bi-a 04/04/2023
Gostei mais do filme, mas o livro tem seu charme
O livro "Carol" acompanha o romance de Therese, uma atendente que trabalha na seção de brinquedos de uma loja de departamentos que almeja ser cenógrafa, e Carol, uma mulher da alta sociedade, que se conhecem quando Carol vai à essa loja comprar uma boneca para sua filha.
Eu decidi ler o livro depois de ter assistido ao filme que é um dos favoritos da minha vida. Então, fui buscando na obra a mesma experiência que o filme me proporcionou. Já adianto que ambos possuem mais diferenças do que similaridades, e eu sinto que, na maior parte, o filme conseguiu condensar melhor o conteúdo.
De fato, existem pontos no livro que desenvolvem melhor personagens como Therese e Richard, por exemplo, mas o que me incomodou até certo ponto da obra foi o fato de que, até o capítulo 15, sabemos tudo somente através do ponto de vista da Therese. Toda a relação entre ela e Carol, e até mesmo a personalidade de Carol, é vista pela ótica da Therese. Devido a isso, eu não me senti tão envolvida na história como fiquei no filme logo de início que mostra sempre o ponto de vista de ambas e adiciona mais camadas a essa personagem tão misteriosa, elegante e feroz que é Carol Aird. Por outro lado, a autora do livro deixa a história mais palpável e real por fazer com que todos os eventos da narrativa custem a ocorrer, explicando muitas coisas que no filme ficam sem explicação.
Um dos pontos que eu senti que o filme foi feliz na alteração que se propôs a fazer foi a mudança na profissão que Therese sonha em ser. No filme, ela sonha em ser fotógrafa. Com isso, os roteiristas do filme colocaram muitos diálogos relacionando a prática de fotografar e as relações humanas cotidianas. No livro, a cenografia não parece ter tanto espaço no coração de Therese. Aliás, gostei mais da personagem Therese - especificamente - na forma como foi construída no livro do que a personagem frágil e perdida que nos é apresentada no filme.
A partir do capítulo 16, a autora deu uma virada na forma como a história vai ser conduzida, o que me fez devorar umas 90 páginas num final de semana. Nesse ponto, passamos a ver muita coisa do ponto de vista de Carol, e a relação das duas começa a conversar melhor com quem está lendo. Começa a envolver mais o leitor, sendo quase impossível não querer ler tudo logo para saber como esse romance vai terminar.
Eu lembro que a primeira vez que assisti ao filme, comentei com um amigo meu que "Carol" era o filme mais vibe Lana Del Rey que eu tinha assistido kk. Patricia Highsmith te coloca numa aura de melancolia, uísques e cigarros que eu quase consigo escutar um jazz tocando ao fundo enquanto lia a história.
Nesta edição da LPM (acredito eu que foi a única editora que publicou esse livro no Brasil) tem um pós-escrito de Patrícia contando sobre como ela teve ideia para criar essa história até como foi a recepção desta pelo público.
Recomendo demais a leitura. Carol não é um romance fofo água com açúcar, ele tem tantas questões e camadas que eu só consigo pensar na coragem da autora de tê-lo escrito numa época ainda mais preconceituosa do que a que vivemos atualmente.