spoiler visualizarAna Paula 20/06/2021
Anna Karenina
ANNA KARENINA
Liev Tolstói - 1877
Mesmo que você não saiba nada sobre literatura, sobre literatura russa, sobre Tolstoi ou não goste muito de livros, você já ouviu falar de Anna Karenina. Você pode não saber nada sobre a história do livro em si, ou sobre o que vai ser abordado, mas sabe que a história existe - se não pelo livro, pelos diversos filmes que foram feitos adaptando a obra.
Eu comecei a ler esse clássico sabendo de duas coisas: se passava na Rússia do século XIX e envolvia uma história de traição, de um amor proibido. Para um livro de quase 900 páginas, você pode argumentar me dizendo que não era muita coisa. Eu concordo.
Logo no prefácio, escrito pelo próprio tradutor Oleg Almeida, há menção de que em algum top romances de todos os tempos do Time, Anna Karenina alcançou o primeiro lugar (e Tolstói tem nada menos que DOIS livros nesse top, uau). Minha expectativa subiu um pouco.
Quando abri o primeiro capítulo e me deparei com a frase de abertura, já estava completamente rendida. "Todas as famílias felizes se parecem; cada família infeliz é infeliz à sua maneira". Eu não posso negar, fiquei completamente envolvida.
Pena que não durou muita coisa.
O livro é extremamente bem escrito. Todas as narrações e ambientações e acontecimentos e panos de fundo são desenvolvidos de maneira exemplar. Tolstói é um grande escritor e isso ninguém pode negar.
Mas eu senti que alguns personagens foram ignorados; o desenrolar de alguns acontecimentos é supérfluo enquanto, ao mesmo tempo, no mínimo 100 páginas desse livro narra as caçadas de um personagem; a conclusão do livro não me conquistou.
E quem é você pra criticar Tolstói? Não sou ninguém, vou criticar e dar minha opinião mesmo assim, mas ninguém é obrigado a ler ou concordar comigo. Se quiser discutir, estou aberta.
A partir daqui tem spoilers, tudo bem? Vamos lá:
1. Pra que tanta caçada?
Eu não estava brincando quando disse que mais de cem páginas do livro foram escritas descrevendo caçadas dos personagens. Liévnin é um que foi pra mais caçada do que tudo nesse livro.
E eu entendo que era um passatempo comum na época, que iam regularmente. Mas pra que narrar isso tantas vezes sendo que não tem nenhum impacto direto na história? Se ainda, não sei, servisse para aprofundar um personagem, para conduzir a algum lugar… Mas não: são literalmente páginas e mais páginas dos homens nos pântanos caçando com seus cachorros.
E isso me leva a outro ponto:
2. Precisava mesmo de quase 900 páginas?
Em minha opinião, não. De forma alguma.
Senti que em diversos momentos era pura enrolação. Além das caçadas que já citei, teve uma parte, por exemplo, que Liévnin vai participar de uma reunião política. Incrível que Tolstói queira abordar esses pontos em sua obra, que quer levantar discussão sobre como é o funcionamento da política na Rússia nessa época. Porém, é mais um daqueles casos: precisava de mais de 50 páginas sobre isso?
3. Alguns personagens foram ignorados
Para alguém que passou tanto tempo narrando caçadas, certamente Tolstói tinha tempo para desenvolver melhor alguns personagens.
Varenka, a amiga de Kitty, por exemplo. Quando estavam na Itália, foi citado um passado com um homem que não deu muito certo, algo que ficou meio subentendido. Então, quando ela veio para a Rússia, minha cabeça estava a mil: o tal homem vai ser algum desses que a gente já conhece, vai ser uma nova linha da história.
Bem, não. Ela aparece, tem o quase-casamento-que-não-acontece e depois SOME. Simples assim. Um background de personagem que foi adicionado por motivo nenhum, uma personagem que foi inserida mas que não acrescentou nada no fim. Um desperdício.
4. Que final foi esse?
A parte VII do livro é absolutamente impecável. IM-PE-CÁ-VEL. O fluxo de pensamentos, a construção do enlouquecimento de Anna, o fechamento com o trem (que já vinha sendo "premeditado" desde que Anna e Vrônski se conheceram na estação de trem e com os sonhos recorrentes...): sem defeitos.
Quando acabei essa parte, continuei a ler imediatamente a próxima parte. Quer dizer, ainda tinham mais 50 páginas depois da morte de Anna, então pensei que seria para, além de dar fechamento para as histórias dos outros personagens, também para mostrar as consequências desse ato nos outros.
Pois bem, não foi.
Mais da metade dessas 50 páginas é Liévnin refletindo consigo mesmo sobre religião e o sentido da vida (e da morte). Outras boas dez páginas abordam a guerra entre os eslavos e os turcos.
Estava esperando uma construção em fluxo de pensamento de Vrônski tão incrível quanto havia sido a de Anna. Não recebi. Ele foi pra guerra, fim.
Karenin então que foi só citado em um parágrafo, junto com o filho e a filha de Anna?
Não consigo pensar em motivos o suficiente para Tolstói ter feito isso.
Esperava tanto, infelizmente não consegui receber isso.
É um bom livro? Claramente sim. Muito bem escrito. Um clássico. Mas ainda não consegui enxergar porque é considerado "o maior romance de todos os tempos". Talvez seja eu quem não conseguiu perceber a magnitude da obra. Pretendo reler em alguns anos para ver se realmente foi comigo o problema.