spoiler visualizarAllan Kenayt 03/09/2019
o Paraízo que me parece aqui
Por onde começar? Diria: "do início, ora pois". Pois então... no romance acontecem vários inícios que embora tenham términos, parecem seguir um ciclo interminável.
O romance ao meu ver mistura tanto o histórico - imigrantes, colônias, guerras, fantasmas, ditadura, etc. - quanto uma tristeza pessoal que o autor deixa nas entrelinhas. No romance vai se tecendo histórias de personagens que em primeiro olhar são pessoal simples (trabalhadoras), mas passado algum tempo - tendo entrado na vida de cada um e cada uma - acompanhamos a busca (por vezes destrutiva) pela origem, pela história, pelos antepassados, pelo sobrenome.
Porém o romance não se limita ao cotidiano daquelas pessoas simples, no romance há uma descrição me marca muito - diria na alma da história - e essa descrição é sobre a Guerra do Paraguay (ou o massacre dos filhos dos filhos dos filhos do Paraguay). Confesso que levei dois dias pra ler esse capítulo, pois o autor tivera a delicadeza de mostrar não um soldado não vários soldados naquela guerra, mas homens chantageados, enganados, que ruíram ao saber o que de fato haviam feito. Enquanto o Conde, um louco, ria como louco. Esse capítulo (o capítulo 10) é belamente triste e demasiadamente detalhada em cada gesto, em cada lágrima.
Deixo esse trecho da página 81: "Nesta noite preferiram relembrar seus filhos, seus irmãos, seus sobrinhos e os meninos que eles mesmos haviam sido".
Digo que há um pouco de pessoalidade do autor, porque em determinada parte do romance, fica exposto uma revolta ao dizer que os soldados brasileiros poderiam ter impedido o Conde e que os próprios brasileiros sequer se lembram do ocorrido, tendo chamado o massacre de Acosta Ñu, de Batalha de Campo Grande. Essa revolta entristecida se repente também na página 163: "O Brasil jamais devolverá nossos mortos, então que fiquem com seus troféus assombrados".
No romance, dentro do cotidianos das personagens, além de sabermos - até onde nos é permitido - da vida deles e delas; temos também contato com as questões daquela época como: a ditadura, os patrões exigentes, a perseguição de cidadãos entre outras coisas. Ah sim, não sei se foi sensação minha, mas senti no romance uma menção quase escondida à aquele documento forjado chamado "Plano Cohen", pois os tais patrões de fábricas tentavam amedrontar os operários com aquela frase: "se os comunistas tomarem o poder, já era pra todos nós."
Agora, indo para um pouco dos personagens, sem estragar a experiência de quem lerá — e recomendo a leitura: são fantásticos, bem trabalhados, sente-se na pele as suas dores, as suas tragédias, seus instantes raros de alegria/felicidade, as suas necessidades em querer saber o passado, a origem (Pergunta: até onde é bom saber a origem?).
Para saberem o resto: leiam esse romance. Digo que esse livro é um livro necessários, pois por vezes faz contato com o Brasil atual.
Obs.: Confesso que fiquei com receio de ler esse romance, afinal foi o primeiro romance que tive em mãos, então ficou aquela coisa no pensamento: "Como faz?". E a resposta foi simples: "Fazendo".
Também fiquei pensando se teria de ler mais de uma vez pra captar suas falas e sensação; mas não, o livro é claro no que visa transmitir, é direto ao dizer: por isso, por vezes, uma sensação triste pela guerra, pelo passado, etc.
Enfim, recomendo demais a leitura desse romance.
Ia falar mais sobre, porém quero deixar o recheio para vocês que lerão; porque acreditem: vale muito a leitura.
Tem uma sacada que o autor faz com certas partes narradas que faz o leitor teorizar sobre de quem é a fala. Nisso, deixo com vocês a leitura, a indicação, as personagens, a história,
o abraço.