Nicolas Rodeghiero 05/03/2024
A genialidade de Junji Ito
Antes de começar a resenha em si, já devo avisar que a obra em questão possui classificação indicativa acima dos dezoito anos. O mangá aborda diretamente assuntos como suicídio e traumas psicológicos, então o meu conselho é que caso você não esteja com a saúde mental em dia, evite ler tanto a resenha quanto a história. Dito isso, posso prosseguir.
Confesso que estava com um pouco de saudade de ler mangás, já que meu hábito de leitura começou a voltar aos poucos quando li alguns durante a pandemia e conheci as obras do Junji Ito. Então, como havia ganho esse de presente de um amigo no meu aniversário, acabou sendo a oportunidade perfeita. A experiência com esse volume foi bem distinta de tudo que eu já havia lido do autor, pois diferentemente das anteriores que tive acesso, essa se manteve contínua até o final, realmente contando uma história e não contos avulsos, como de costume.
Seria impossível não mencionar suas artes, que são bizarramente fascinantes, conseguindo trazer a sensação de estranheza ao leitor com assuntos que jamais conseguiríamos imaginar que uma situação de horror pudesse ser gerada a partir deles. Essa com certeza é a maior qualidade do mangaká, e aqui não foi diferente.
O nome da obra, "Black Paradox", se refere a um site onde pessoas que compartilham de desejos suicidas conseguem se encontrar para conversar, e como no caso do grupo dos quatro protagonistas, tirar suas vidas juntos. São eles: Piitan, um rapaz que após servir de modelo para o desenvolvimento de um robô idêntico a si mesmo, se sente insuficiente e pressionado a ser melhor no próprio ambiente de trabalho, tendo seu clone como adversário pessoal; Taburoh, um jovem que há alguns meses começou a enxergar seu doppelgänger o perseguindo, lhe causando medo e aflição; Marusoh, uma jovem enfermeira completamente insegura e com medo do futuro, sentindo que a qualquer momento algo horrível possa acontecer, a impedindo de viver com naturalidade; E por fim, Baratchi, uma mulher insatisfeita com sua própria imagem devido à uma deformidade em um dos lados do seu rosto, perdendo assim a vontade de viver.
Após um certo ponto da trama, onde uma pedra misteriosa que posteriormente começou a ser chamada de "paridinita" entrou na vida dos personagens principais, suas motivações e planos logo mudaram de rumo. A ganância humana começou a ser abordada do modo mais realista possível, quando as pessoas colocam o bem do próximo em risco com intuito de visar seu benefício próprio.
Depois de muitos acontecimentos bizarros e revelações no decorrer dos capítulos, a história termina de um jeito bastante inesperado, deixando o destino da humanidade com um grande ponto de interrogação devido às possíveis consequências geradas pela ambição cega dos envolvidos.
Achei a edição da JBC até que bem caprichada, depois de "Diário dos Gatos" eu estava esperando algo bem inferior, mas nessa tivemos uma evolução notável e espero que continuem melhorando ainda mais nos possíveis futuros títulos do mestre que trouxerem para o Brasil.
De modo geral, curti bastante a forma como a história foi desenvolvida e se encerrou. Para quem gosta de um horror mais estranho, Junji Ito é sem dúvidas, a melhor escolha. Mas já aviso, a leitura de qualquer uma das suas obras deve ser feita com a mente aberta, pois na maior parte do tempo os acontecimentos são bem viajados. A partir do momento em que começamos a apreciar essa característica, seus contos e histórias se tornam viciantes e sentimos vontade de conhecê-los cada vez mais.