Orientalismo

Orientalismo Edward W. Said




Resenhas - Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente


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Luiza 17/08/2020

Este livro me abriu novos jeitos de enxergar o mundo e os conteúdo intelectuais, de notícias e de entretenimento que consumo. Apesar de ser uma obra da década de 70, se mantém extremamente relevante nos dias de hoje, principalmente nos discursos políticos. É repleto de ótimas provocações. Achei uma obra muito densa e que exige bastante atenção e interesse do leitor. Não é uma leitura fácil, por ser escrita de uma forma bem acadêmica, e achei repetitiva e cansativa em muitos momentos, motivo pelo qual levei tanto tempo para conseguir completar e, apesar de ter achado um livro muito importante, me atenho a recomendá-lo apenas para quem tenha muito interesse no assunto e esteja disposto à encarar um desafio. [Livro lido entre junho e agosto de 2020]

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Adiante, escrevo os pontos importantes que aprendi com o livro para fins de anotações pessoais, que quero guardar e lembrar, e não mais de uma resenha para outros aproveitarem.

- Geografia imaginativa: ideia de que as fronteiras e as distinções geográficas podem ser estabelecidas de forma, antes de tudo, arbitrária, já que não requer que os bárbaros reconheçam a distinção e, embora fronteiras geográficas acompanhem as sociais, étnicas e culturais, o próprio sentimento de diferença para com o que julga estrangeiro é baseado por ideias pouco rigorosas, que dão cabo a todo tipo de suposição, associação e ficção sobre o que de fato povoa o espaço além da fronteira da própria pessoa que a estabeleceu. A geografia imaginativa ajuda a intensificar o sentido da própria mente e a dramatizar a distância e diferença em relação a o que e quem está longe dela.
- Geografia imaginativa legitima um vocabulário cheio de figuras representativas, ou tropos, cada vez que se fala ou se escreve sobre o Oriente no Ocidente. A dramatização da distinção própria dessa geografia imaginativa coloca o Oriental em posição não apenas de “outro” (tem-se homo arabicus, homo africanus, etc., sendo o “homem normal” o homem europeu do período histórico), mas também de vilão.
- Uma vez que seguia a estrutura dicotômica do “ocidente” e “oriente”, “familiar” e “estranho”, “próximo” e “distante”, especialmente para diferenciar os dois polos, o orientalismo limitava o que poderia ser pensado e falado sobre o Oriente. Por isso há tantas semelhanças na descrição do Oriente feita por diversos intelectuais ao longo dos séculos. A noção do Oriente como objeto de estudo também coloca o europeu em uma posição sempre afastada e de mero observador e que, portanto, deve reiterar as imagens já estabilizadas que o Ocidente tem do Oriente, e nunca as desafiar, para não sair da posição distante e objetiva.
- No seu início, o Oriente é explorado na literatura ocidental através da jornada, da fábula, do estereótipo e do confronto polêmico, que fazem com que o encontro entre leste e oeste seja experimentado por meio do embate ou da descoberta fantástica. Assim, os aspectos orientais que eram familiares eram desprezados pelo ocidente (Islã como versão fraudulenta do Cristianismo e Maomé como imitação de Jesus Cristo – domesticação do exótico), e os aspectos novos eram recebidos com prazer ou temor. Esse Oriente flutuante, que podia causar terror ou excitação ao ocidental, viria a ser restringido pelo orientalismo acadêmico.
- O orientalismo, ao em vez de conhecer o Oriente, os orientais e seu mundo, acaba os criando. É o Orientalismo como poder intelectual exercido em cima do objeto de estudo, no qual a forma dramática e a imagística culta se juntam no “teatro orientalista”. Os textos criam não apenas o conhecimento, mas também a própria realidade que parecem descrever e, com o tempo, esse conhecimento e essa realidade produzem uma tradição. E o Ocidente tratava do Oriente principalmente a partir de uma “atitude textual” até o momento que resolveu colocar as projeções sobre o Oriente em prática, na intenção de governá-lo. A dominação administrativa seria mais uma vez respaldada pelo Orientalismo, quando os orientalistas do final do século XIX passaram a estar ligados uns com os outros também do ponto de vista político. É a passagem do espaço oriental de “estrangeiro” para “colonial”.
- A pretensão de domínio colonial do oriente não justifica o orientalismo, mas sim o contrário. Antes da colonização se dar, há uma hegemonia do pensamento inferiorizante dos povos do oriente, o que culmina nas políticas para dominá-los.
- Discurso orientalista perpassava também por uma visão de que o Oriente moderno havia decaído e perdido uma grandeza clássica do passado, tomando o Ocidental orientalista, também, o papel de agente regenerador do Oriente decrépito em um ato de solidariedade histórica.
- Orientalismo também preocupava-se em firmar classificações para seus objetos de estudo, ou seja, os orientais (seja classificando as línguas orientais, as religiões, ou as características fenotípicas), o que acabou legitimando toda uma gama de estudos de “tipos genéticos” racistas perpetrados pelo ocidente em busca de expansão e dominação no Oriente, bem como o pensamento etnocêntrico. Esta atitude classificativa também gerou a estrutura comparativa sob qual o Oriente era observado, porém o comparativismo utilizado pelos orientalistas era mais avaliativo e expositório do que apenas descritivo. Assim, esse comparativismo tornou-se sinônimo da aparente desigualdade ontológica entre o Ocidente e o Oriente (“A própria designação de uma coisa como oriental envolvia um juízo de valor já emitido”, “Representam uma decisão sobre o Oriente, e não de modo algum, um fato da natureza”).
- Discurso orientalista é fechado em chavões de “Oriente” e “islã”, desprezando as materialidades históricas, políticas e econômicas em voga no momento na região (ideias de direita e esquerda, revoluções e mudanças não eram aplicadas no entendimento dos fenômenos ocorridos no Oriente, tudo era explicado pela figura do “Islã” ou pela sua reatividade ao próprio Ocidente).
- Há também uma tendência orientalista em conceber a humanidade como grandes termos coletivos ou como generalidades abstratas. Até mesmo Marx preferiu utilizar o Oriente coletivo para ilustrar sua teoria. Assim, o orientalismo se ampara bastante na visão do Oriente como vasta coletividade anônima, desconsiderando identidades humanas existenciais (“Nos filmes ou nas fotos de notícias, o árabe é sempre visto em grandes números. Nehuma individualidade, nenhuma característica ou experiência pessoal. A maior parte das imagens apresenta massas enraivecidas ou miseráveis, ou gestos irracionais (logo, desesperadoramente excêntricos” – pg. 291).
- Os pesquisadores orientalistas podiam ir ao Oriente e imitar o oriental, para então observá-lo e descrevê-lo. No entanto, a recíproca não era verdadeira, o Oriental não era capaz de imitar o ocidente, até mesmo pelo fato de que quando um ocidental viajava para o Oriente no século XIX, estava passeando pelos domínios territoriais e políticos de seu próprio país de origem (Inglaterra), ou por onde seu país de origem queria reconquistar o domínio (França). Por essa razão, o testemunho pessoal de viajantes e residentes ocidentais no Oriente podia ser tomado pelo orientalismo para se tornar uma definição impessoal feita por um exército de trabalhadores científicos do que era o Oriente. E, por essa razão também, o europeu só podia experienciar o Oriente sob uma lógica de dominação se quisesse preservar sua identidade europeia, dando origem ao estranho fenômeno do orientalista que despreza o próprio objeto de estudo (P/ entender a sociedade oriental, há de viver como um oriental. Para se manter europeu vivendo como um oriental, há de se agir com objetivos europeus de dominação. Vive como um oriental, mas o faz para conhecer o oriente pela perspectiva europeia: para dominá-lo mesmo sendo europeu).
- Tema da Europa ensinando ao Oriente o sentido da liberdade existe desde o século XIX. Os ocidentais justificavam sua presença e administração no Oriente como forma de impedir que o Islã impusesse seu culto à ignorância, ao despotismo e à escravidão sobre o povo árabe. Essa visão culmina na representação do árabe nos filmes e na televisão como um degenerado, supersexuado, capaz de intrigas astutamente tortuosas, mas essencialmente sádico traiçoeiro e baixo: papéis tradicionais do árabe no cinema são o de traficante de escravos, cameleiro, cambista, trapaceiro pitoresco.
-Sexualidade e exotismo do Oriente ilustrado pelas figuras femininas orientais da literatura europeia, que detinham sexualidade luxuriosa e ilimitada, feminilidade impressionante, mas inexpressiva, eram mais ou menos estúpidas e acima de tudo desejosas. Passa-se a associar, então, o Oriente ao escapismo da fantasia sexual e o “sexo oriental” vira mercadoria comum na cultura de massas.
- O orientalismo, com bases sólidas na pesquisa acadêmica e aplicação política, torna-se um sistema de apoio de um poder estarrecedor aos orientalistas, de modo tal que, escrever sobre o mundo oriental árabe é escrever com a autoridade de uma nação, com a certeza inconteste da verdade absoluta respaldada pela força absoluta.
-A falta de instituições educacionais de estudos árabes dentro do mundo árabe acaba por provocar o fenômeno de estudantes orientais que desejam se juntar aos orientalistas americanos, repetindo os seus chavões e dogmas orientalistas. Esse sistema de reprodução acaba tornando inevitável que o estudioso oriental que vai para o Ocidente acabe por utilizar a formação americana para sentir-se superior ao seu próprio povo, ao passo que ele é capaz de “controlar” o sistema orientalista que cria o próprio Oriente.

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Citações em destaque:

* “O conhecimento do Oriente, posto que gerado da força, em um certo sentido cria o Oriente, o oriental e seu mundo. Na linguagem de Cromer e Balfour, o oriental é apresentado como algo que se julga (com em um tribunal), algo que se estuda e se descreve (como em um currículo), algo que se disciplina (como em uma escola ou prisão), algo que se ilustra (como em um manual zoológico). A questão é que em cada um desses casos o oriental é contido e representado por estruturas dominantes. De onde vêm essas estruturas? [...] O orientalismo, portanto, é um conhecimento do Oriente que põe as coisas orientais na aula, no tribunal, prisão ou manual para ser examinado, estudado, julgado, disciplinado ou governado.” (Páginas 50 e 51)
* “Será que podemos dividir a realidade humana, como ela na verdade parece estar dividida, em culturas, histórias, tradições sociedades e até raças claramente diferentes, e sobreviver humanamente às consequências? Quando falo em sobreviver humanamente às consequências, quero com isso questionar se há algum modo de evitar a hostilidade expressada pela divisão dos homens e, digamos, ‘nós’ (ocidentais) e ‘eles’ (orientais). Pois essas divisões são generalidades cujo uso, histórico e de fato, foi sublinhar a importância da distinção entre alguns homens e alguns outros, normalmente com intenções não muito admiráveis.” (Página 56)
* “O Oriente é assim orientalizado, um processo que não apenas o marca como a província do orientalista como também força o leitor ocidental não-iniciado a aceitar as codificações orientalistas (como a Bibliothèque em ordem alfabética de D’Herbelot) como o verdadeiro Oriente. Em poucas palavras, a verdade torna-se uma função do julgamento culto, e não do próprio material, que com o tempo deve até mesmo a sua existência ao orientalista” (Página 77)
* “Parece ser uma falha humana comum preferir a autoridade esquemática de um texto às desorientações de encontros diretos com o humano. Será, porém, que essa falha está sempre presente, ou existirão circunstâncias que, mais que outras, tornam mais provável a prevalência da atitude textual?” (Página 102)
* “Quando o mundo se vê perante questões momentosas e geralmente importantes – que envolvem a destruição nuclear, os recursos catastroficamente escassos e as exigências humanas sem precedentes de igualdade, justiça e paridade econômica –, as caricaturas populares do Oriente são exploradas por políticos cuja fonte de abastecimento ideológico é não somente o tecnocrata subletrado, mas também o orientalista superletrado.” (Página 117)
* “O Oriente que aparece no orientalismo, portanto, é um sistema de representações enquadrado por todo um conjunto de forças que introduziram o Oriente na cultura ocidental, na consciência ocidental e, mais tarde, no império ocidental. Se esta definição do orientalismo parece mais política que outra coisa, isso acontece apenas porque acredito que o próprio orientalismo foi um produto de certas forças e atividades políticas.” (Página 209)
* “Mas, como todas as capacidades enunciativas, e os discursos que elas possibilitam, o orientalismo latente era profundamente conservador – ou seja, dedicado à própria conservação. Transmitido de uma geração a outra, era uma parte da cultura, era tanto uma linguagem sobre uma parte da realidade quanto a geometria ou a física.” (Página 228)
* “(...) a questão real é se pode de fato haver uma representação verdadeira de qualquer coisa, ou se todas as representações, porque elas são representações, implantam-se primeiramente na linguagem e depois na cultura, nas instituições e no ambiente político do representador.” (Página 277)
* “Bom. Mas como se conhecem as ‘coisas que existem’, e em que medida as ‘coisas que existem’ são constituídas pelo que conhece?” (Página 305)
* “Há uma vasta padronização do gosto na região, simbolizada não só por aparelhos transistorizados, blue jeans e Coca-Cola, mas também pelas imagens do Oriente fornecidas pelos meios de comunicação de massas americanos e consumidas sem pensar pela massa de telespectadores. O paradoxo de um árabe vendo a si mesmo como um ‘árabe’ do tipo produzido por Hollywood é apenas o mais simples resultado daquilo que estou a que estou me referindo” (Página 329)
* “Sem ‘o Oriente’ haveria estudiosos, críticos, intelectuais e seres humanos para os quais as distinções raciais, étnicas e nacionais seriam menos importantes que o empreendimento comum de promover a comunidade humana” (Página 332)
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Coruja 15/05/2019

O subtítulo desse livro explica bem do que se trata: ‘o oriente como invenção do ocidente’. A ideia aqui é que o que consideramos - na nossa cultura eurocêntrica - como oriental não é algo que depende de marcos geográficos. Em vez disso, é uma construção cultural e política, que reuniu centenas de sociedades muito diferentes num mesmo balaio, como se todas elas fossem iguais… mas iguais em sua estranheza e exotismo, na forma como se contrapõem ao ocidente dito civilizado.

Foi com esse livro que compreendi o que era apropriação cultural, e o impacto que essa apropriação tinha na construção de preconceitos.

Da minha lista de livros de crítica literária, 'Orientalismo' talvez seja o título menos acessível ao leitor leigo, visto ser um texto acadêmico, com análises bem densas. A despeito disso, não o acho excessivamente técnico. Said é palestino, ele entende do que está falando para além da teoria. Ele também trata bastante das consequências práticas que essa construção cultural tem (sim, ainda hoje) em decisões técnicas, políticas.

Trago Said para a crítica literária, mas ele faz parte de um contexto social maior, com paralelos à crise iigratória que temos vivido. Considero-o uma leitura não apenas interessante, mas extremamente importante para compreensão de vários preconceitos.


site: https://owlsroof.blogspot.com/2019/05/dez-anos-em-dez-ensaios-biblioteca.html
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Nanda 26/04/2020

Para entender a sociedade
Esse livro retrata sobre práticas preconceituosas que o Ocidente trata o Oriente. Com o conjunto de estudos que venho fazendo na faculdade, traço uma analogia ao preconceito que a América Latina sofre do mundo. Lugares que não são tratados com a sua dignidade e beleza (exceto o Brasil em questão de pontos turísticos), mas sim como o lixo do mundo.
No Oriente, os tratamos como a bizarrice, sendo que não tentamos nos aproximar culturalmente e reaver os pontos de senso comum.

Sobre a escrita em si, não foi algo que gostei, achei cansativa em vários pontos.

Leitura obrigatória para a faculdade
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Feliky 14/11/2023

O Oriente como o "outro"
Considerando o contexto atual (toda a situação da Palestina), achei pertinente voltar aqui e resenhar esse livro do Edward Said, que inclusive era de origem palestina.

Enfim, começo dizendo que sim, achei um livro difícil quando li (ano passado, acho). A escrita não é fácil e Edward tem um repertório incrivelmente vasto que eu não chego perto nem de ter uns 5%, então certas referências feitas por ele perderam o peso por eu não conhecer. Por conta disso, pretendo reler esse livro só daqui há um bom tempo quando eu julgar que meu repertório estará mais satisfatório. Não acho que isso necessariamente seja um ponto negativo do livro, mas penso que isso acaba por ditar o público alvo. Não é bem aquele tipo de releitura que qualquer um faz, gostaria de fazer e entende completamente depois de fazê-la, sabe?

O livro traz consigo algumas ideias interessantes, como a formação dos conceitos de Ocidente e Oriente (que, assim como outros conceitos da geografia, são invenções) e como eles podem ser instrumentalizados. Além disso, embora ele não dê uma resposta direta do que é orientalismo, durante a leitura fica cada vez mais nítido que é essa ideia de ver o dito Oriente como o "outro", "outro" esse que é mais exótico, mais sexualizado, mais bárbaro. Que é algo a ser visto como um lugar selvagem que ou vai te fazer ficar hostil em relação a essa selvageria toda ou vai te fazer fica encantada com o quão "exótico" é, mas de maneira deturpada. No geral, Orientalismo pega muito essa ideia de como conceitos nossos são, claro, inventados (a ideia de Oriente e Ocidente, as fronteiras, etc) e como os motivos para serem inventados e como são usados merecem pausa pra reflexão, pois não são apenas palavras, são ideias que estruturam o pensamento coletivo cada vez mais.

Além disso, apesar de ter muita página (em especial porque o livro tem pouca altura, deixando a largura ainda maior) e ser capa comum, não ficou TÃÃÃÃO ruim assim como geralmente costuma ficar quando há essa combinação. Por fim, como já disse, provavelmente vou ter que reler isso algum dia.
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Natanael Nonato 28/02/2022

Achei meio pombo
O livro trata do tema Orientalismo de uma perspectiva contrária a ele. O orientalismo é basicamente o estudo e a visão do Oriente, em especial do Oriente Médio, pelo Ocidente. Sendo assim, Said monta uma crítica aos escritores ocidentais que, em sua opinião, deturpam a realidade do Oriente.

Said em todo livro reforça que o Orientalismo é fruto do imperialismo europeu e que os orientalistas são preconceituosos em relação aos árabes nas suas ideias. Mas ele não tece qualquer comentário quanto aos muitos escritores alemães que não tinham o peso do imperialismo sobre suas costas, afinal de contas os Estados alemães não colonizaram o Oriente.

Li um pouco sobre o escritor e seu livro me pareceu hipocrisia já que através de uma vida e educação plenamente ocidentais ele tentou formular uma tese contrária aos orientalistas. Além disso, tendo sido um político palestino, fez todo o sentido seus ataques velados ao Ocidente.

A disputa entre o Ocidente e Oriente acirrou muito mais depois dos ataques de 11 de setembro e das consequências desses atos. Hoje em dia ainda é muito difícil pensar em uma convivência pacífica entre os palestinos e israelenses ou entre os americanos e os iranianos (que não são árabes!!!). Mas este livro, como o próprio Said disse no posfácio, não agregou muito ao tema dentro dos próprios países orientais, afinal das contas os árabes de uma forma geral nem se interessam sobre como são vistos pelo Ocidente. Estamos em épocas de puro ódio entre as nações...
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Betão 18/06/2009

Said procura mostrar como o Ocidente vem moldando nossa visão de Oriente, no entanto o autor faz isso de uma forma muito cansativa e repetitiva. Um ótimo livro para "Orientalistas", mas eu não gostei nem um pouco.
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Gabslareine 24/01/2021

Construções
O livro que foi escrito em 1975, mas que teve uma grande amplitude nos anos seguintes, tendo inclusive um posfácio do autor para a edição de 1995 sobre o seu sucesso e breves comentários sobre suas errôneas interpretações. Terminando de ler a obra é impossível não entender por qual motivo o livro foi publicado em inúmeras línguas e países diversos.

O autor de origem israelense, mas educado nos Estados Unidos se propõem a explicar e mostrar como uma tradição de duzentos anos criou a divisão entre Ocidente e Oriente, delegando ao oriental (aqui, tanto chinês como árabe, mas mais precisamente a população do Oriente Médio) um caráter inferior ao europeu.

Toda a construção desde o começo, do Renascimento, passando pelo século XVIII, XIX e XX é esplanada, citando os autores que mais influenciaram tais visões que infelizmente continuam, de alguma forma, a se perpetuar na contemporaneidade. Pois, essas visões acabaram norteando a forma de interação entre o Ocidente e o Oriente. O objetivo do autor era mostrar como as coisas são construídas, e construída por homens falhos, homens que foram influenciados por suas épocas e que dessa forma tiveram uma visão do outro cheia de preconceitos.

Apesar do livro falar sobre o Oriente Médio e a visão maléfica que o árabe continua tendo, muito por conta dessas construções, a grandeza da obra é justamente tratar de construções. Basta analisar a História do Brasil e perceber as construções de épocas passadas, feitas por homens e influenciadas pelo poder da época. Visões que ainda influenciam pre-conceitos contemporâneo, como o racismo velado, etc.

O autor é especialista em literatura e vale ressaltar que, não é somente na obra de historiografia ou outra disciplina das humanidades que se constroem esteriótipos marcados por uma época, mas sim a literatura em geral. Quando você entende essas construções fica fácil de perceber uma visão racista ou de outro tipo em qualquer gênero da literatura que seja, por isso é importante saber: a época da obra e quem está escrevendo. Assim você já absorveu 50% do texto.
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Isabelle 07/02/2021

Depois de quase um mês de leitura, finalmente terminei. É um livro extremamente denso e cansativo em diversas partes, parte do motivo para não ter dado 5 estrelas, sou da opinião que algumas passagens foram desnecessárias e poderia ter passado batido. De resto, a leitura é maravilhosa, abre os olhos do leitor de uma forma que poucos livros fazem; estudei um pouco sobre esse assunto na faculdade, mas nunca tinha aprofundado. O autor abre portas para uma reflexão que ainda é ignorada e pouco comentada e para quem gosta dessa área é uma leitura essencial. Recomendo.
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claudio.louzd 12/02/2021

Chatíssimo e MUITO pouco útil
O livro não é sobre o oriente, mas sobre a visão do ocidente acerca do oriente médio (árabe/muçulmano). Trata das obras ocidentais que estudaram o oriente árabe ao longo da história, mostrando o que seriam visões preconceituosas e deturpadas sobre a região.
Cansativo ao extremo, desinteressante e sem respostas: não espere que no final o autor dê o que deveria ser a visão correta, já que ele tanto critica a visão alheia.
O autor é árabe-americano, acadêmico de letras e fala de algo que não ensina ou pesquisa no cotidiano. Parece o choro de um guri mimado que não aceita a visão que os outros têm dele.
Claro que na maioria dos casos o ocidente é injusto quando trata de qualquer povo não-ocidental e isso não é privilégio dos árabes.
Para não dizer que há zero utilidade, sempre se tira algum conhecimento histórico, além de perceber o mindset de um árabe nascido e criado nos EUA. Em 1978 já tínhamos esse fenômeno do imigrante/descendente que não se sente genuinamente natural do novo país, e cheio de complexos.
Há também alguma coisa interessante no adendo acrescentado em 1994 (mas mesmo o adendo consegue ser chato). Não recomendo. Existe tanta coisa boa para ler e tão pouco tempo para se desperdiçar na vida! A não ser que seu campo de atuação exija.
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Pablo 03/05/2021

Um pouco massante, mas muito bom
O estilo de escrita do autor é um pouco cansativo, talvez um pouco erudito demais. Mas a argumentação é excelente, mostra como séculos de estudiosos, até hoje, pensam "estudar" questões do oriente enquanto não passam de destilar preconceitos construídos em cima de racismo e euro centrismo.

Infelizmente o livro foca mais no oriente médio, com poucas passagens abordando a China, Coreia, Vietnã, Taiwan e outros países do sudeste asiático (pela própria especialização do autor). Nas últimas décadas o orientalismo na economia se radicalizou a tal ponto que todos os autores asiáticos, publicando e demonstrando a direção econômica que o Estado pratica em suas sociedades, são sistematicamente ignorados pelo ocidente, que comprou a teoria neoliberal de Chicago que "fala pelo oriente" jurando de pés juntos que estes países se desenvolvem muito rapidamente por praticarem políticas neoliberais, quase "estadofóbicas". A estrutura do orientalismo demonstrada por Said é muito útil para entender este mecanismo, análogo ao que se praticava nos séculos passados.

Outro detalhe, há meia dúzia de páginas destinadas a analisar algumas declarações de Marx de 1853 sobre o modo de produção asiático, onde Marx de fato pisa no terreno do Orientalismo. Infelizmente Said não abordou as diversas colunas posteriores, de 56 e 57, onde Marx mudou de ideia, admitiu seu erro, e reviu suas teses sobre o desenvolvimento do socialismo na India e na China, a meu ver corrigindo o erro de orientalismo praticado anteriormente. Said "defende" Marx dizendo que a conclusão errada de 53 foi devido as informações erradas que ele recebeu do corpo de autores orientalistas já instalados na Europa. Talvez Said não soubesse da mudança de ideia e auto crítica de Marx, de fato muito menos difundida do que o "erro".
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maria 31/08/2021

Que livro BOM! Parece tão obvio, mas alguns pontos são tão enraizados que nem percebia antes. Foi ótimo ter essa experiência de leitura no mesmo período da (fatídica) crise no Afeganistão, porque me deu uma outra visão de tudo. Pretendo reler minhas marcações centenas e centenas de vezes
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Romeu Felix 24/02/2023

Fiz o fichamento sobre esta obra, a quem interessar:
Referência bibliográfica:
SAID, Edward W. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Resumo:
O livro é uma análise crítica e histórica da construção e representação do "Oriente" por estudiosos, artistas e políticos ocidentais, desde a época das grandes navegações até o século XX. Said argumenta que essa representação não apenas criou uma imagem distorcida e estereotipada do Oriente, mas também serviu como uma justificativa para o imperialismo e a dominação ocidental sobre os países orientais. Segundo ele, o "Orientalismo" é uma construção ideológica, baseada em uma relação desigual de poder entre o Ocidente e o Oriente, que perpetua a visão de que os ocidentais são superiores e os orientais são inferiores.

O livro está dividido em três partes. A primeira parte é uma introdução teórica, onde o autor explica o conceito de Orientalismo e as suas implicações políticas e culturais. Na segunda parte, Said faz uma análise histórica da formação do Orientalismo desde o século XVIII até o século XX, mostrando como a representação do Oriente foi utilizada para justificar a dominação e exploração ocidental sobre os países orientais. Na terceira parte, ele analisa as consequências políticas e culturais do Orientalismo no mundo contemporâneo, incluindo a Guerra do Golfo e o conflito entre Israel e Palestina.

Principais ideias:

O Orientalismo é uma construção ideológica e cultural do Ocidente, baseada em uma relação de poder desigual entre o Ocidente e o Oriente.
A representação do Oriente como um lugar exótico e misterioso serviu como uma justificativa para a dominação e exploração ocidental sobre os países orientais.
A construção do Orientalismo foi influenciada por fatores políticos, sociais, culturais e históricos, como o colonialismo, a religião, a literatura e a filosofia.
A imagem estereotipada do Oriente como um lugar primitivo e bárbaro ainda é perpetuada nos dias de hoje, e é utilizada como uma justificativa para a intervenção ocidental em países orientais.
Contribuições:
O livro de Edward Said é considerado um dos mais importantes estudos críticos sobre a representação do Oriente pelo Ocidente, e teve um grande impacto nas áreas de estudos culturais, literários e políticos. Ele contribuiu para a desconstrução da visão estereotipada e preconceituosa do Oriente, e mostrou como essa representação foi utilizada como uma ferramenta de poder e dominação. O livro também levantou questões importantes sobre a relação entre cultura, poder e política, e mostrou como a construção ideológica do Orientalismo tem consequências políticas e culturais no mundo contemporâneo.
Por: Romeu Felix Menin Junior.
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Fael 29/12/2022

A invenção do ?Oriente?
Durante a aclamada obra, Said aponta as fases do ?Orientalismo?, que seria uma erudição destinada a estudar o Oriente, essa porção ao leste do mundo, visto da Europa como centro dele.

A partir disso, Said trabalha com críticas perante aos orientalistas pretéritos, citando a forma de trabalho e as características presentes, além de situar tais obras no contexto histórico vivenciado pelos autores. A partir da invasão de Napoleão ao Egito, no final do século XVIII, teríamos uma primeira fase que seria responsável por trazer descrições desse Oriente, além dos estudos sobre as línguas, etc.

Com o avançar do tempo, o fascínio descritivo iria dando lugar às verdades constituídas, onde a leitura do orientalista perante o objeto de estudo iria criando fatos consumados, sem levar em consideração a constituição histórica daquela área geográfica classificada como Oriente.

Com essas verdades estabelecidas, a ideologia superior europeia, alinhada à política de dominação, faz do Orientalismo uma peça importante nesse tabuleiro da geopolítica mundial, onde Grã-Bretanha e França ocuparam papeis importantes pela hegemonia global e na constituição desse campo de estudos nomeado Orientalismo.

No século XX, pós Segunda Guerra Mundial, os EUA ganham notoriedade, dando continuidade ao processo já instaurado.

Said busca, em todo momento, criticar o ponto de abordagem de intelectuais que resumiram o Oriente, o Islã, os muçulmanos, etc, além de apontar a complexidade que tal região possui. O autor também deixa evidente em seu posfácio escrito 15 anos depois do lançamento, que seu livro não é uma obra anti-ocidente, ressaltando, como pode ser visto no trecho a seguir, os ?perigos? atrás dos interesses do orientalista:

?Minha objeção ao que chamei de Orientalismo não é que seja apenas o estudo antiquado de línguas, sociedades e povos orientais, mas que, como sistema de pensamento, aborde uma realidade humana heterogênea, dinâmica e complexa de um ponto de observação acriticamente essencialista; isso sugere tanto uma realidade oriental duradoura como uma essência ocidental opositora, mas não menos duradoura, que observa o Oriente de longe, e por assim dizer, de cima. Essa falsa posição esconde a mudança histórica. Ainda mais importante, de meu ponto de vista, ela esconde os interesses do orientalista?. (p. 443).
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Annelidea 01/01/2024

Desde o começo do livro dá pra perceber o quão essencial ele é pra interpretar qualquer mídia que se proponha a caracterizar "o oriente". Apesar de ser uma leitura densa, cada exemplo dado, desde livros até guerras bastante atuais, ajuda a mostrar o quanto uma narrativa completamente falsa pode se tornar a norma por um processo histórico que ainda está em curso. Como o próprio livro coloca, é necessário ser vigilante dessa suposta "erudição", que nada mais é do que o mesmo Orientalismo que nos acompanha desde o início do processo de colonização e se fortalece junto ao imperialismo. Também foi uma surpresa muito boa a abordagem direta do autor sobre a questão Palestina (em um livro de 1978 mas extremamente relevante hoje) sem medo de apontar a ação imperialista descarada dos envolvidos (Europa, Israel e principalmente EUA) fazendo conexões diretas com o próprio Orientalismo e o que viria a ser a Guerra ao Terror. Surpreendente o fato de esse livro não ser mais comentado, mas nada surpreendente as acusações de "antiocidental" que o autor se vê obrigado a comentar no posfácio da edição de 1995.
Muito feliz de ter começado ao ano com esse gigante recomendado pelo gigante canal da Broey Deschanel no seu vídeo sobre o mesmo tema. 5/5
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