Resenhas - Giovanni

Pâmela Cristina 05/09/2022

O Quarto de Giovanni é daqueles livros que vc vivência sentimentos junto com o personagem. Narra a experiência do personagem com Giovanni, com crise e questionamento existenciais, um processo de aceitação de sua própria sexualidade. A ambivalência no comportamento e no pensamento do personagem nos faz refletir sobre uma sociedade hipócrita, homofobica e egoísta. Livro atual e com nuances tão profundas. Vale releitura.

Arthicus 15/09/2021

Que coisa agradável, e também dolorida, ter este meu primeiro contato com o autor James Baldwin.

Publicado originalmente em 1956, o ?O quarto de Giovanni? conta a história de David - americano em um auto exílio parisiense - que, quando sua então namorada Hella viaja para Espanha, para darem um tempo, conhece o italiano Giovanni e como ?aquela noite deu início a manhã mais triste da sua vida?.

Durante a leitura me surpreendi por ver algumas semelhanças ao ?O sol também se levanta? de Hemingway. Livro que li pouco tempo antes deste. Elementos como a vida boêmia de Paris, Espanha e seu ?lugar como aventura?, e identidade são semelhanças, mas é aí onde as coisas se separam.

O trabalho de Baldwin fala sobre sexualidade homoafetiva. Sobre bissexualidade. Sobre aceitação própria. Sobre envelhecer. E, acima disso, a escrita de gostosa de Baldwin.

Os pensamentos de David, em primeira pessoa, e as conversas dos seus personagens é algo fantástico de se ler. Há dois momentos, ainda no começo do livro, que mostram isso. A primeira vez que David e Giovanni conversam e, mais tarde, quando David conversa com o amigo Jacques. Há uma inocência, receio e vontade, tudo misturado, nestas conversas que dão o gostinho do que vem pelo resto da obra.

Na verdade, devo dizer que o próprio começo da obra já floreia bem para o tipo de leitura para qual estamos embarcando.

Nathan 04/09/2010

Giovanni
Estou estarrecido frente ao livro, nem sei o que dizer. GIOVANNI - realmente vem a se aproximar mais da realidade homossexual. Envolvendo um conflito entre o amor de um homem e de uma linda mulher. A morte dele me deixou perplexo. Acabei o livro e não tinha palavras para dizer. Mas a dúvida fez com que David perdesse a sua amada e o seu verdadeiro amor, Giovanni. Apresentando-se de maneira confusa, o diálogo entre os dois rapazes é cheio de metáforas e insinuações que muitas vezes não têm respostas. As vezes a libertação de Giovanni - de seu corpo imundo, como tratou muitas vezes no livro - venha estar com sua morte. Assim foi, mas o imaginar de David como seria esse triste acontecimento, vem de forma torduosa e sofredora. O recado da morte mesmo que rasgado, sempre voltará e deixará resquícios. O coração se tornará apertado e as palavras custarão a sair, a culpa da perda de uma vida. As vezes nem por isso, mas pelo simples fato de atender a convenções e não amar de verdade a quem merecia ou necessitava de atenção. Muitas vezes se confundindo com um amor, este idealizado e conformado pelo fato de que nunca será alcançado, mas a dor de uma vez causará mais sofrimento e dor. Há marcas que nunca passam, certamente o lamentar de David nunca passará. Difícil é sofrer por algo que não poderá adquirir para si, pois, a confusão de um momento se tornará a dificuldade do pós prazer.

Nay__ 08/08/2021

A água sempre presente
Gostei muito do tempo da narrativa, no começo o vai e vem me confundiu, mas depois que David conhece Giovanni, tudo fica lento, os diálogos tão possíveis que vi acontecendo na minha frente (ele mergulha no mar?). . Estava achando o protagonista um boy lixo com daddy issues, que precisava muito de terapia pra se haver com suas questões e não impactar tanto a vida do outro, mas acho que foi porque esqueci que esse livro foi escrito e ambientado em um época muito mais repressiva, opressiva e hipócrita. A história podia ter acontecido ontem, infelizmente.

Bem fluido, cheio de expressões em francês e ousado.

Sugiro pular a introdução do Colm Tóibín, entrega tudo de um jeito mal feito, como um trabalho de faculdade sobre o livro escrito às pressas.

Os escritos finais de Hélio Menezes e Márcio Macedo são muito bons e fazem pensar no contexto histórico e pessoal do autor e do livro. Me fez pensar se o Baldwin se colocou no personagem Giovanni.

@freitas.fff 23/11/2021

Dolorosa e triste tanto quanto necessária, essa leitura
Me ausentando de toda a discussão já gerada sobre uma obra de James Baldwin sem a presença personagens negros, o que é muito curioso por sinal, vou me ater apenas isoladamente ao livro, como sendo o meu primeiro lido do autor.

Está obra de Baldwin vai além da crítica social-moral-ideológica, passando pela psicanálise e sobretudo a autocrítica. Suas personagens não só são vítimas dos preconceitos e repressões sociais, mas ainda são vítimas de si e de suas próprias formas de auto mutilação e pré e pós conceitos. O que certamente introduz uma camada de complexidade a mais na narrativa que já conhecemos sobre sexualidade e identidade de gênero.

Enquanto tece a sua teia de cenas e sombras de um passado nebuloso, o autor não só nos expõe a luta de uma geração LGBTQIA+ contra a sociedade, mas uma ainda mais violenta, contra eles mesmos.

O sangue derramado de Giovanni segue incrustado sob as mãos todas. Culpadas, não isentas. O que o livro produz é um silêncio aterrador. Com coragem Baldwin desenvolve crítica sob crítica, vítima sob vítima de cada terror e horror contra uma massa que dantes necessitara de auto compreensão. Mas quem poderia os ajudar? Quem lhes guiaria? Oscar Wilde? Para a morte, sem dúvidas! Assim o era esse tortuoso percurso de mentiras que matam e seguem a matar, sem nunca descansar.

O romance de Baldwin é uma leitura absolutamente dolorosa e necessária. É como um grito! E ainda me assombra e há de assombrar muitas massas por onde se fizerem ouvidos. É dolorosa e é triste tanto quanto é necessária essa leitura.

maomis 03/04/2021

Não sei o que pensar. Achei extremamente poético e lindo, na mesma medida que encontrei nessas paginas muita tristeza. O quarto de Giovanni é uma experiência ímpar pra quem já teve alguma experiência homoafetiva,de modo que tudo que é friccionado nessas paginas já se fez real em algum momento da vida de um homem que se relaciona afetivamente e sexualmente como otros homens.
No geral,não levando em consideração o reconhecimento pessoal, o livro é muito bem escrito e fluído. Da gosto de ler.

Kaue 23/12/2022

Muito triste.... Infelizmente, o David não consegue se salvar, muito menos salvar os outros. Continuo achando o personagem extremamente mesquinho e infeliz, e como sempre, nega tudo que pode até o fim. Giovanni bem avisou, ele iria voltar. E voltou. Não tem o que ser feito, lutar contra a sua natureza é completamente inútil, seja como for. E ele tentou fazer isso, mas falhou miseravelmente. O livro é lindo nas suas passagens e descrições, mas eu morreria pra ler mais sobre Giovanni. Ele me parece um personagem muito mais complexo, rico e interessante que o narrador David. E o melhor: ele não se acovardou nem quando deveria. Diferente do outro, que nem foi capaz de comparecer na execução do seu antigo amado. De que adiantou tanta raiva e rancor? O fim de Giovanni significou o fim dele também. A Hella foi embora, e com isso, foi decretado o fim de todas as maneiras possíveis. Enfim, depois de um full rent, devo dizer que o livro é lindo, mas infelizmente, demora muito para se tornar interessante e belo, sem contar que soa mesquinho em diversos muitos momentos.

te amo shawn 19/07/2023

Esperava mais
Eu esperava uma coisa totalmente diferente do que foi escrita no livro, esperava um romance bonitinho entre dois homens, mas recebi uma relação confusa e, em partes, um pouco violenta. David e Giovanni me irritaram muito, eu nao gostei nem um pouco dos personagens, mas o que o livro retrata é maior e melhor que esse desgosto que eu desenvolvi pelos personagens

Claudio 19/03/2023

Uma revolução
Um livro escrito há quase 70 anos, abrindo espaço pra histórias LGBTQIA+, de forma muito honesta, com muita intensidade psicológica e personagens muito interessantes.
David, esse americano expatriado em Paris, conhece Giovanni, o dono do quarto do título, e se envolve profundamente, enquanto sua noiva está passando uma temporada na Espanha.
David enfrenta na sua cabeça todos os seus preconceitos e misoginias com as quais ele cresceu, as expectativas sociais de casar com uma mulher e fazer ?família?, se libertando mais profundamente apenas quando está dentro do Quarto.
Em paralelo aos conflitos psicológicos, a trama é envolvente com altas doses de dramaticidade.

jonathanmelo 30/05/2022

Romance primoroso
David e Giovanni são dois errantes que partilham um fardo em comum: a procura por abrigo. Se por um lado Giovanni agia como se completamente liberto de amarras morais em consequência da dor de uma vida precária, David se eximia de confessar a si mesmo que o lar pelo qual ansiava decerto não estava nos EUA, tampouco em Paris, mas no peito de um outro homem.

"Ele me fez pensar na minha casa ? talvez a casa da gente não seja um lugar, e sim simplesmente uma condição irrevogável."

Abrigo que Giovanni estava disposto a ser, esperançoso de que o amor que sentia por David lhe redimisse de todo o sofrimento vivenciado desde a sua aldeia na Itália até ali; embora este, cínico e autocentrado, resistisse em retirar a máscara da própria vulnerabilidade, algo que Giovanni podia enxergar tão facilmente, embora soubesse que jamais voltaria a ser o mesmo de antes.

"Quase não consigo descrever aquele quarto. Ele passou a ser, de certo modo, todos os quartos em que eu já havia estado, e todos os quartos em que eu vier a estar daqui em diante vão me lembrar do quarto de Giovanni."

E é por colocar em palavras todas as nuances de um sentimento atropelado pelos impasses de uma sexualidade marginal, de como é viver à espreita de si, de seu próprio desejo, que o brilhantismo da narrativa se evidencia. Acompanhamos todas as movimentações que levam ambos da excitação à loucura, à insensibilidade e resignação com objetividade e precisão. Um romance primoroso e atual.

Caroline 30/04/2021

Não consigo (pelo menos não por enquanto) organizar as diversas camadas que essa história apresenta. Logo no início do livro, na introdução, é citado um trecho de uma entrevista do autor, na qual ele diz que seu livro era "menos sobre a homossexualidade do que sobre o que acontece quando você tem tanto medo que acaba não conseguindo amar ninguém".
É uma boa síntese dessa história complexa, com personagens intensos e uma leitura crua, verdadeira.

jesca 02/10/2021

viceral
o quarto de Giovanni foi uma das leituras mais difíceis do ano pra mim. não porque a escrita é difícil, pelo contrário. mas a história é, de fato, angustiante. e é difícil ler e se relacionar com personagens tão distantes de nós em caráter e época. James Baldwin escreve sobre a dificuldade de amar, de se entregar ao outro, sobre a violência que impomos a nós mesmos quando não conseguimos aceitar o lado de nós que os outros fingem não ver e que escondemos de nós mesmos. acho que esse livro é justamente sobre isso, sobre aceitar ser quem se é, sobre se permitir a amar o outro e a si mesmo. e pensando nisso acho o livro de uma honestidade absurda e ao mesmo tempo revoltante, considerando a época em que ele se passa. enquanto os personagens humilham os outros e a si próprios, cometem erros imperdoáveis e têm conversas repulsivas (vide comentários misóginos e homofóbicos), é possível relacionar esses comportamentos aos anos 50' e as limitações dos avanços nas questões como sexualidade, classe e gênero.

é uma leitura difícil, poética e reflexiva. alguns comparam com call me by your name, mas acredito que este último é de uma beleza singular ao modo em que se é retratado o amor entre dois homens e a sua completa entrega um ao outro; e com o quarto de Giovanni, Baldwin se propõe a abordar "o que acontece quando se tem medo de amar alguém", como ele mesmo disse anos depois.

karine.viana.3762 20/06/2021

Esses livro te lembra que a vida é cruel
Uma leitura muito imersiva. Os personagens são todos complexos e eu posso dizer que já conheci muitos deles na vida real. A escrita é bem sincera e cruel, sem medo de mostrar as partes duras da vida mesmo quando há a parte bonita. Achei bem realista e ao mesmo tempo deixa a gente com aquele amargor na boca, mas de um jeito muito bem feito.
Esse livro escancara facetas sobre as violências interseccionais e embora o foco seja a homossexualidade masculina, também se mostra o lado da dor feminina na sociedade.
Achei incrível porque sujeito e sociedade se tornam conflitantes não só nos espaços públicos, mas no íntimo e por causa disso principalmente que as coisas ganham proporções tão tristes.

Juliana 25/06/2021

Como bem disso o próprio James Baldwin, ?o quarto de Giovanni não é exatamente sobre homossexualidade, é sobre o que acontece quando se tem medo de amar alguém, o que é muito mais interessante.?

Alice Olivier 24/06/2021

Formidável
O que dizer desse livro? Poético, intenso, visceral. Aplausos calorosos a essa fluidez na escrita e à extrema sensibilidade demonstrada por James Baldwin na realização desse livro verdadeiramente formidável!