Pedro do Contra 21/01/2022
Samuel Johnson sobre a questão central do Homem
Finalizado: "A história de Rasselas, Príncipe da Abissínia" de Samuel Johnson (1709-1784).
A estória versa sobre príncipe Rasselas, de Abissínia, que mora num vale feito para os filhos do Rei, cujas necessidades materiais e psicológicas são todas supridas de imediato.
No entanto, o príncipe logo começa a ficar melancólico em seu "cativeiro de felicidades compradas" -- uma espécie de jaula em que nada falta, somente o que mais importa: a liberdade. Rasselas começa então a demonstrar um espirito inquieto e questionador ante a sua realidade. Com a ajuda de seu tutor, o poeta Imlac, e sua irmã, Nekayah, foge do vale de Abissínia em busca do melhor modo de viver. Isto é: o caminho para felicidade plena. E desta busca decorre toda a trama.
O livro é sublime, sob diversas perspectivas, me limitarei especificamente em duas. Primeiro: a obra foi escrita em 1759, em apenas uma semana; Samuel buscava dinheiro para pagar o funeral de sua mãe. Escreveu a obra de maneira célere e interessada, todavia, quando o manuscrito chegou ao editor, verificou-se que se tratava de uma obra literária assustadoramente profunda. A agudeza filosófica do escrito era magnífica.
Segundo: escrito no mesmo ano de "Candido", de Voltaire, o itinerário de abordagem de Johnson ao tema da "possibilidade de plena felicidade" foi completamente novo. Ele não parte de um homem desenvolto e liberto de amarras sociais, que constrói um caminho filosófico inconteste a partir da sua razão; e nem explora a condição de penúria da existência a fim de se alimentar um sentimentalismo orgânico, o combustível ideológico que os ideólogos amavam.
Johnson escreve a obra a fim de explorar o núcleo do problema do homem: se o homem quer ser livre, ele provará integralmente do fracasso e das perdas inevitavelmente; todavia, se o homem renuncia a sua liberdade, renuncia também à sua razão, se renuncia à sua razão, abre mão também de sua consciência, se tornando assim um mero vegetal estranho na história.
A edição da É Realizações é boa, bilíngue, a tradução foi realizada pelo professor doutor: Marcelo Consentino. No entanto, o esmero dessa edição, fica pelas folhas azuis lindíssimas do miolo, deixando o produto final com rosto premium