Day 25/01/2022
Um dos melhores da minha vida.
Sempre tenho um pouco de medo de falar sobre os livros que realmente me tocaram. São poucos, talvez três ou quatro em toda a minha vida (não que eu tenha lido muito), mas acontece que é sempre o mesmo medo de não fazer jus às milhares de coisas que a história significou, me ensinou e me fez sentir enquanto lia.
A Menina da Montanha é uma autobiografia, a minha primeira, e isso é importante porque jamais tinha lido um livro consciente de que todas as coisas absurdas que acontecem nele aconteceram de fato. Quando penso nisso, me lembro de um momento em que Tara, já na faculdade, fica chocada ao descobrir que um acontecimento histórico ocorreu na mesma época em que sua mãe estava viva, porque percebe que aquilo à aproxima da história de uma forma que vai além da relação estudante×matéria.
Da mesma forma, também fico chocada ao pensar que muito do que aconteceu com Tara aconteceu enquanto eu já tinha nascido e já caminhava pelo mundo.
Tendo crescido em meio a uma família cujas algumas das principais crenças eram a de que o governo usava as escolas para fazer lavagem cerebral e o Sistema Médico era perigoso, Tara Westover passou a metade da vida privada de educação e teve de enfrentar diversas situações em que a medicina profissional deveria ser a primeira opção e não foi. Isso, somado aos abusos físicos e psicológicos, à exploração e à negligência de membros importantes de sua família, tornaram para Tara o processo de encontrar a si mesma e seguir seus objetivos um caminho de luta, que deixou traumas com os quais ela teve de lidar na outra metade de sua vida. Hoje, uma doutora formada pela Universidade de Cambridge, que estudou também em Harvard e escreveu um livro que alcançou o topo do New York Times, Tara Westover, embora afastada dos pais e de alguns dos irmãos, diz estar em paz consigo mesma e suas escolhas, o que, depois dessa leitura difícil, me deixa encantada e inspirada por sua força.
Demorou um pouco após o início da leitura para que eu percebesse como ficaria encantada, mas tendo visto o quanto seria bom, não quis mais parar.
Eu e a autora temos, com certeza, histórias completamente diferentes, mas foram mais que um fascínio pelas coisas que ela viveu ou pela sua superação que me permitiram ser amarrada a esse livro como fui a pouquíssimos outros. É nesse momento que eu sei não explicar exatamente o motivo de ter amado e tenho medo de não fazer jus ao que sinto, mas, se tivesse que chutar, diria que o que me une a Tara, o que me fez querer chorar em alguns momentos, o que me fez marcar diversos trechos, o que me fez sentir mal em muitos outros, é alguma coisa mais universal, alguma coisa que não fala só sobre Tara ou sobre mim, mas sobre outras tantas pessoas que leram esse livro e ficaram sem palavras ao terminá-lo. Alguma coisa sobre andar pelo mundo e descobrir a si mesmo à medida que o desbrava, alguma coisa sobre identidade, sobre dever, sobre o desejo e o medo de desejar. É como se, por mais que sua história seja tão singular, assim como é a de todos os seres humanos, Tara também contasse uma história comum a muita gente, o que permitiu que eu me identificasse com ela e, assim, não pudesse esquecê-la.
É o que A Menina da Montanha se tornou para mim: inesquecível. Por isso, se tiver lido até aqui, espero que não descarte a possibilidade de fazer essa leitura também, porque pode se identificar também, porque pode amar também.