Flavio.Muniz 23/04/2022
Hora de Roland e seus amigos acamparem por uma noite e mergulharem de volta no passado, particularmente o de Roland, cuja misteriosa história continua a intrigar seus três companheiros de Nova York. Porque Roland nem sempre foi “o velho, alto e feio” (como Eddy tão gentilmente o chama). Ele era jovem, cheio de ideais e ilusões infantis, despreocupado e até apaixonado, por mais improvável que isso possa parecer nesse ponto da história. Mas a história de Roland não é só dele... É também a de seus dois amigos de infância: Cuthbert e Alain, a de Susan Delgado, a encantadora "mocinha na janela" pela qual um pistoleiro de quatorze anos se apaixonou perdidamente amor à primeira vista, o dos Caçadores do Grande Caixão e seu temível líder Jonas, o da bruxa Rhea que partiu para sempre o coração desse mesmo jovem pistoleiro e de muitos, muitos, muitos outros personagens...
Nesse volume, Stephen King muda a sua ambição em relação à série: sai de um atmosférico tributo ao pop ocidental e dá adeus ao desejo de refazer um Senhor dos Anéis (como ele mesmo disse), e sedimenta as bases para a sua própria saga, independente e tão segura de si, inclusive nos pontos em que o leitor irá questionar o bom gosto ou não do autor.
Aqui, Stephen King combina seus universos, aceita e abraça sua própria imaginação e a intensifica, combinando em um único mundo todos aqueles que ele criou. E é isso que funciona, o autor assumindo plenamente sua obra e tornando ela mais tangível, mais concreta. Ele não está mais em sua primeira tentativa, ele sente e ousa nos fazer acreditar em uma história de amor, em uma história que explora mais coisas do que deixa transparecer. É uma história sobre nos tornarmos adultos, adquirirmos responsabilidades e nossos primeiros contratempos como adultos. O livro é tanto sobre uma adolescência aprendendo as regras de seu mundo da maneira mais difícil quanto sobre as primeiras emoções que nos forjam.
Queria sobretudo me debruçar sobre o que, a meu ver, este livro representa: um ponto de virada na já bem abastecida bibliografia de um escritor, o momento em que passa para uma aceitação plena e completa das suas qualidades e da sua imaginação. A ponto de torná-lo um ponto central no restante de sua obra. Se digo isso, é porque sinto em alguns dos seus trabalhos posteriores uma certa propensão para o pessoal, para o tocante. Ele já havia abordado temas mais sombrios, mas aqui também aborda o fracasso, o luto, a dor, e isso em um romance central de sua série, no centro e ao mesmo tempo fora. Ao possibilitar uma pausa na história antes de seu desenvolvimento, Stephen King também oferece um olhar mais profundo e pessoal sobre seu trabalho. Ele cresce, amadurece como autor e nos oferece um olhar carregado de emoção, mas também mais forte e valente no modo como se comportam seus personagens.
Quando o passado é revelado, você pode encarar de frente o seu futuro, sem nenhum véu sobre seu rosto.
É por isso que eu amo este livro. É um livro que nos ensina a crescer, a amadurecer, e que também nos fala de um autor que também cresceu e amadureceu. Um autor que continua a me agradar, passados todos estes anos, precisamente porque soube evoluir.