em-wimbledon-por.html