Edson Silva 24/12/2022
Em “Beren e Lúthien” Christopher Tolkien apesenta várias versões de uma das principais histórias escrita por seu pai sobre a Primeira Era de Arda. Ao escrever “O Senhor dos Anéis”, J.R.R. Tolkien já possuía, como pano de fundo, um vasto conjunto de histórias que compunham a mitologia do universo onde Frodo cumpriria sua jornada. Uma dessas histórias é a de Beren e Lúthien que, em sua forma mais atualizada, narra a história de um Homem que se apaixona por uma Elfa depois de a encontrar na floresta. A mesma cena se repete, milhares de anos mais tarde, com Aragorn em seu encontro com Arwen. Nesse momento, o herdeiro de Elendil cantava a Balada de Leithian, uma versão em versos da mesma história de Beren e Lúthien, que curiosamente, são seus antepassados, assim como de Arwen, desta pela linhagem éfica de Elrond e daquele pela linhagem de Elros, que escolheu a vida mortal dos Homens e foi o primeiro rei de Númenor.
Além da Balada de Leithian, já mencionada, o livro traz versões de O Livro dos Contos Perdidos, O Esboço de Mitologia, O Quenta Noldorinwa e o Quenta Silmarillion. Christopher Tolkien apresenta essas versões e comenta brevemente as alterações entre elas. Vale destacar a alteração que vemos em um dos vilões da história, na primeira versão temos Tevildo, o prícipe dos gatos, que posteriormente dá lugar a Thû, mestre dos lobisomens, que, por sua vez, antecipa Sauron, o futuro Senhor dos Anéis. É com a mudança de Tevildo para Thû que também temos a adição de Felagund (conhecido posteriormente como Finrod), é o confronto entre eles que serviu de base para a motivação da personagem Galadriel na série da Amazon.
Existem, obviamente, várias outras alterações que não cabe mencionar aqui, mas não é apenas por elas que o livro é interessante. Como em “O Silmarillion” Christopher apresenta apenas uma versão (que é escrita de modo um tanto resumido), é só em “Beren e Lúthien” que conhecemos vários elementos que fizeram parte dessa história, mas que não apareceram em outras publicações (no Brasil). Ter esse livro em mãos é ter, de uma maneira mais completa, uma das principais histórias concebidas por Tolkien. Por fim, preciso acrescentar, não fiquei convencido de que não valeria a pena tentar “costurar” todas essas versões em uma única e mais completa /atualizada possível, tal como Christopher fez em “Os Filhos de Húrin”, seria interessante pensar em uma versão mais completa possível do Silmarillion, mas talvez isso seja trabalho para alguma adaptação futura.