Isabel 09/04/2024
Mona Awad com todo respeito, vc é maluca?
Há duas semanas terminei de ler Bunny e ainda não sei se consigo definir este livro ou descrever tudo que senti durante a leitura, mas vou tentar... Foi uma experiência incrível, perturbadora, divertida, chocante e imersiva. A escrita é tão gostosa de ler, eu simplesmente não queria parar!
"O que aconteceu comigo, sabe? Eu vivia escrevendo. E agora..."
A Samantha é uma protagonista muito crítica em relação aos outros e a si mesma, ao mesmo tempo que parecia odiar as Bunnies, ela só queria ser como elas. Samantha é pobre, solitária, insegura, está passando por um momento de bloqueio criativo e não consegue escrever nada há muito tempo. As Bunnies são o completo oposto, e quanto mais as meninas se destacam, mais a Samantha sente aversão por elas. O único ponto seguro da sua vida é sua amizade com Ava, que é a primeira coisa que fica ameaçada quando ela se aproxima das Bunnies e passa a frequentar suas reuniões secretas.
"Eu sucumbo a elas. Permito que essa necessidade doentia, a qual repulsa nenhuma consegue matar, seja resgatada da escuridão fria e úmida e então acariciada. E eu me derreto em seu abraço, me deixando, ou melhor, desejando ser esmagada. Até me tornar parte da bolha."
Em vários momentos, principalmente quando relembra de conversas com sua mãe, Samantha demonstra preferir a ficção do que a realidade. Conforme a leitura vai avançando eu senti que a Samantha vai se perdendo entre esses dois mundos até que tudo vira uma coisa só. Acho que a intenção da autora era fazer o leitor se perder junto com a personagem, porque foi o que aconteceu comigo kkkk
O livro vai avançando e tudo se torna um grande sonho febril, quando você pensa que está compreendendo tudo e suas teorias fazendo sentido, os acontecimentos seguintes mudam o rumo da história e você volta a estaca zero. Talvez esse livro não seja pra ser totalmente compreendido, mas eu queria muito compreender!
A atmosfera do livro tem características do terror, com coisas sobrenaturais acontecendo sem muita explicação de como ou porque. Acho interessantíssima diferença entre a forma que a Samantha e as Bunnies viam e tratavam suas criações. Além do fato de quando a Sam tenta "criar" do mesmo jeito das Bunnies, ela não consegue.
"Nós vemos isso como arte ganhando vida, Bunny. Estamos criando obras de arte"
A vontade da Sam de atender as expectativas do Leão é algo que também é bem marcante. Samantha sempre teve o imaginário como um lugar seguro, escrever era algo que fluía naturalmente desde a infância, até se deparar com a pressão do ambiente acadêmico, e a necessidade que sentia em ser reconhecida.
Enfim, esse livro me fez pensar que, as vezes você pode ser extremamente talentosa em algo, mas muitas vezes deixa interferências externas atrapalhar o processo. O medo de errar, criar algo ruim, fora do padrão exigido, e medir seu desempenho pela régua de outra pessoa só te torna uma pessoa cada vez mais insegura e insatisfeita consigo. As vezes os monstros que nos assombram só existem na nossa cabeça, em algum momento a gente acorda do pesadelo e encara a vida real.
"O mundo real está lá fora, mocinha. Sabia disso? E cedo ou tarde você vai ter que encará-lo."
Acho que Bunny entrega uma grande metáfora para o processo criativo de alguém desesperado por validação acadêmica. Ou sendo mais simples: a cruel e enlouquecedora experiência de fazer um trabalho em grupo na faculdade com pessoas que você odeia.
Tentei escrever sem spoilers porque é muito bom descobrir a história enquanto se lê. Essa provavelmente é uma análise muito rasa pra quantidade de camadas que tem nesse livro, e pra todas as citações e comentários que gostaria de fazer, mas essa resenha já tá grande demais... Esse é um daqueles livros que fica ainda melhor cada vez que você relê ou conversa com alguém sobre ele. É um livro muito ousado, não foi feito pra agradar todo mundo, mas recomendo a leitura!