Pilantrinha 08/01/2024
Coloquem o capacete, vem aí uma pedrada.
A não-monogamia é um tema que intriga há algum tempo, e nunca consegui entender muito bem como a coisa funcionava. Inicialmente eu tinha muita resistência e até um certo preconceito, a ideia de estar um relacionamento com um monte de gente já me dava calafrios e vontade de sair correndo. Mesmo assim a curiosidade persistia, eu queria entender o porquê cada vez mais pessoas assumiam esse estilo de vida.
Li diversas coisas sobre o assunto, vi pessoas falando a respeito, mas o negócio ainda não me descia. Já estava mais tranquilo com a ideia, não me parecia o absurdo inicial, mas a motivação para aquele movimento me parecia muito boba, quase fútil. Qual é, não é possível que tudo isso que chamam de revolução é só uma máscara bonitinha para poder transar com várias pessoas e ainda assim ter um "lugar para onde voltar" sem se sentir culpado.
E então conheci a Brigitte.
Com esse livro eu pude ver o movimento poliamoroso quase como o comunismo. Sim, isso mesmo, o Comunismo. Não por questões políticas -- que até flertam --, mas pela incrível falta de compreensão e compartilhamento de falsas informações a respeito do assunto. Todos têm uma opinião sobre o comunismo, mesmo que a maioria nunca tenha lido uma linha sobre o assunto. Todos também parecem saber o quão ruim é a não-monogamia, mas com base em nada. O diferente é, antes de tudo, assustador.
A Brigitte simplesmente não tem pena de nada, nem de si mesma ou do próprio movimento. Ela faz o seu relato de forma crua, nua, mostrando a coisa real. Ela desmascara a ideia do amor romântico e da monogamia, mas não na tentativa de destruir seu casamento ou fazer com que você namore 5 pessoas ao mesmo tempo. Ela fala sobre a estrutura que rege a nossa sociedade e como o entendimento sobre isso já é revolucionário.
Eu costumava pensar que essa ideia de não-monogamia era só sobre adicionar amantes nos relacionamentos, só mais uma forma de se relacionar que afrouxava um pouco algumas amarras enquanto apertava outras. E esse modelo relacional existe e é bastante difundido, mas não é sobre isso que a Brigitte fala. O poliamor discutido aqui é extremamente político, revolucionário.
Talvez as ideias aqui contidas passem batido, porque esse modelo relacional não vende tão bem quanto o socialmente "aceito". Não é esse tipo de não-monogamia que dá para colocar na bio do Instagram. Acredito que, imaginar a ideia do poliamor como uma grande suruba descontrolada seja menos nociva ao status quo da nossa sociedade do que vê-lo como uma forma legítima de amar que destrói a hierarquia de nossas relações.
Para concluir, quero deixar um trecho do livro que pode acalmar os monogâmicos, como eu, que decidirem se aventurar: "É por isso que continuo afirmando que quebrar a monogamia não consiste em adicionar amantes ou casais nesta última etapa, mas em modificar a rota, dinamitar o sistema. Se isso for feito, pouco importa que o resultado seja um casal exclusivo, ele pode não ser monogâmico".
Tire suas próprias conclusões, você não tem o que perder (não mais do que já deveria).
Bebam água, comam frutas e sejam sinceros mesmo na putaria.