Taize @viagemliteral 08/04/2020
"Todas as crianças tem medo do escuro, eu também tenho, porque pra mim o escuro é uma venda nos olhos que coloquei para brincar e agora não posso mais tirar."
Mafalda sempre usou óculos, mas aos poucos sua visão foi ficando cada dia pior, e aos 9 anos de idade descobriu que tinha uma doença rara chamada Stargardt, essa que não havia cura. A névoa, as dúvidas e o medo só aumentavam, mas vontade de buscar independência também andava junto com a garotinha. Então, ela treinava vendada, contava passos, apurava seus outros sentidos; seu olfato ficava cada dia melhor, e os pequenos barulhinhos lhe guiavam aonde quer que ela fosse.
Apesar do escuro assustador e indesejável, Mafalda não se deixou abater, e procurava sempre a companhia de seus pais e seus amigos: Felipe, Estella, a funcionária da escola que sempre lhe incentivou a buscar o seu melhor e seu lindo e gordo gatinho Ótimo Turcaret.
"Encontre sua rosa, Mafalda. O seu essencial. Uma coisa que você pode fazer até sem os olhos."
Mas as névoa estava indo rápido demais, a contagem de seus passos de onde seus olhos começavam a enxergar a cerejeira até alcança-la, ficavam cada vez mais próximos. Talvez ela pudesse ir morar na cerejeira junto com a vovó, o Cosmo e o Gigante, talvez ela conseguisse fazer tudo isso antes que o escuro de dentro de seus olhos se fizessem presente por completo.
Quantos medos se fazem presente em nossos escuros, sejam eles patológicos ou sentimentais?! Somos humanos e cheios de incertezas, o futuro é algo duvidoso, e muitas vezes o escuro não está apenas por detrás dos nossos olhos, mas sim fazendo parceria com as nossas dúvidas e medos.
A história de Mafalda é inspiradora. Uma garotinha que antes mesmo dos 10 anos de idade teve que lidar com perdas, tanto de pessoas que amava como físicas.
Apesar do livro abordar algo forte e sensível, traz uma escrita fluída e que não nos deixa triste, pelo contrário, nos agracia com uma criança forte e determinada, que mesmo com todos os seus medos encontrou o essencial!