Gisele @abducaoliteraria 13/02/2018"Simplesmente não sinta nada. Se quer viver, não pode sentir".Mulheres Sem Nome é o romance de estreia de Martha Hall Kelly. É um livro de ficção histórica sobre o holocausto, lançado no final do ano passado pela editora Intrínseca.
Confesso que não estou acostumada a me apossar de histórias sobre A Segunda Guerra Mundial, porque elas me atingem de forma profunda e me puxam para baixo. Porém, ao ler Mulheres Sem Nome, admito que essas histórias são extremamente importantes, assim como os sentimentos que elas estimulam. São histórias que precisam ser contadas e ouvidas.
Mulheres Sem Nome conta a história de mulheres completamente diferentes, de nacionalidade, idade e personalidades distintas uma das outras, que acabam tendo seus caminhos entrelaçados em algum momento da vida.
A história dispõe de três pontos de vistas diferentes. Caroline Farriday é uma ex atriz socialite que vive em Nova York, trabalha como voluntária no Consulado da França e algumas outras causas nobres voltadas à crianças órfãs.
Kasia Kuzmerick é uma jovem de 17 anos que mora na Polônia e vê sua vida e das pessoas que ela mais ama se transformar com a invasão dos nazistas no seu país. Para se opor ao regime tirano ao qual são forçados a viver, Kasia entra para resistência, mas acaba sendo presa e levada para um campo de concentração.
"Nenhuma de nós sabia como estávamos erradas naquela manhã quando saímos do trem e mergulhamos no inferno".
Enquanto isso, também temos a presença de Herta Oberheuser, uma médica alemã audaciosa que almeja um trabalho para exercer sua função de formação, e acaba tendo a oportunidade de trabalhar como a única médica mulher em um campo de concentração.
O ponto central da história gira em torno de Ravensbrück, um campo de concentração - ou de reeducação, como era intitulado - só para mulheres. Nós presenciamos as atrocidades de um ambiente conturbado, onde milhares de mulheres vivem situações de tortuosidade e má condições de vida. E a tortura atinge o seu ápice quando essas mulheres são submetidas a experiências medicinais.
"Não gaste sua energia com ódio ou isso vai acabar matando você. Concentre–se em se manter forte. Você é inteligente. Descubra uma maneira de ser mais esperta do que elas".
Embora Kasia seja a personagem mais jovem, seus capítulos foram os mais difíceis de encarar. Ela vivenciou a crueldade de Ravensbrück, viu pessoas próximas, família e amigos sucumbir ou desaparecer. Sentiu na pele as experiências medicinais absurdas que eram aplicadas às mulheres jovens e saudáveis - que mais tarde ficaram conhecidas como as Coelhas de Ravensbrück. E com ela também foram os capítulos mais surpreendentes e tocantes. Acompanhamos a evolução de uma garota jovem, de personalidade forte e que não desiste de lutar.
Com Herta, temos a perspectiva de quem está do outro lado da guerra. Seus pontos de vistas foram quase intragáveis, mas ao mesmo tempo essenciais, que acabou fazendo a grande diferença do livro. Assistimos a mentalidade e as motivações da médica responsável por exercer seus experimentos medicinais bizarros e cruéis às mulheres de Ravensbrück.
Apesar de achar os capítulos de Caroline na maior parte do tempo um pouco deslocado dos demais, as partes narradas por ela serviam como descontração, um momento de alívio entre os capítulos mais angustiantes e difíceis. Fora o fato de você se encantar com o empenho e o grande coração da personagem.
O que achei mais interessante é que a história não para com o fim da guerra, ela avança e vai muito mais além, mostrando as consequências e as sequelas de um período excruciante.
"Eu havia sobrevivido a Ravensbrück. Como a vida cotidiana poderia ser mais difícil do que aquilo?"
A narrativa de Martha é crua, sem floreios, o que faz com que você acompanhe a história angustiada diante das atrocidades, com aquele nó na garganta. Algo que achei impressionante na sua escrita, foi a capacidade de apresentar personagens tão diferentes uma da outra e dar voz à cada uma de uma maneira ímpar.
Por mais que você pesquise, leia e procure sobre o assunto, sempre há mais para se surpreender. Eu não tinha conhecimento sobre Ravensbrück e fiquei chocada e triste por descobrir as crueldades e as condições que eram impostas às mulheres que viviam ali.
Mulheres Sem Nome apresenta uma história forte, comovente e poderosa, mas sobretudo, ela também é sobre esperança. Em meio à tantas maldades e dificuldades, existiam também muitas pessoas boas, com espírito e coragem para combater tudo isso.
No final do livro temos a nota da autora, na qual ela cita os principais pontos de partida para a criação de sua história e as referências tiradas da realidade. Grande parte da história e dos personagens foram inspirados em fatos reais. Martha decidiu contar a história de mulheres sem nome, verdadeiras heroínas desconhecidas.
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