Nah 16/05/2024
Surreal, pesado, emocionante e necessário
Mukta nasceu em Ganipur, uma aldeia na Índia onde é preservado o ritual das devadasi, prática onde as garotas virgens são consagradas à deusa Yellama. Aos 10 anos, ela é forçada a seguir essa crença, que a torna uma prostituta do templo.
Sua mãe e avó, e suas ancestrais, tiveram que fazer parte desse ritual, então ela tem pouca ou nenhuma expectativa de escapar da prática que assola as garotas de sua casta.
Até que um homem a salva desse destino e a leva para longe dali, para Bombaim. Lá, ela fica hospedada na casa desse homem e logo cria um forte vínculo com a filha deste, Tara. O laço formado entre as duas é tão forte, que é como se fosse uma relação de irmãs. Depois de tantos percalços, Mukta finalmente se sente segura. Mas uma noite, tudo muda.
Mukta é sequestrada e depois de muita procura Tara e seu pai se mudam para os Estados Unidos para superar a dor da perda. Onze anos se passam até que Tara retorna à Índia para procurar pela amiga, que muito provavelmente caiu nas garras da prostituição mais uma vez.
Todas as Cores do Céu é um livro emocionante, que retrata muito bem como as antigas tradições ainda fazem parte da Índia moderna, mesmo tendo sido formalmente abolidas pelo Estado, como o sistema de castas e o próprio ritual das devadasi.
Narrado pelo ponto de vista das duas amigas, o livro evidencia a pobreza da região de Bombaim (hoje Mumbai) e a realidade das mulheres tragadas pelo tráfico de pessoas.
Não é um livro fácil de se ler. As ações narradas aqui são muito fortes e pesadas, que podem trazer gatilhos ao leitor. Mas são justamente os assuntos que o livro aborda que fazem dele uma leitura super relevante e atual, fazendo com que a obra funcione como uma denúncia da realidade indiana.
Um livro sobre exploração, culpa, família e, claro, amor e como ele nos impele a reparar os nossos erros.