arlete.augusto.1 03/06/2023ChocanteA história é quase inverossímil, uma menina criada numa família mórmon, mas fanática ao extremo, onde a loucura, o caos, a violência imperam como sendo normais, pois são os ?escolhidos?, negando o sistema, sem nunca ter ido à escola, ao hospital, sem nem ao menos uma certidão de nascimento, consegue chegar à faculdade, BYU, que mesmo sendo mórmon é muito diferente da doutrinação que recebeu dos pais. Com um brio inacreditável, ela consegue superar a própria ignorância a respeito do mundo e vai vencendo as dificuldades, sem nunca se desligar da família. A cada verão passado em casa, é um retrocesso, as crenças profundamente arraigadas. Numa aula de psicologia, já no segundo ou terceiro ano de faculdade, ela percebe a doença mental do pai, depressivo e bipolar. Nas férias, comenta isso com a mãe, que faz remédios de ervas, num arremedo de homeopatia, que concorda com ela, mas que nunca irá se impor ao marido, como se a loucura fosse contagiosa. Seu irmão, Shawn, é de uma violência cruel, há prazer nos castigos que impõe à Tara, que se submete vezes sem conta, enquanto a mãe faz de conta que não vê e o pai minimiza e valida essa violência, sem nunca procurarem ajuda, deixando essa violência se estender à família que Shawn formará. Lemos incrédulos esperando uma reação diferente de Tara, frente à violência do irmão Shawn, e as imposições do pai, que nunca vem. Só após um mestrado em Cambridge, passando por Harvard, e iniciando um doutorado em Cambridge, a 8 mil quilômetros de distância, ela perceberá que a opção entre a família e uma vida mais normal é inevitável, que ela tem que fazer uma escolha ou nunca conseguirá ser uma pessoa inteira.
É chocante perceber que nesses rincões dos EUA existem pessoas que vivem e acreditam nessas coisas, que há uma verdadeira paranoia coletiva, onde a fantasia se sobrepõe à realidade.
Tara nasceu em 1986, fará 37 anos este ano, sua história é atual, não é do século XVIII ou XIX. Dou meus parabéns a ela por conquistas tão expressivas, mas acredito que ninguém consegue superar a educação que ela teve, sempre será uma pessoa partida, que não pertencerá a lugar algum.
Acabei a história com uma profunda melancolia.