regifreitas 28/11/2022
BLACK SILENCE (2016), de Mary Cagnin.
Cheguei a esta obra, como acho que grande maioria dos leitores chegou nos últimos dias: por conta da polêmica de plágio envolvendo a graphic novel da brasileira Mary Cagnin e a mais recente série da Netflix, 1899.
A obra de Cagnin é uma ficção científica: no ano de 2112 uma equipe de astronautas participa de uma missão pioneira ao distante planeta Adda-488, com a finalidade de verificar as chances de ele receber povoação humana futuramente. A Terra, como acontece nessas obras futuristas, encontra-se com seus dias contados por conta de alguma catástrofe iminente provocada pelo homem.
A tripulação da nave Zuhri é bem diversa: Dr. Lucas Ferraro - exobiólogo, um dos elementos mais importantes da missão por conta do seu trabalho; Comandante Neesrin Ubuntu - militar das Forças Armadas Espaciais, heroína da resistência de uma guerra que é mencionada sem qualquer outra contextualização; Fumika Yamamoto - sua função na missão não é explicitada, apenas menciona-se que ela é clone de uma brilhante cientista da época. Além desses, a tripulação é formada por Joana Finnigan e Peter, ambos sem uma história de pano de fundo, como acontece com os demais mencionados.
O traço de Cagnin é muito bonito. A construção das cenas, a variação nos ângulos e quadros é bem diversificada, estabelecendo uma sequência fluida na narrativa. Graficamente é uma obra cuidadosa e esmerada.
O mesmo não se pode dizer do enredo em si. Por exemplo: existem diversas alusões, principalmente sobre o passado dos personagens, sem qualquer contextualização. As informações são apenas jogadas, sem aprofundamento. Se esta for a obra inicial de uma série, na qual tais questões farão sentido mais à frente, tudo bem. Mas, em se tratando de um volume único, essas informações servem apenas para preencher espaço, sem qualquer finalidade narrativa. E nisso vejo um sério problema de construção.
Sopesando os pontos positivos e negativos é um trabalho que merece ser conhecido. Deve-se dar o devido valor aos artistas nacionais do gênero. E Mary Cagnin merece ter seu nome reconhecido pela qualidade do seu trabalho. E não envolto em polêmicas, como a ocorrida.