Coruja 24/05/2018Nesse segundo volume, o núcleo familiar de Ada se expande para incorporar Maggie, que poderia ser o clichê de pobre menina rica hostilizando a protagonista. Clichês óbvios, contudo, não são o foco da autora, e Maggie se torna uma boa amiga de Ada, partilhando o amor da menina pelos cavalos, tendo ainda seu próprio arco de crescimento, especialmente nos confrontos com Lady Thornton. Segue-se ainda a entrada de Ruth, judia, alemã - rejeitada por seu país por ser judia, e rejeitada pelos ingleses que a recebem, por ser alemã - e uma matemática brilhante, que se torna aluna de Susan e uma irmã mais velha para Ada. E, claro, há a própria Lady Thornton, que poderia facilmente ocupar o lugar de vilã deixado pela Mãe, mas se revela uma personagem muito mais complexa do que se poderia esperar de sua primeira aparição.
A história de crescimento e solidariedade de todas essas personagens se encaixa muito bem no contexto histórico da Segunda Guerra Mundial. Bradley fez um ótimo trabalho de pesquisa histórica. Os bombardeios, os evacuados, o racionamento; mulheres substituindo a mão-de-obra masculina nas fábricas, as referências a espiões, à importância da RAF, as vigias de incêndios (lembrei demais do conto de Connie Willis) e aos decodificadores da máquina Enigma.
A Guerra que Salvou a Minha Vida é um livro agridoce, que começa e termina com famílias fraturadas, com perdas e sacrifícios. É uma história sobre persistência - ou, melhor seria dizer, teimosia -, trauma, sobrevivência, superação. Ele é notável por si só. Mas, quando lemos A Guerra que me Ensinou a Viver, é transparente o motivo de haver uma continuação. Porque a grande lição de Ada - e nossa também, como leitores - é que não basta sobreviver.
Ada precisa entender que, embora finais perfeitamente felizes não existam; e que algumas cicatrizes e traumas nunca são completamente curados, é possível, sim, se abrir para os outros. É possível voltar a acreditar - acreditar que se é amada, acreditar que é capaz de fazer tudo aquilo que deseja fazer e aprender, acreditar que se pode ser feliz e que há um futuro pelo qual esperar. E assim é que o final, quando Ada conclui que “é possível saber um monte de coisas e um dia, enfim, acreditar em todas elas” é tão perfeito: essa agora é a história de alguém que aprendeu a viver e a ter esperança. A guerra acabou e agora podemos reconstruir.
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