Sofia 27/04/2024
No ano de 1978, fazendo uma pesquisa sobre problemas na adolescência, dois jornalistas entrevistam a jovem alemã de 15 anos, Christiane. A garota os envolve com sua história de como entrou no mundo das drogas, diante de uma recente realidade de vulnerabilidade social recorrente entre os jovens da época. Os relatos coletados geram tal livro e, posteriormente, um filme, na década de 1980.
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"O testemunho de Christiane é mais eficaz do que o silêncio dos reputados institutos de pesquisa." A última frase do livro diz tudo. Os relatos apresentados pela jovem, pela mãe e por outros envolvidos são muito detalhados, específicos e fortes. As falas da mãe indicam claramente um sentimento de culpa diante do que aconteceu com a filha. Já as declarações da própria Christiane me pareceram de uma vítima, presa numa situação cada vez mais complexa, de autossabotagem, querendo sair do ciclo vicioso, mas sempre encontrando uma forma de se enganar. As intermediações de autoridades ou profissionais que trabalhavam com essa questão acrescentam bastante na elaboração do livro, levantando debates ao falar sobre o contexto social da época de novas drogas no mercado, de reflexos da geração passada na formação dos jovens e de consequências já visíveis naquela época.
Mas, para mim, como estudante de arquitetura e urbanismo, o que realmente me atraiu a ler o livro foi o fato da história ter início no conjunto Gropius, em Berlim. E gostei muito do espaço que o escrito dá à forma de morar — que é maior do que eu esperava. Não é apenas um cenário, o local onde se passa a história. É mais do que isso. É parte do problema, um dos agravantes desse problema social da segunda metade do século XX — a grandiosidade da arquitetura moderna, a frieza e o concreto são frequentemente abordados nos relatos.