A cozinha pode ser comparada à linguagem: como esta, possui vocábulos (Os produtos, os ingredientes) que se organizam segundo regras de gramática (as receitas, que conferem sentido aos ingredientes, transformando-os em comida), de sintaxe (o cardápio, isto é, a ordem dos pratos) e de retórica (o comportamento dos comensais).
Como a linguagem, a cozinha contém e exprime a cultura de quem a prática; é depositária das tradições e da identidade de grupo. Mas é também o primeiro modo para entrar em contato com o outro; mais ainda que a palavra, o alimento serve de mediador entre culturas diversas, trazendo aos sistemas culinários toda sorte de invenções, cruzamentos e influências. Muitas vezes antes das influências artísticas e linguísticas – antes até da diplomacia política –, ocorre a interpenetração da culinária, com seus ingredientes, receitas e costumes na vanguarda das trocas culturais.
Neste volume, historiadores, antropólogos e sociólogos, entre os mais ilustres especialistas em história da cultura alimentar, discutem o papel da cozinha como instrumento definidor de identidade cultural e, ao mesmo tempo, como veículo e produto das trocas culturais: “Conservadoras, embora nada estáticas, as tradições alimentares e gastronômicas são extremamente sensíveis às mudanças, à imitação e às influências externas. Cada tradição é o fruto – sempre provisório – de uma série de inovações e das adaptações que essas provocaram na cultura que as acolheu.” – Afirma Massimo Montanari na introdução a esta obra.
História