Arca Literária 16/03/2018
Hoje a resenha é sobre uma história conhecida mundialmente. Sobrevivendo Entre Lobos foi lançado pela primeira vez em 1958, pouquíssimo tempo após o período no qual ocorre os acontecimentos narrados na história. É uma leitura forte, sem rodeios e com o propósito de mostrar o quão duro, triste e desumano foi o período retratado e como a dor, a incerteza, a coragem e o medo se misturam com facilidade quando o ser humano é obrigado a conviver diariamente com a morte.
A história gira em torno de uma organização comunista secreta, existente dentro de um dos campos de concentração na Alemanha, no período em que o Nazismo aterrorizava aqueles que eles consideravam inferiores. Em meio a toda loucura do campo de concentração e suas atrocidades, um Judeu Polonês chega a Buchenwald e em sua mala, ao invés de roupas, leva consigo um pequeno sobrevivente, um garotinho inocente, que mudaria os rumos da história e traria conflitos ainda maiores do que aqueles que os prisioneiros já possuíam.
Bochow, Hofel, Kramer e Pippig são os personagens que ganham destaque durante a narrativa, eles fazem parte da organização secreta e são eles também que passam a carregar toda a carga de temor, dúvida e responsabilidade para com eles próprios e os companheiros que encontravam-se aprisionados. Sobre eles está o peso das decisões, inclusive a decisão sobre o que fazer com aquela criança que inesperadamente apareceu em suas vidas. Tem quem deseje manter o inocente escondido no campo, mesmo sabendo de todo o perigo que aquele menino poderia representar e tem quem prefere agir de forma mais racional e até mesmo cruel, optando por livrar-se o mais rápido possível daquele perigo.
Com a chegada daquela criança inocente os conflitos internos e externos tornam-se ainda maiores e faz com que homens fortes de corpo e mente se dividam entre a vontade de cuidar de um pequeno anjinho que apesar das circunstancias trazia de certa forma um pouco de alegria e força de vida, e a responsabilidade para com os seus e para com os seus ideais e luta pela liberdade. Se deixassem o garoto chegar nas mãos do inimigo, eles sabiam que o seu destino seria a morte, entretanto, se o escondessem e os nazistas lhe descobrissem, poderia ser o fim para todos, a morte total da esperança de um dia sentir-se livre novamente, pois certamente todos eles perderiam as suas vidas juntamente com o pobre menino.
O livro possui uma capa meiga, contrastando com a história dura retratada no livro, letras em tamanhos adequados, a história é narrada em terceira pessoa, as folhas amareladas e 444 páginas recheadas com muita tensão, coragem, luta e esperança. Sim, em meio a todos os momentos de terror, existe a esperança, esperança essa que faz com que aqueles homens presos sem nenhum motivo, resistam dia após dia.
Assim como todas as histórias desenvolvidas nessa época turbulenta, Sobrevivendo Entre Lobos é uma história para refletir sobre como o ódio e também o medo pode transformar homens em monstros, muitas vezes piores do que os seus próprios carrascos e sobre como o instinto de sobrevivência pode fazer com que o ser humano resista a momentos horríveis.
Sobrevivendo Entre Lobos é aquele tipo de história que deve ser lida com atenção, para compreender tudo o que ocorre e os propósitos de cada um dentro daquele campo de concentração. Mas passado o primeiro momento de identificação, a história flui tranquilamente e podemos adentrar e sentir os momentos de tensão e total desespero pelos quais aqueles corajosos resistentes passam, bem como os conflitos internos, o desejo de dias melhores e a vontade de viver.
Li em algum lugar que esse tipo de história faz com que o ser humano compreenda as coisas que não podem ser repetidas em hipótese alguma e isso é a mais pura verdade. Histórias como essa nos faz ver como o ser humano pode tornar-se algo podre, desprovido de amor e compaixão, como a maldade pode transformar as pessoas em seres horríveis, mas também são histórias como essa que nos faz pensar que a esperança sempre deve existir e que desistir nunca é uma opção quando o objetivo final é a vida.
Até breve,
Lia Costa