Julia Ledra 23/01/2023
A primeira metade é ótima a segunda é extremamente enrolada
A metade do livro foi muito interessante e fácil de acompanhar, mas nos últimos ~40% do livro o autor foca bastante em cenários fictícios de economia e estatística para explicar os conceitos, eu que sou leiga no assunto fiquei boiando nessa parte.
(O que é um pouco irônico dado que o livro fala sobre tu se esforçar pra pensar e entender as coisas, mas sinceramente eu achei chato e não me dei ao trabalho de entender mesmo…)
O livro sofre da síndrome da reunião que poderia ter sido um e-mail e seria um pouco menos cansativo se tivesse umas 100 páginas a menos - como grande parte dos livros de autoajuda.
Ainda assim acho que o livro tem potencial em explicar como funcionam esses dois sistemas do cérebro, a importância de cada um deles e como ser mais lógico e crítico na vida para ter maiores chances de sucesso e ser mais justos com as pessoas ao nosso redor.
Alguns dos pontos que o livro menciona
-Efeito Halo: quando gostamos de uma pessoa, tendemos a gostar de tudo naquela pessoa, inclusive inventar características que ela não tem. Naturalmente, o contrário também é verdade.
Exemplo: se você tem uma amiga que é super carinhosa e gentil, é normal você “achar” que ela doaria dinheiro para a caridade.
- Aletoriedade: os humanos odeiam coisas aleatórias, porque estamos acostumados a encontrar padrões em tudo para conseguir prever nossas próximas ações. Por causa disso, tentamos encontrar padrões onde não existem. E é aqui que as pessoas caem em fake news, porque qualquer explicação para um fato (por mais absurda que seja) é mais atrativa do que admitir que pode ser algo sem explicação alguma.
Exemplo: se os moradores de uma cidade rural pequena morrem mais cedo, podemos tentar explicar isso dizendo que eles possuem menos acesso à saúde, fumam mais e não possuem água potável. Mas se os moradores da cidade vizinha (que também é rural e pequena) vivem mais, podemos argumentar que eles comem uma dieta mais saudável, se exercitam mais e têm menos acesso à poluição do que cidades grandes. - Ambas são falsas, a melhor explicação seria que as cidades possuem poucos habitantes, então as amostras não são estatisticamente viáveis.
- Ancoragem e sugestão: quando sugerimos um valor ao nosso cérebro, ele se prende a este número para estimar variações.
Exemplo: tente responder a pergunta: “qual é o ponto de ebulição da água no Everest?”. Provavelmente você pensou primeiro no ponto de referência da fervura da água: 100 C, e depois considerou que no Everest, por ser uma altitude maior, esse valores seria um pouco menor.
Isto é importante na tomada de decisão em negociações. É normal que as pessoas ofereçam orçamentos 20-30% acimado que realmente desejam receber para ancorar o preço e negociar um valor mais alto do que o desejado, já que o valor inicial mostra ao cliente que o produto é muito valioso.
- Ignoramos a sorte: as pessoas tendem a supervalorizar as habilidades e ignorar a sorte. Queremos nos sentir capazes e donos dos nossos destinos, e admitir que grande parte da nossa vida depende da sorte é desesperador.
Exemplo: se pensamos na história da criação do Google, é normal assumir que os criadores eram profissionais incríveis e visionários que sabiam muito bem o que estavam fazendo. Mas ignoramos o fato de que se eles tivessem azar em algum pequeno ponto, a empresa poderia ter sido destruída enquanto era uma start up. Por exemplo, eles poderiam ter sofrido um acidente de carro, o mercado poderia ter colapsado, uma guerra poderia ter ocorrido, uma empresa competidora poderia ter sido mais rápida…
- Confiança e otimismo: nossa sociedade tende a valorizar muito as pessoas confiantes e otimistas porque elas passam mais credibilidade. Mas a autoconfiança e o otimismo em excesso levam as pessoas a tomarem mais riscos, então estas pessoas tem maiores chances de cometer erros enormes e não perceber.
O ideal seria considerar tanto o lado positivo quanto negativo, levantar os contrapontos e as provas para daí sim tomar decisões informadas. Isso acontece pelo Sistema 2, é bem mais trabalhoso e ainda tem chances de dar errado, então a gente tende a ir pelo Sistema 1 mesmo 😑
- Vivência ou memória: nós temos duas personalidades - a que vivencia uma situação e a que lembra dela.
Exemplo: um estudo foi feito onde as pessoas colocavam as mãos em baldes de gelo. Uma das mãos ficava no balde por 1 minuto e era removida imediatamente, e a outra mão ficava no balde por 1 minuto e meio, mas nos últimos 30 segundos o balde era enchido com água morna. As pessoas se relembravam do período mais longo como sendo menos pior, já que a sensação de frio diminuía aos poucos.
Uma das implicações desta divergência é na criação de políticas para o bem estar das pessoas, por exemplo: devemos criar procedimentos médicos menos dolorosos ou que deixam uma memória menos traumatizante?
- Forma de apresentação: a forma como apresentamos as coisas é muito importante para o tipo de resposta que obteremos.
Exemplo: quando consideramos a doação de órgãos, existem duas estratégias adotadas no mundo: as pessoas podem se inscrever em programas de doação ou podem já ser automaticamente inscritas e, se não quiserem doar seus órgãos ao morrer, só precisam preencher um documento solicitando que sejam removidas do programa.
O primeiro sistema tem muito menos cadastros para doação de órgãos, porque as pessoas precisam ativamente se inscrever - e todo mundo tem preguiça de fazer isso. Já o segundo sistema garante muito mais doações pelo mesmo motivo - as pessoas têm preguiça de se desiscrever.