Os Cus de Judas

Os Cus de Judas António Lobo Antunes




Resenhas - Os Cus de Judas


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guibre 24/03/2024

Uma noite, uma vida, várias mortes.
A leitura não é fácil. Pelo contrário, requer atenção e é recomendado algum conhecimento prévio sobre a conjuntura histórica na qual as memórias do autor estão situadas. A persistência do leitor é recompensada pela narrativa de uma vida (e de várias mortes) entremeada em acontecimentos de uma noite, que corresponde ao tempo presente. São episódios perturbadores, em que são revelados não só o horror de uma guerra, mas também o ridículo de várias crenças nacionais portuguesas e, talvez principalmente, o quanto o narrador-autor degradou-se quando teve que participar do conflito. Alguns acontecimentos induzem dúvidas sobre os limites da desumanidade e a impotência diante do cruel e absurdo. Outros mostram a fragilidade e a incerteza que permeia a existência. Um livro difícil de esquecer.
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Gustavo195 12/03/2024

Leitura Hard
Uma leitura desabitual, extremamente difícil, mas assim que se vai com o ritmo da escrita percebe-se o quanto a obra carrega as memórias e as complexidades do sujeito fragmentado produzido na guerra.
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Vanessa.Benko 26/12/2023

No fundo, claro, é a nossa própria morte que tememos na vivência da alheia e é em face dela e por ela que nos tornamos submissamente covardes.
A promessa de um mergulho profundo na complexidade humana e na história de Portugal nos anos 1970, envolta em uma narrativa de fluxo de consciência, parecia irresistível. No entanto, após a leitura de "Os cus de Judas", de António Lobo Antunes, é com pesar que concedo a este livro uma avaliação de 0,5 estrelas em 5.
Desde as primeiras páginas, tentei desesperadamente estabelecer alguma conexão com o protagonista, mas a névoa densa do fluxo de consciência tornou essa tarefa quase impossível. O narrador, desgastado pelos horrores da guerra colonial em Angola, parece incapaz de articular seus pensamentos de forma coerente. Em vez de uma imersão envolvente, enfrentei uma sucessão desconexa de pensamentos fragmentados e ininteligíveis.
Apesar de minha apreciação pelo estilo literário desafiador, a abordagem de António Lobo Antunes neste romance não conseguiu cativar minha atenção. A falta de clareza e coesão na narrativa impediu qualquer envolvimento emocional, deixando-me à deriva em um mar de palavras incoerentes.
A ambientação em um momento histórico crucial para Portugal e a exploração de temas como guerra, identidade e desilusão poderiam ter sido fascinantes, mas, infelizmente, foram obscurecidos pela opacidade da prosa. A suposta reflexão profunda sobre a condição humana ficou perdida em meio a metáforas confusas e imagens obscuras.
Ao compartilhar essa resenha, espero que entendam que, apesar do esforço para apreciar a proposta única de António Lobo Antunes, "Os cus de Judas" se revelou uma leitura entediante demais para oferecer uma experiência satisfatória. A falta de conexão com o personagem e a narrativa prejudicou a apreciação do livro, e mesmo os amantes do fluxo de consciência podem encontrar aqui um desafio além do que estão dispostos a enfrentar.
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hwatelier 19/12/2023

Uma leitura agonizante.
No começo, não dei nada pro livro. Continuei lendo por obrigação, porque precisava apresentar um seminário da faculdade, mas quanto mais eu pesquisava sobre a história e entendia o contexto em que ela estava inserida, achei magnífico. É incrível como António Lobo consegue personificar a agonia que acompanha o personagem ao longo de sua trajetória na guerra por meio de períodos longos e sufocantes, trabalhando a memória de também de maneira agônica, sempre indo a voltando. Amo como a imagem do herói lusíada e os símbolos fundadores de Portugal são revisitados aqui. A forma como o narrador-personagem experencia a morte, não só material, mas também de relacionamentos, me deixou muito pensativa. Impressionante como mesmo no fim, você termina a leitura agoniado.

Vale a pena tirar alguns dias para sair da zona de conforto e ler esta história, é algo que faz você enxergar as coisas por uma outra e interessante perspectiva.
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Leila 12/08/2023

Os Cus de Judas, do autor português António Lobo Antunes, é uma obra literária que mergulha os leitores em uma experiência única e intrigante. Publicado em 1979, o livro se destaca não apenas por sua prosa magistral, mas também por sua narrativa singular e cativante que desafia as convenções tradicionais da escrita.

A história é narrada pelo protagonista, um médico que se vê envolvido na Guerra Colonial Portuguesa, travada nas ex-colônias africanas. Através de uma narrativa não linear e fragmentada, o autor nos leva a uma jornada íntima e psicológica pela mente do personagem, explorando suas memórias, pensamentos e angústias. O título "Os Cus de Judas" é uma expressão coloquial portuguesa que significa um lugar distante e isolado, e essa metáfora é habilmente empregada pelo autor para evocar a sensação de isolamento e alienação que o protagonista experimenta em meio ao cenário de guerra.

O estilo de escrita de Lobo Antunes é desafiador, muitas vezes beirando o experimentalismo literário. Sua prosa é densa, repleta de monólogos interiores, pensamentos fragmentados e uma multiplicidade de vozes. O uso frequente de fluxo de consciência e a ausência de pontuação tradicional podem, inicialmente, desconcertar o leitor, mas também criam uma imersão profunda na mente do protagonista e na atmosfera opressiva da guerra.

O romance não busca entregar uma trama convencional, mas sim uma experiência sensorial e emocional que faz com que o leitor reflita sobre questões universais, como a identidade, a solidão, a brutalidade da guerra e a natureza efêmera da vida. A metáfora dos "cus de Judas" pode ser interpretada como uma jornada de autodescoberta e uma exploração dos limites da experiência humana.

Eu me surpreendi positivamente com a leitura, mesmo sem ter conhecido a sinopse com antecedência. Isso ilustra a capacidade do autor de prender a atenção do leitor e criar uma conexão emocional profunda por meio de sua narrativa arrojada. Ter explorado a obra sem preconceitos pode ter contribuído para essa experiência enriquecedora. Enfim, gostei muito e já quero ler outros títulos do autor.
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Biblioteca Álvaro Guerra 08/08/2023

Logo depois de voltar da guerra em Angola, o autor escreve o romance sobre suas experiências naquele país. Os Cus de Judas se tornou um enorme sucesso, vindo a ser o primeiro grande romance sobre o conflito e a independência angolanos e uma referência histórica obrigatória. Relato genial da tragédia colonial, Os Cus de Judas evidencia a impotência do ser humano diante da violência que lhe retira as rédeas e o sentido da vida.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788573025217
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Guilherme 17/01/2022

A tentativa de bestialização de um povo
Aos brasileiros, "os cus de Judas" parece um título obsceno. Ao contrário disso, o título remete às expressões populares que dão nome aos lugares remotos e distantes. Ainda assim, no livro narra-se a maior das obscenidades: a Guerra.

Tratando da Guerra Colonial em Angola, António Lobo Antunes denuncia o absurdo do sonho imperialista, do salazarismo, da tortura e da violência.

Não é um livro fácil de se ler, e muito por isso é fantástico. Na obra aparentam colidir dois mundos: o primeiro doloroso, dos traumas, das doenças e da desesperança; o segundo, o onírico e metafórico mundo da narrativa. O fluxo de consciência é tortuoso, múltiplo e polissêmico. Ao final dele, a certeza de que ao final estamos todos no mesmo mundo, na convivência insistente do real e da fantasia, e que ainda há muito por se entender.
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Marina 03/04/2021

Tão bom quanto Matadouro-Cinco
Os Cus de Judas é um livro escrito por Antonio Lobo Antunes, um dos maiores escritores portugueses contemporaneos. O título faz referência ao que, aqui no Brasil, chamaríamos de "onde Judas perdeu as botas", ou seja, um lugar longe, no fim do mundo. Mas o autor coloca um título mais chocante, e até grotesco, para ornar com o tema do qual o livro vai tratar: que é a guerra.

O Brasil tornou-se independente de Portugal há muito tempo, lá no comecinho do sec. XIX, em 1822, como todos nós brasileiros sabemos bem. Mas essa não foi a realidade de muitas outras colonias de Portugal, como a abordada neste livro. O personagem principal sai de seu berço, a cidade de Lisboa, para lutar na guerra de independencia da Angola, em Luanda. E viver frente a frente com todos os horrores de uma guerra.

O livro é narrado como fluxo da consciencia. Bebe da fonte de Matadouro-Cinco.
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Dio 27/01/2021

"A revolução se faz por dentro"
é a primeira vez que leio um romance histórico e fiquei fascinada com a capacidade do autor de ser franco, realista e crítico mesmo escrevendo num tom agonizante, ignorando o cronológico e seguindo um tempo psicológico.

a densidade dos pensamentos e quantidade exacerbada de locuções adverbiais podem tornar a leitura um pouco cansativa, mas com certeza é muito necessária para momentos de reflexão.
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Amanda 09/08/2020

4 estrelas
Primeiro é preciso contar que eu não gosto de poesias. Nunca gostei de textos em que o autor descreve em minúcias o ambiente, os personagens e, como neste caso, os sentimentos e sensações. Gosto de preencher com minha imaginação e meus sentimentos a muito da trama lida, mas resolvi, como minha mãe me sugeriu, pegar na mão do autor e me entregar ao seu cenário rico em detalhes de toda sorte e que grata surpresa tive. A obra é muito rica em descrever, principalmente, a inquietude de sua mente, as sensações e emoções afloradas em cada cena, nos emocionando em sua descrição de cenas profundas, nos divertindo em suas satíricas e irônicas observações, nos envolvendo numa crítica profunda, à ideia de nação, à ideia de política, à ideia de amor, à ideia de lar, à ideia de guerra, mesclando presente e passado em uma teia que ao mesmo tempo nos mantém sempre alerta e nos faz sentir que estamos sentados à sua frente, ouvindo-o falar, enquanto sua mente trabalha os fatos. Em resumo, a obra transborda a persona do autor e agora me pego pensando que, talvez, a poesia fale mais sobre o autor do que qualquer outra coisa e é essa identificação com a persona do autor que faz das pessoas fãs da poesia de Drummond ou de Clarice ou de Vinicius... e é, talvez por conta disto, que achei este livro poesia pura.
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Escolar 30/01/2019

Consciência nua
Todas as convenções sociais, os costumes virtuosos, a moralidade, etc. fogem como fumaça no ar e desaparecem quando o homem consciente do absurdo de estar num país estrangeiro, desconhecido, no meio de uma guerra; começa a pensar na vida. Esse simples ato desencadeia reflexões sobre como, em certos momentos da história, o ser humano é completamente descartável e impregnado de patriotismo vazio.
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Ricardo 03/01/2018

A melancolia crônica após a guerra
O livro de Lobo Antunes coincidiu com a melancolia de quem faz 40 anos, idade que eu li e aparentemente a idade do protagonista. Porém a causa da vida sem esperança, da apatia em sua vida ao país Natal é a guerra brutal na qual participou e que deixou cicatrizes permanentes em sua personalidade. A profundidade da dor, o desânimo, a ridicularização da vida cotidiana lisboense após a guerra de Angola são descritas de maneira dura. As críticas a insanidade da guerra, mantida com o único fim espúrio de sustentar um regime moribundo de contornos fascistas que levou milhares de jovens a destruir um país e retornar traumatizados dá mais razão a revolta do personagem. Permeados por lembranças de uma infância pura e ingênua onde a hipocrisia de uma família conservadora de classe média passava despercebida e que vivia em um Portugal ainda gigante por suas colônias mal sabia que sofreria seus piores abalos. Os traumas de guerra tornam seus participantes em seres incapazes de se relacionar com outros humanos seja amorosamente, em família ou mesmo entre amigos. Tudo se torna cinza e desesperançoso, o governo autoritário de Salazar que os levou a guerra, a esquerda radical que é utópica e não queria bem os ex-combatentes e a social democracia que em seus discursos burgueses compostos em salas com ar-condicionado não tinha a menor noção dos horrores do que ocorreu em Angola. Quanto a forma, o livro é denso apesar de curto e dividido em partes que coincidem com as letras do alfabeto, cada uma com 7 páginas em média. Os parágrafos intermináveis exigem fôlego, e o linguajar carregado de expressões lusitanas nos torna ainda mais complexa a leitura. Mesmo assim vale a pena, são 200 páginas que pela densidade parecem 500. O livro é ótimo e áspero como a guerra e os relacionamentos amorosos.
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Adriano.Santos 10/05/2017

Tormentos
O monólogo interior é aqui um alicerce capaz de dar conta de todo o terror e frustração do protagonista
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Rosa Santana 12/09/2016

OS CUS DE JUDAS – Um apelo ao humano que nos habita
Nesse romance de 1979, Lobo Antunes nos coloca à frente de um narrador que conta suas lembranças da guerra de Angola a uma interlocutora desprovida de voz. O monólogo é levado adiante pelo ex combatente que foi exercer a medicina dentre os mortos e feridos, no país africano. Mas, como ele mesmo diz:
"Nunca estamos onde estamos, não acha, nem sequer agora, comprimidos no espaço exíguo do elevador [...]” p. 144).
assim, a narrativa é entrecortada pela confusão espacial em que ele se encontra. Ora conta-nos do plano atual, em que se encontra com a moça; ora da experiência em Angola. Tudo isso usando um discurso fragmentado e difícil para um leitor menos “parceiro” que tem que se esforçar para perceber e diferenciar esses planos.
Ele, narrador, é um sujeito desintegrado, estilhaçado pela guerra e suas conseqüências nefastas. À interlocutora e ao leitor cabe juntar esses estilhaços e ser co-autores de uma narrativa catártica que o contador usa para compartilhar aflições e sofrimentos. Daí muitos não gostarem do livro: por que purgar assim com o e pelo outro?

.........................

"Há pouca coisa em que ainda acredito e a partir das três da manhã o futuro reduz-se às proporções angustiantes de um túnel onde se penetra mugindo a dor antiga que se não consegue sarar, antiga como a morte que dentro de nós cresce, desde a infância, o seu musgo pegajoso de febre, convidando-nos à inacção dos moribundos, mas existe também, sabe como é, essa claridade difusa, volátil, omnipresente, apaixonada, comum nos quadros de Matisse e às tardes de Lisboa, que como o pó da África atravessa as frinchas, as janelas cerradas, os intervalos moles que separam uns dos outros os botões da camisa, a parede porosa das pálpebras e a textura de vidro assassinado do silêncio, e não é impossível que a beleza inesperada de uma rapariga jovem, ao cruzar-se connosco sem nos ver no restaurante em que a cabeça da pescada nos fita do prato com órbitas de orgasmo implorativo, no ataque de súbito da franja de milagre de uma cólica de desejo e de alegria." - página 90

"Nunca estamos onde estamos, não acha, nem sequer agora,
comprimidos no espaço exíguo do elevador.” página 144.

"Acreditava-se em Deus nessa época mesmo através de uma máquina de tripé, um ser barbudo e severo, sexagenário de túnica, sandálias e risca ao meio, que geria uma empresa de mártires e de santos tão complicada como os Armazéns Grandela, distribuindo pecados, bulas, absolvições e passaportes para o Inferno por intermédio de encarregados de negócios terrestres, chamados padres, os quais transmitiam aos domingos para a direcção da firma telex em latim." - página 138
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Gentiliterária 28/07/2016

Escrever era uma forma de libertação...
A necessidade de reviver o trauma através do testemunho é uma forma de expelir a desesperança da alma dos sobreviventes. A dor de ter vivido em meio ao caos da guerra é insuperável, mas o compartilhamento dessas memórias
ameniza a desolação de quem sobreviveu a esse conflito. A volta ao lar é o sonho desses homens amargurados, porém em muitas situações, como na obra, o personagem se isola do mundo e possui o sentimento de não se adaptar a lugar nenhum.
Ademais, ao revelar tudo o que viu e vivenciou na guerra colonial, o personagem tem a esperança de cicatrizar suas feridas. O protagonista foi bem sucedido em narrar o que seria inenarrável, fazendo com que o leitor sinta as suas angustias e amarguras.
Acredita-se que a obra de António Lobo Antunes é uma biografia dos seus momentos de conflito durante a Guerra de Ultramar. As características do protagonista são as mesmas de seu criador (autor da obra). Além disso, o testemunho é uma forma dos sobreviventes reconstituírem suas vidas e se libertarem das suas feridas. Em suma, talvez “Os Cus de Judas” seja o compartilhamento da dor de Lobo Antunes durante a Independência de Angola e a única maneira de salvar sua alma de todos os conflitos que passou.
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