Gilberto Alves 19/02/2021
Anna Kariênina ou Konstantin Liévin?
Talvez este livro não merecesse 5 estrelas. Há momentos que realmente cansam, maçantes, capítulos desnecessários, há personagens inacabados, há personagens em excesso, mas sinceramente, eu não me importo. Nomes, sobrenomes, apelidos, apelidos dos sobrenomes (e tudo isso em russo ainda!), é claro que não ajuda.
Mas, dei 5 estrelas, e tentarei explicar o porquê.
Anna Karenina é uma grande novela, tipo aquelas que passam na TV mesmo. Têm intrigas, paixões, traições, reviravoltas, nobres e plebeus, pensadores e idiotas, enfim, todos os elementos da vida como ela é, não?
Nesta grande novela somos transportados para a Rússia do século 19, onde literalmente vivemos a vida de uma dúzia de personagens, que de alguma forma têm a vida entrelaçada entre si.
Este é um livro com duas facetas. Dois lados. Duas histórias. Enquanto temos em Anna a representação do amor, dos dramas do coração, da feminilidade, dos nuances que só uma alma feminina consegue exprimir; temos do outro lado Konstantin Liévin (Liévin para os intimos), nosso querido personagem cabeça dura que nos conduz a críticas a sociedade da época, dramas internos de uma mente inquieta, questionamentos sobre fé, deus, amor, etc..
Apesar de dar nome ao livro, Anna Kariênina não é a única nem a principal personagem. Na verdade, acho que pôr o nome desta senhorita na capa, não passou apenas de uma jogada de marketing.
Há quem diga que Liévin é a própria representação de Tolstóy em vários momentos de sua vida. Para mim, Liévin é de longe o principal personagem deste livro (e na minha opinião, o melhor).
Dei 5 estrelas para este livro, pois de certa forma me abriu os olhos a um receio que eu tinha, (ou quem sabe até preconceito mesmo) que ler esses russos de séculos passados é algo enfadonho, difícil, chato, ou algo ultrapassado. E é claro que não é nada disso. Também fiquei impressionado com a profundidade dos personagens. O jeito que Tolstoy nos transporta para o interior da mente destes personagens é algo que me deixou embasbacado.
Se você ler com carinho; sem pressa; degustando de fato este livro; vai perceber que a construção dos personagens é real a ponto de ter momentos que parece que eu conseguiria toca-los. Parece que conheço Liévin de verdade, tanto que gostaria muito mesmo de um dia encontra-lo para entabular alguma discussão sobre todos aqueles questionamentos dele sobre a alma, a sociedade, os mujiques, a fé, o amor, a necessidade das escolas, dos hospitais, do orgulho dele, enfim, da vida em si.
Espero um dia poder ler tudo que eu quero ler, para então voltar e reler essa obra grandiosa. Já parto com saudades e vontade de visitar novamente Moscou, Petersburgo, ir até a casa de Liévin para falar da colheita, visitar a encantadora Anna para um chá, encontrar Stepan e dar-lhe uns tapas na cara e ensinar-lhe como se trata uma esposa, ou então até quem sabe compartilhar as amarguras de Alexei Alexandrovich.
Para mim, foi um livro incrível, apesar de Anna beirar a loucura, chegando a ser irritante em alguns casos. Liévin por vezes é mais teimoso que uma mula. Vronsky não passa de um playboy meio sem sal na maioria das vezes. Mas é isso tudo que tornou a experiência que esse livro deu, muito mais completa e real para mim.
Muito bom! Recomendo muito!