Renata 16/10/2022
PEDRA BONITA
José Lins do Rego
Editora Global
Pedra Bonita é o primeiro livro do ciclo Cangaço, que tem sua continuidade com Cangaceiros. Após o ciclo CCana-de-açúcar, José Lins continua presenteando o leitor com seu talento.
Dividido em duas partes, o romance é ambientado no sertão pernambucano e conta a história de Antônio Bento, que mora com o Pe. Amâncio desde pequeno, quando foi deixado pela família para ter uma sorte diferente. Ele cresce na vila de Açu, como coroinha e protegido do vigário, seu padrinho, mas o passado de sua família nunca fez a comunidade esquecer que naquelas veias corre sangue de cangaceiros.
A primeira parte mostra um jovem encantado com a vida que leva na igreja, que alimenta seus sonhos, porém estranha o desprezo de alguns habitantes devido à sua origem. Bentinho nunca soube exatamente o que carrega de tão pesado e cruel a cidade de Pedra Bonita que faz as pessoas amaldiçoarem seu povo.
Na segunda parte, circunstâncias fazem com que ele precise passar um tempo com sua família em sua terra natal, onde se depara com um mundo até então desconhecido, numa região inóspita, cuja população se alimenta de crendices populares e se apoia em figuras místicas ao mesmo tempo em que vive o pesadelo da presença marcante dos cangaceiros, proteção para alguns, terror para outros. Bento descobre, ao lado de seu irmão Domício, o segredo enterrado de seus antepassados, o fardo que os Vieiras carregam, além do peso de ter seu irmão Aparício como chefe no cangaço.
Como toda obra de José Lins do Rego, Pedra Bonita aborda a cultura nordestina, explorando neste enredo a seca, o cangaço, a religiosidade, o coronelismo, a miséria. E como não poderia ser diferente, traz sua riqueza de descrições, na linguagem carregada de poesia, aliada ao fluxo de pensamento do personagem, em toda a sua essência, revelando um movimento da relação do homem com seu lugar de origem e o dilema que baila na mente de Bento: reconciliar-se com o passado ou romper definitivamente com ele?
Isso é o que me encanta profundamente em suas obras, o poder de dialogar com a memória de um povo e explorar a psiquê do protagonista em todas as suas dimensões, como faz Dostoiévski, Machado de Assis e Kafka, só que de um modo muitos mais simples e fluido.
Como toda obra de Zé Lins, é imperdível, espetacular!
Recomendo!