Yamilla.Marazzi 27/05/2024
A obscuridade da alma de Dorian Gray
O autor, logo no prólogo do livro, nos traz a mensagem de que a arte é apenas arte e portanto não deve ser levada para outras esferas da vida com o intuito de trazer ensinamentos e moralidade, porém é praticamente impossível ler O Retrato de Dorian Gray sem fazer esse tipo de reflexão e comparação.
O livro é curto, a escrita é corrida, com diversos diálogos, poucas descrições e digressões, e bem filosófica, mas no geral fácil e leve. A história é o espelho da hiprocrisia, egoísmo e absurdos mais terríveis, desde manipulação, crueldade e narcisismo até o mais repugnante dos atos, o assassinato.
O personagem principal é repulsivo durante todo o livro. Ele é o retrato das obscuridades da alma, do desespero, da crueldade sem remorso, do julgamento e da vaidade. Tanto que não foi possível sentir empatia por ele em nenhum momento, assim como por Lorde Henry, outro personagem desprezível, que possuía um jeito livre e sem noção de viver, de forma que influenciou o lado negativo do espirito de Dorian.
É um livro interessante em diversas esferas pois causa incomodo e portanto uma necessidade de entendimento sobre o personagem e a forma de lidar com determinadas situações. A principal delas a me chamar a atenção foi o remorso sem culpa que o personagem sentia, uma vez que ele sempre terceirizava o motivo das coisas acontecerem de tal forma, que nunca envolviam ele, assim como a noção de consciência, portanto dos próprios atos, mas que ele preferia não demonstrar, e sim esconder no quarto mais seguro de sua casa. Por vezes temos noção dos nossos defeitos, mas optamos por não melhora-los.
Esse é de fato um livro que envolve muita moralidade, é sem duvidas atemporal e cabe a qualquer leitor que esteja disposto a sentir incomodo e se aventurar em uma leitura reflexiva e desafiadora.