Paulo Sousa 03/04/2021
Leitura 08/2021
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O mundo da escrita [2017]
Orig. The Written World
Martin Puchner (Alemanha, 1969-)
Companhia das Letras, 2019, 488p
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?A característica mais marcante da literatura sempre foi sua capacidade de projetar o discurso no espaço e no tempo? (Pág. Kindle 376).
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Martin Puchner se propôs, nesse livro, um projeto ambicioso, ainda que não foi sua a primazia para tal: reconstruir in loco alguns dos principais episódios da história, cruciais para impulsionar e desenvolver a literatura como a conhecemos. Foi a lugares onde escrita, papel e impressora foram produzidos, leu vários dos livros tidos como representantes da cultura local, analisou documentos, viu preciosíssimas primeiras edições de alguns livros consagrados, conversou com ganhadores do Nobel Prize de literatura...
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É um sortudo: pode fruir o que muito amante de livros gostaria de fazer também, ainda que em menor escala! Para mim, que milito a tanto tempo na infindável e eterna caminhada pelos livros, ter feito tantas coisas como Puchner fez, seria algo inestimável, tamanho o assombro que naturalmente nutro pela história das coisas.
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O livro de Puchner é mais um compêndio histórico sobre o desenvolvimento da escrita e de como esta pode transformar o mundo do que um tratado sobre literatura e da literatura. E isso certamente torna esta leitura ? sem dúvida uma das melhores que já fiz em livros do segmento ? uma festa. O autor, que viajou ao berço nascedouro das principais obras literárias no mundo, vagueia abordando desde a codificação dos alfabetos mais rudimentares encontrados até às epopeicas obras de Homero, de ?As mil e uma noites? até os contos da escritora japonesa Murasaki, das manifestações literárias da África Central até uma pequena e obscura ilha caribenha detentora de um ganhador do Nobel de literatura. É notável o apanhado que o autor faz sobre o difícil ofício dos copistas e escribas, da invenção do papel, da invenção e desenvolvimento dos processos de impressão, iniciados mais ou menos na Alemanha de Lutero e a forte repressão russa sobre os escritores da época, buscando seguir o caminho inverso, ?pré-Gutemberg?, impedindo escritores como a poetisa Ana Akmátova e o escritor Soljenítsin de terem seus relatos do Gulag conhecidos pelo mundo.
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Como disse, o livro em si tenciona catalogar o lento caminhar da literatura, seu poder de transformação (ainda em movimento) e as perspectivas quanto ao futuro da leitura. Sendo uma espécie de ?Sapiens? ou ?Homo Deus?, creio que o livro agradará a leitores que, como eu, buscam refúgio na literatura e a tem como um dos mais preciosos legados da raça humana. Vale!